segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Corrupção, impunidade e pobreza


Corrupção sempre prejudica os mais pobres de maneira desproporcional
Continuando o que se tornou um costume, o Governo argentino redobrou sua pressão sobre os juízes. No enésimo episódio desse tipo, atacou o Juiz Federal Claudio Bonadío, responsável por um dos casos que mais interessa à família presidencial: os hotéis do Sul. Com uma desculpa fraca, usou todo seu poder no Conselho da Magistratura para exumar velhos casos polêmicos e, na falta de votos para destituí-lo, cortou 30% de seu salário.

As provas sobra a corrupção sistêmica do Governo kirchnerista são indubitáveis e prometem tempos duros para seus funcionários. Mas a questão tem muitos outros lados, além dos morais e institucionais. Um dos mais condenáveis é o prejuízo direto que a corrupção causa na vida dos pobres. O caso emblemático é do ex-secretário de Transporte, Ricardo Jaime, que por sua conivência direta com empresários os quais devia controlar, aparece como responsável por 52 mortes no acidente da Estação de Once. Trens desconjuntados – apesar de subsídios milionários – causaram esse e outros acidentes mortais.

Mas até esse terrível episódio, os mais pobres que usam esses serviços perderam milhões de horas de sua vida viajando em condições inumanas. Basta pensar quantas horas de convivência com os filhos evaporaram por andar em um sistema injusto no qual um Governo pseudo-progressista não investiu dinheiro ou poder para assegurar condições mais humanas de deslocamento.

Existem inúmeras evidências que demonstram qual é o impacto do transporte ruim sobre a vida das famílias e, portanto, sobre as necessidades de afeto cotidiano de seus filhos. No lugar de escutar essas evidências, o apetite pelo dinheiro sujo levou Jaime e seus ainda desconhecidos parceiros políticos a permitir que tudo fosse piorando. As periferias das grandes cidades estão cheias de moradias inabitáveis, ruas intransitáveis e serviços públicos que não funcionam, nas quais não é difícil ver a mão da corrupção prejudicando os excluídos.

Mas a outra dimensão desse absurdo, é a impossibilidade absoluta de exercer controles judiciais sobre a forma como os bens públicos são administrados. Na Argentina não existe nenhum programa social cujo impacto seja avaliado com métodos rigorosos; as prestações de contas ao Congresso são inexistentes e o esbanjamento é a norma. Um caso que passará para a história e o das Aerolíneas Argentinas, a empresa nacional que bate todos os recordes de má administração e consequente esbanjamento de recursos escassos. Um comunicado recente da Auditoria Geral da Nação mostrou perdas anuais próximas de 100 milhões de dólares (259,5 milhões de reais). Com essa cifra poderiam ser construídas 250 escolas de última geração ou hospitais nas zonas nas quais a mortalidade infantil triplica a média nacional. São dilapidados fundos que mudariam a vida dos pobres para que os setores de classe média e alta sejam beneficiados. Esse é o “progressismo” do governo Kirchner.

Nenhum comentário:

Postar um comentário