Seja em um prosaico casamento, em uma solenidade ou comemoração qualquer, lá estão eles, finamente vestidos, freqüentando os mais requintados salões, invariavelmente cumprimentados com simpatia e cerimônia pelas pessoas de bem. Os processos a que respondem, escondidos sob suas gravatas de seda; o mal que fizeram, ofuscado pelo ouro que carregam e temperado pelo cinismo com que tratam suas vítimas todos nós.
As conseqüências deste comportamento omisso, covarde e conivente, apontou-as com sabedoria Martin Luther King Jr.: nossa geração não terá lamentado tanto os crimes dos perversos quanto o estremecedor silêncio dos bondosos. E assim porque, como advertiu Edmund Burke, o único fator necessário para o triunfo do mal é os homens bons nada fazerem.
Há que se ter tolerância, decerto. Porém, é também de Burke a advertência: há um limite depois do qual a tolerância deixa de ser uma virtude. No Brasil, já passamos deste limite. Estamos diante daquele grande vácuo ao qual Zarko Petan se referiu, com fina ironia: cabeças vazias têm grande facilidade em balançar para cima e para baixo, em sinal de sim. Nossa Sociedade, ao aceitar em silêncio a impunidade dos maus, nos traz à memória Wolfgang Herbst, a acusar que adaptar-se é a força dos fracos.
A estes fracos, dedico a poesia de Dante Alighieri: os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que, em tempos de graves crises, se mantêm neutros. E a eles, finalmente, Winston Churchill: quem põe panos quentes alimenta um crocodilo, na esperança de que o animal o deixará para o fim.
Pedro Valls Feu Rosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário