quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Ventania de neurônios

Gregório era um doido manso, pobre feito Jó, que dormia dentro de um forno abandonado de cozinhar adobe. De suas várias manias, uma era guardar vento dentro de uma pequena caixa de papelão, que ele tinha o cuidado de abrir uma vez por dia para guardar vento fresco. Gregório era puro de entendimento e nem sequer sabia a diferença entre bondade e ruindade. Às vezes, manifestava a vontade de “avuar num carro do céu”. Nunca achei que fosse doido de jogar pedra em avião, mas, um dia, ele me segredou que havia jogado pedra num ninho de passarinhos porque o gorjeio deles ao alvorecer do dia não o deixava dormir.
Gregório era pobre de natureza e não sabia nada da vida dos outros ou de política, dela aproveitando apenas os foguetes lançados nos cordões dos puxa-sacos. O córrego que passava perto da olaria era seu marcador de tempo... Arrependido de ter jogado pedra em ninho de passarinho, após saber que canários são mensageiros da paz e da beleza do mundo, às vezes manifestava medo do castigo de Deus: Gregório era temente a Deus. Muito antigamente isso era comum. Não era doido, talvez um filósofo abestado do cotidiano que não sabia que era, simplesmente, uma pessoa desentendida do mundo.

Lembrei-me de Gregório e de suas ideias ao ouvir um trecho de entrevista coletiva concedida por Dona Dilma em sua passagem pela ONU, que me fez chorar de saudade de um tempo que valeu a pena ter vivido – tempo sem PT, Petrobras e seus ladrões e outras maldades próprias de gente ruim, que falam com o vento que ventava em Gregório: “Até agora, a energia hidrelétrica é a mais barata, em termos do que ela dura com a manutenção e também pelo fato de a água ser gratuita e de a gente poder estocar. O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de, na eólica, estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso? Hoje nós usamos as linhas de transmissão, você joga de lá para cá, de lá para lá, para poder capturar isso, mas, se tiver uma tecnologia desenvolvida nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro”.

E, depois dessa ode aos furiosos, fico pensando sobre irrealidades deste mundo cão, onde os homens se contendem pelas protuberâncias conexas das excentricidades congêneres da apologética, que, silontrando (porque sou um silo vazio de esperanças) a insipidez patológica das homogeneidades mórbidas e farpantes, vêm engavelar os insignes caracoides mentores das obrevidências, nos epídotos escalenos de filisteus e trogloditas que enviperam genetrizes macropétalas de púlcares desnalgados e exauríveis que bacorejam páramos e tripétalos de lucidez sem nexo.

Não consigo entender o porquê de Gregório ter sido, sem saber que era. E, muito menos, de Dona Dilma ser, sem nunca ter sido.

Gosto de brincar com letras pra fazer palavras...

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