sexta-feira, 20 de maio de 2016

Cruzando a tormenta

Aqui na Pauliceia desvairada de Mário de Andrade e dilacerada (apud Mário Chamie) – há mários que vêm para o bem, diria o segundo que foi primeiro, pequeno homem e imenso poeta -, o céu não está para brigadeiro nem pra condor, devido a um mar impróprio para a migração de cardumes, isso por culpa de ondas muito crispadas a produzirem frio na terra, nuvens molhando nossa cabeça e ventos moderados, mas ainda assim capazes de abater árvores podres. Com cabelos molhados, a cabeça põe-se a pensar e aí aparecem pensamentos aparentemente próprios pra compartilhar, pelo menos na visão deste autor imodesto. Ainda meio dormido, acabei de comentar na Rádio Estadão que o Parlamentério de Michel Miguel tem duas bandas. Uma, sã, é composta por duas pastas que o Parlamento não quis contaminar, por saber que o buraco é muito mais embaixo e que não tem engenho nem cacife popular para enfrentar e resolver. Refiro-me à Fazenda de Meirelles, cuja missão é deter a sangria de recursos com o garrote dos ajustes. E ao Itamaraty de Serra para garimpar dinheiro no lado de lá do Atlântico Sul. Independentes, ambos dão sinais de que podem mesmo se encarregar da reconstrução e da rearrumação geral da República destrambelhada, desmantelada e desmazelada, mas só depois de evitar que o País continue afundando e a Nação, coitada, empobrecendo. A crise é tal que o crime organizado do Congresso não ambicionou justamente os dois de que a retirada do pântano da crise aguda mais depende. Deo gratias, diria Padre Carlos, meu professor de Latim no seminário dos redentoristas de Bodocongó, em Campina Grande. A banda podre do governo provisório, de que, enfim, podemos dispor, é composta pelos ministros comprometidos na Lava Jato e pelo líder na Câmara, puxado direto do bolso da algibeira do Cara de Cunha. Sem falar no secretário da Cultura, importado da mais desastrada administração municipal do País, a do tal Paes do Rio de janeiro, fevereiro e maio, comandada pelo construtor de ciclovia suspensa sobre a ressaca surpreendente (mesmo ocorrendo há milênios) e sempre assessorado pelo inveterado demolidor de maxilares femininos. Deus inspire Meirelles a mostrar didaticamente à população, assolada por 14 anos de cretinice ideológica, a ter uma ideia exata e necessária das dimensões do rombo no cofre das viúvas, ai, meu Deus. E ao vampiro anêmico compete ao Senhor indicar-lhe o caminho das pedras preciosas de além do Atlântico Sul para podermos caminhar sobre as ondas até o outro lado do mar das tormentas. Deus ilumine dom Miguel e nos valha, sempre que necessário for. Assim seja! E se for mesmo, aleluia, carne no prato e farinha na cuia.
José Nêumanne

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