A reunião de autocrítica do PT nessa terça, coordenada pelo presidente Rui Falcão, decidiu que o partido está “contaminado”. E que ficou “refém” dos aliados. A culpa é sempre dos outros. O partido, que um dia foi símbolo da ética, se considera inocente. De tudo. Melhor seria só pedir desculpas, amigo leitor. Mas não vou discutir isso. Me preocupa é que voltou a circular, nela, um tema velho, equivocado, autoritário, como o do controle de mídia. Talvez porque, na visão da companheirada, caso tivesse o governo tido a coragem (digamos assim) de ir mais longe, e o impeachment não teria sido sacramentado. É o fim.
Claro que a imprensa não é neutra. Nem se pretende isso. Algum tempo faz participei, em São Paulo, de seminário junto com o jornalista Clóvis Rossi. E chegamos à conclusão de que os meios de comunicação de então viviam momentos de normalidade como exceção e de equilíbrio como alienação. Ao mesmo tempo sendo razão e sentimento, utopia e realidade, Apolo e Dionísio, Florestan e Eusebius, Quixote, Sancho e todas as dualidades clássicas da alma humana. Hoje, não se mostra muito diferente. Em qualquer parte do vasto e insensato mundo.
Ocorre que, passado algum tempo, vemos que a imprensa também é, crescentemente, um ator importante na democracia. Especialmente a brasileira. Sobretudo quando temos distâncias grandes entre o futuro prometido a quem sobrevive, Deus sabe como, e as promessas vãs desse futuro imaginário. Entre a previsibilidade do discurso oficial do poder e as inconstâncias do mundo real.
Entre a ilusão e o desemprego, o sonho e a fome, a fé e a desesperança. Produzindo o que Karin Thomas denomina “ilusão da realidade ou realidade da ilusão”. Problema, para quem anda fora da linha, é que já não dá para enganar o povo por muito tempo. Apenas isso. Problema grande.
No mundo novo da informação com múltiplas fontes, não dá mais. Essa é a novidade. Confirmando o paradoxo de Toffler, hesitando sempre entre a universalização e a tribalização. A Suprema Corte americana, com a doutrina de free speech, já confirmou que “a maior disseminação de fontes diversas e antagônicas é essencial ao bem público”. Levando o justice Hugo Black a declarar em 1945, no case Associated Press vs. United States, que “a mais ampla disseminação de informação possível é condição para uma sociedade livre”. Para nosso bem, senhores, o futuro imaginado já chegou. É hoje.
Voltar a pretender controle da mídia é (quase) inacreditável. Sobretudo em tempos de corrupção endêmica. Na verdade, em qualquer tempo. Porque uma tese assim tem, como propósito, mais que tudo proteger os poderosos. Quem acha que roubar para partidos políticos não é roubar. Quem bota grana pública no bolso. Quem lhes passa essa grana. Quem não está dando a mínima para nossa indignação. Seriam eles os grandes beneficiários dessa trama, leitor amigo. Pelo menos isso deveria ter aprendido, a companheirada. Caso estivesse mesmo interessada em não repetir, no futuro, os erros do passado recente. Compreendendo, enfim, que controle de mídia é censura. Simples assim. E que uma imprensa verdadeiramente livre é o melhor instrumento da democracia.
José Paulo Cavalcanti Filho
Nenhum comentário:
Postar um comentário