terça-feira, 11 de abril de 2017

Delirante, Temer ameaça a base aliada para aprovar reforma da Previdência

O presidente Michel Temer caiu na própria armadilha que preparou. Fez uma releitura equivocada de Nicolau Maquiavel e resolveu adotar uma estratégia verdadeiramente suicida. Em sua obra mais conhecida, “O Príncipe”, o genial historiador, poeta, diplomata e músico florentino recomendou que o governante fizesse o mal de uma vez só, mas bem, aos pouquinhos. Mas de 500 anos depois, Temer resolveu fazer exatamente o contrário. Anunciou a reforma da Previdência como um imutável saco de maldades, a ser concretizado aos poucos. É claro que não poderia dar certo.


Às vésperas da derrota, até os garçons da Câmara sabem que a reforma não passará, Temer entra em desespero e resolve assumir pessoalmente as negociações diretas com os deputados, mais um erro absurdo que o Príncipe jamais cometeria, porque vulgariza a indispensável majestade do cargo.

Segundo a mais recente pesquisa do Estadão, o placar está em 272 contrários (mais do que maioria absoluta) e apenas 99 favoráveis, entre os quais praticamente não há que aceite a proposta original do governo, que já está sendo mitigada.

No afã de reverter a tendência da votação, Temer convocou uma reunião nesta terça-feira (dia 11), com os deputados tidos como governistas e que integram a Comissão Especial que discute o tema, na esperança de convencê-los a apoiar a reforma.

O mais curioso é que Planalto adota essas estratégias equivocadas e se encarrega de vazá-las em off à imprensa. A própria Assessoria de Imprensa espalhou informações de que os principais pedidos dos aliados já foram atendidos e, a partir de agora, críticas à reforma da Previdência serão vistas como gestos de oposição ao governo.
Em tradução simultânea, Temer está ameaçando os parlamentares, o que significa entrar novamente em rota de colisão com as teorias de Maquiavel, porque esse tipo de “negociação” não pode ser divulgado.

Os deputados precisam de votos. Sabem que apoiar maldades contra o trabalhador pode lhes ser fatal. Já aprovaram equivocadamente a terceirização irrestrita e estão arrependidos, porque vai reduzir salários e afetar ainda mais a receita do INSS.

Perguntar não ofende, diria Agildo Ribeiro. O ministro Celso de Mello, do Supremo, deu prazo de dez dias para a Câmara e o Governo exibirem os cálculos atuariais que justificariam a reforma. Já se passaram 40 dias e não saiu nada na imprensa. Será que apresentaram os dados na encolha, como se dizia antigamente? A verdade é que esses dados não existem, o governo quer aprovar a reforma no peito, com um mínimo de debate, e o ministro Celso de Mello exigiu, mas não cobrou, e vai deixar passar em brancas nuvens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário