quarta-feira, 26 de agosto de 2015

No país de faz de conta da presidente da República


Enquanto a crise econômica sobe mais um degrau a cada dia, a presidente Dilma Rousseff mantém distância prudente dos seus efeitos atravessando o país de uma ponta à outra dentro do seu mundinho de faz de conta.

Em Cantaduva, interior de São Paulo, ela entregou, ontem, 1.237 unidades do programa Minha Casa Minha Vida, uma das poucas realizações bem-sucedidas do seu governo. E para não ser incomodada, passou longe do centro da cidade.

Ali, cerca de 500 pessoas protestaram contra a visita dela pondo panos pretos nas janelas e fechando o comércio por meia hora. “Eu quero dizer que vamos superar esse momento de dificuldade”, proclamou Dilma durante a solenidade de entrega das casas.

Ela estava entre autoridades de sua comitiva e do governo de São Paulo, e diante de uma plateia amiga montada para aplaudi-la. O ato no conjunto habitacional foi blindado. O bairro ficou todo cercado para evitar a presença de eventuais manifestantes.

Os contemplados com casas e seus acompanhantes se valeram de ônibus especiais para chegar ao local da solenidade. Todos foram submetidos a detectores de metais. Não carregavam armas nem quaisquer artefatos que pudessem pôr a presidente em risco.

A verdade e a maquiagem
Quatro casas haviam passado por uma maquiagem nos últimos dois dias para que Dilma as visitasse e posasse para fotos – e somente nelas. Foram pintadas e ganharam jardins com flores plantados às pressas, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Dilma parecia satisfeita. Antes havia concedido entrevistas a duas emissoras de rádio de cidades vizinhas de Cantaduva sem que seus entrevistadores a tivessem aborrecido com perguntas embaraçosas. Foram entrevistas amenas, encomendadas, digamos assim.

A presidente mais impopular da história do país pode repetir afirmações fantasiosas do tipo:

- Não tenho como garantir que a situação em 2016 será maravilhosa. Muito provavelmente não será. Mas também não será a dificuldade extrema que muitos pintam.

(Dilma sabe que a situação não será nem remotamente maravilhosa. Mas ao fazer questão de dizer isso, tenta sugerir que a situação poderá ser boa. Ou razoável. Quando de fato será ruim.)

- Vamos continuar a ter dificuldades, até porque não sabemos como o mercado internacional vai se comportar.

(A menção ao “mercado internacional” é para reforçar sua pregação de que ele é culpado pela crise que atinge o Brasil – e não o governo dela.)

- Acredito que é sempre assim: as pessoas querem que as coisas sejam imediatamente resolvidas. É compreensível, mas nem sempre ocorre assim, nem na vida da gente.

(Aqui, uma crítica velada aos que esperam uma solução rápida para a crise. Ora, eles acreditaram no discurso de campanha de Dilma de que nada ocorreria de ruim – pelo contrário.)

- Nossa ideia é que dificuldades sejam enfrentadas o mais rápido possível. Mas quanto mais gente estiver torcendo pro “quanto pior melhor”, mais longa será essa travessia.

(Indireta para a oposição, a quem Dilma acusa de torcer pelo pior.)

De volta a Brasília no final da tarde, Dilma reencontrou-se com o mundo real. Para seu desgosto.

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