Não faltaram alertas, mas a presidente e sua equipe continuaram a viver em um universo próprio, vendendo uma imagem de um Brasil inexistente e creditando a ela e aos seus, o dom da infalibilidade.
De repente e meio contrariada, Dilma dá o braço a torcer e admite que durante a campanha eleitoral errou na avaliação da crise econômica, demorando a perceber sua gravidade.
Aqui surge um primeiro problema: a letargia do seu governo. Afinal, como explicar a nós, simples mortais, que só agora Dilma descobriu que um ministério mastodôntico, com 39 cadeiras, é um prêmio à ineficácia?
Mesmo desconsiderando a demora da presidente para enxergar o que todo mundo já via, resta a questão principal: os brasileiros podem respirar aliviados porque, finalmente, a primeira mandatária do país teria caído na real?
Óbvio que não. Como deixou claro em sua entrevista aos três principais jornais do país, a presidente continua a atribuir ao fator externo, à queda das commodities, a causa da crise. Não há, note-se, a mais leve referência ao desastre da “nova matriz econômica” adotada em seu primeiro mandato.
A crise, no entendimento presidencial, é culpa dos Estados Unidos, da União Europeia e, agora, da China. O máximo de erro que a presidente admitiu foi o de não ter percebido que os tempos da “bolha das commodities” já tinham passado e só ela, debruçada na janela, não viu.
Não viu e não ouviu. Nem as críticas quase unânimes dos analistas econômicos nem o seu ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vive se queixando pelos quatro cantos de ter, por diversas vezes, chamado a atenção da presidente sobre a necessidade de reajustar os preços da gasolina e da energia, de conter os gastos públicos. Mas ela simplesmente fazia ouvidos de mercador.
O primeiro dever de um governante é enxergar a realidade tal qual ela é. Só assim poderá agir para modificá-la. Dilma poderia ter economizado tempo e milhares de reais dos brasileiros.
Deveria ter observado o crescimento de moradores de ruas, de vendedores ambulantes em semáforos e das novas favelas que surgem a cada dia. Bastaria uma passadinha na feira, em um supermercado; andar pelas ruas e ver dezenas de pequenos negócios dando lugar a placas de aluga-se.
Há tempos o Brasil paga o preço da ficha que só agora Dilma admite que caiu.
Se é que caiu mesmo.
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