Ano após ano, governo após governo, cidadãos-contribuintes, atônitos, padecem de insegurança e desproteção, corriqueira na vida dos mais pobres, mais vulneráveis, crescente entre remediados e ricos. Todos sujeitos a tudo.
E no tudo cabe assassinato, torturas, surras, costumeiros estupros – coletivos, inclusive.
Em grandes e pequenas cidades, em toda e qualquer rua, assaltos à mão armada são parte do cotidiano brasileiro. Não merecem planos de reformas, nem nada além de mimimi e blablabla da autoridade, mandantes ou paus mandados.
O século 21, previsto para ser marcado pelo conhecimento e pela tecnologia, neste primeiro terço, explode em abusos – grandes e pequenos. Não há Deus que nos acuda.
No macro e no micro, o abuso corre solto. É norma de conduta.
Abusados, milhares navegam à deriva de compaixão em barcos e botes precários, superlotados. É gente. Embora nem pareça. São humanos desesperados, arriscando o que lhes sobra de dignidade para fugir das guerras. E, talvez, sobreviver aos campos, onde são confinados, até que o poder da autoridade lhes conceda abrigo em algum canto ainda não desgraçado por armas, terror e ódios.
Lá e aqui, longe e perto, somos diariamente bombardeados, não só com armas químicas ou misseis, mas também com palavras e obras.
- Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher.
- Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem pra procriador ele serve mais.
Tudo dito, desavergonhadamente, por inominável figura pública – parlamentar federal, celerado, que, em plenário, ao vivo, em transmissão nacional, homenageou um torturador – monstro cuspido e escarrado dos tempos da ditadura.
Abusador abusado, lamenta publicamente que seus colegas gorilas, na ditadura, não tenham “terminado o serviço”. Caso chegue ao poder, terminará o serviço. Promete “matar uns 30 mil que sobraram”.
Pois, em tempo de abusos, esse indigitado vem merecendo aplausos. Recebe homenagens à sua alardeada boçalidade até de impensáveis plateias, como a do clube Hebraica, no Rio de Janeiro. A Hebraica! Que reúne associados descendentes de vítimas do Holocausto – marca registrada de abuso, crueldade e desumanidade.
Setenta anos depois, aqueles sócios da Hebraica limaram a lembrança de 11 milhões de mortos – 6 milhões de judeus, cinco milhões de “outros”, como ciganos, gays, comunistas, socialistas, anarquistas, portadores de deficiências, adversários. Gente que o desilustrado palestrante da Hebraica carioca definiria como cocô, “galinha que nunca vai dar ovo”.
Aquela plateia de filhos, netos, bisnetos de vítimas do nazi-fascismo não se lembra mais dos clubes macabros onde seus ancestrais foram reunidos, não como gente, nem como bichos, mas como escravos em quem toda a degradação foi testada. Esqueceram Auschuitz, Bergen-Belsen, Dachau, Sobidor, Teblink e seus muitos congêneres.
Sem constrangimentos, aplaudiram a intolerância. Rindo, debocharam do terror e da tragédia de seus avós, pais, primos, parentes, amigos e dos que hoje atuam para não deixar esquecer aquela barbárie e suas vítimas. Em tacada única, autorizam a repetição, legitimaram os abusos. Impuseram abuso sobre o abuso.
Como a plateia da Hebraica, dezenas de pequenos abusadores impõem – e justificam - pequenos e cotidianos abusos aos vulneráveis, aos subalternos. É o juiz que abusa da autoridade decidindo fora da lei, ou constrangendo uma das partes - a mais fraca, sempre - com ameaças veladas, particularmente em causas corriqueiras, como pensão alimentícia: “A senhora sabe que eu posso, inclusive, reduzir a pensão de seus filhos? ” Ela sabe sim que sim. Ali, ele pode tudo. Inclusive ser injusto. E abusa disso.
É o delegado – às vezes, delegada – que insiste em desencorajar a abusada de registrar o abuso. “Isso pode prejudicar muito seus filhos...” Sem dize, diz: Siga abusada!
É o chefe – às vezes, a chefe – capaz de receber subalterna, que volta da licença maternidade, indagando: “Não foi tempo demais para descansar, não? Você já não cansou de tanto descansar? ” Ele/a apoiaria a redução da licença maternidade.
A cadeia de abusos vem – e vai - do micro ao macro. Tantos e, às vezes, tão costumeiros e sutis, que quase imperceptíveis. Mas são abusos e vêm marcando o século 21. Até quando? E até onde? Quanto? São limites que só nossa indignação – e compaixão - pode demarcar.
E no tudo cabe assassinato, torturas, surras, costumeiros estupros – coletivos, inclusive.
Em grandes e pequenas cidades, em toda e qualquer rua, assaltos à mão armada são parte do cotidiano brasileiro. Não merecem planos de reformas, nem nada além de mimimi e blablabla da autoridade, mandantes ou paus mandados.
O século 21, previsto para ser marcado pelo conhecimento e pela tecnologia, neste primeiro terço, explode em abusos – grandes e pequenos. Não há Deus que nos acuda.
No macro e no micro, o abuso corre solto. É norma de conduta.
Abusados, milhares navegam à deriva de compaixão em barcos e botes precários, superlotados. É gente. Embora nem pareça. São humanos desesperados, arriscando o que lhes sobra de dignidade para fugir das guerras. E, talvez, sobreviver aos campos, onde são confinados, até que o poder da autoridade lhes conceda abrigo em algum canto ainda não desgraçado por armas, terror e ódios.
Lá e aqui, longe e perto, somos diariamente bombardeados, não só com armas químicas ou misseis, mas também com palavras e obras.
- Eu tenho 5 filhos. Foram 4 homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher.
- Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem pra procriador ele serve mais.
Tudo dito, desavergonhadamente, por inominável figura pública – parlamentar federal, celerado, que, em plenário, ao vivo, em transmissão nacional, homenageou um torturador – monstro cuspido e escarrado dos tempos da ditadura.
Abusador abusado, lamenta publicamente que seus colegas gorilas, na ditadura, não tenham “terminado o serviço”. Caso chegue ao poder, terminará o serviço. Promete “matar uns 30 mil que sobraram”.
Pois, em tempo de abusos, esse indigitado vem merecendo aplausos. Recebe homenagens à sua alardeada boçalidade até de impensáveis plateias, como a do clube Hebraica, no Rio de Janeiro. A Hebraica! Que reúne associados descendentes de vítimas do Holocausto – marca registrada de abuso, crueldade e desumanidade.
Setenta anos depois, aqueles sócios da Hebraica limaram a lembrança de 11 milhões de mortos – 6 milhões de judeus, cinco milhões de “outros”, como ciganos, gays, comunistas, socialistas, anarquistas, portadores de deficiências, adversários. Gente que o desilustrado palestrante da Hebraica carioca definiria como cocô, “galinha que nunca vai dar ovo”.
Aquela plateia de filhos, netos, bisnetos de vítimas do nazi-fascismo não se lembra mais dos clubes macabros onde seus ancestrais foram reunidos, não como gente, nem como bichos, mas como escravos em quem toda a degradação foi testada. Esqueceram Auschuitz, Bergen-Belsen, Dachau, Sobidor, Teblink e seus muitos congêneres.
Sem constrangimentos, aplaudiram a intolerância. Rindo, debocharam do terror e da tragédia de seus avós, pais, primos, parentes, amigos e dos que hoje atuam para não deixar esquecer aquela barbárie e suas vítimas. Em tacada única, autorizam a repetição, legitimaram os abusos. Impuseram abuso sobre o abuso.
Como a plateia da Hebraica, dezenas de pequenos abusadores impõem – e justificam - pequenos e cotidianos abusos aos vulneráveis, aos subalternos. É o juiz que abusa da autoridade decidindo fora da lei, ou constrangendo uma das partes - a mais fraca, sempre - com ameaças veladas, particularmente em causas corriqueiras, como pensão alimentícia: “A senhora sabe que eu posso, inclusive, reduzir a pensão de seus filhos? ” Ela sabe sim que sim. Ali, ele pode tudo. Inclusive ser injusto. E abusa disso.
É o delegado – às vezes, delegada – que insiste em desencorajar a abusada de registrar o abuso. “Isso pode prejudicar muito seus filhos...” Sem dize, diz: Siga abusada!
É o chefe – às vezes, a chefe – capaz de receber subalterna, que volta da licença maternidade, indagando: “Não foi tempo demais para descansar, não? Você já não cansou de tanto descansar? ” Ele/a apoiaria a redução da licença maternidade.
A cadeia de abusos vem – e vai - do micro ao macro. Tantos e, às vezes, tão costumeiros e sutis, que quase imperceptíveis. Mas são abusos e vêm marcando o século 21. Até quando? E até onde? Quanto? São limites que só nossa indignação – e compaixão - pode demarcar.
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