quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O que pode estar escondido sob a crise econômica do Brasil


O Brasil vive uma crise grave que, segundo diversos analistas, é mais política do que econômica. Por isso mesmo é mais difícil de resolver, embora o país seja rico em recursos naturais, matérias-primas e capacidade criativa. E não está quebrado como a Grécia e a Venezuela.

O problema é sobretudo político. As pessoas comuns sabem disso. Deixaram isso claro em suas últimas manifestações, quando soaram mais os gritos contra os políticos e seus crimes de corrupção que aqueles contra a inflação e o desemprego – ainda que esses dois fantasmas fiquem mais assustadores a cada semana.
O que não funciona e parece sem solução é o emaranhamento político num labirinto que parece sem saída, com atores medíocres, mais burocratas que estadistas, que não conseguem recitar os grandes dramas e parecem conformar-se com os resultados de opereta, que mal se encaixam na democracia consolidada e moderna de um país continental como o Brasil.

Existem muitas explicações para essa dificuldade que o país tem de conjugar a política exercida por seus profissionais com o desenvolvimento de uma economia com grandes possibilidades e capacidades.

Talvez a explicação menos considerada, em cujo seio estão muitas dessas dificuldades onde os políticos se afogam e que atrasa a recuperação econômica, seja a tentação latente de sacralizá-los ao mesmo tempo em que lhes é concedida a graça da impunidade, como se deixassem de ser cidadãos como os demais.

Se algo deveria diferenciar as democracias modernas dos antigos regimes totalitários é ter-se livrado do perigo dos messianismos, sejam ideológicos ou ideológicos.

O Brasil não está vivendo os tempos bíblicos, em que foi necessário um Moisés para libertar o seu povo da escravidão do Egito. Tampouco vive os tempos das teocracias da Idade Média, quando os reis governavam em nome de Deus – com quem não é possível discutir, só obedecer.

A modernidade é incompatível com dogmas políticos. Os governantes, nas democracias, não são ungidos por Deus e devem responder apenas ao imperativo da Constituição e à vontade de quem os elege livremente. E são proibidos de mentir.

Quanto mais perfeita é uma democracia, menos brilho têm, por exemplo, os seus representantes – que em muitos casos chegam a se confundir nas ruas com as pessoas comuns, sem privilégios ostensivos. Essas democracias maduras não precisam de heróis, nem de messias salvadores da Pátria, nem tampouco de pais ou mães dos pobres.

Deles é exigida somente a capacidade de governar com acerto e justiça, levando em conta sempre, na hora de repartir o orçamento, as necessidades mais urgentes, como a de legislar para reduzir as desigualdades sociais e criar novas possibilidades de crescimento do país.

Pode parecer simples, mas na prática as coisas não são assim tão fáceis. Os que chegam ao poder se esquecem de que não foram colocados no trono por um desígnio divino, e sim pela força do voto popular. Inclusive nos países com Constituições democráticas existe de fato a tentação, alimentada às vezes pela própria sociedade, de sacralizar o poder.

Certos messianismos continuam vivos em vários países da América Latina, com sua nefasta carga antidemocrática e até mesmo ditatorial. Uma mistura de messianismo ideológico e fundamentalismo religioso, fomentado pelas igrejas evangélicas, impede o desenvolvimento de democracias modernas e participativas.

Quando os governantes são divinizados, transformam-se também em indispensáveis e insubstituíveis até o ponto em que qualquer iniciativa de mudança política é vista como diabólica e contra os pobres.

No Brasil, um país com uma Constituição democrática e separação entre a Igreja e o Estado, continua viva a tentação de querer levar Deus até o Congresso ou até os bancos da Justiça, sacralizando a vida pública e com ela seus governantes, embora sejam depois denegridos.

Há até quem defenda hoje no Congresso a inclusão, na Constituição, de que o poder vem de Deus, não do povo. E alguns parlamentares evangélicos profetizam que é vontade expressa de Deus que algum deles chegue um dia à Presidência da República, para governar mais com a Bíblia que com a Constituição.

Somente quando a política se limita à arte de governar com capacidade e ética, sem exageros nem tentações messiânicas, pode-se falar em democracia.

Não existem políticos ungidos por Deus, insubstituíveis e eternos.

O poder deles é temporário. Só o da sociedade é permanente e inapelável. Eles estão a seu serviço, não o contrário.

Ignorar isso é abrir a porta a todo tipo de instabilidade que desemboca, inexoravelmente, em crises econômicas e irritação popular.

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