Corrupção sempre prejudica os mais pobres de maneira desproporcional
Continuando o que se tornou um costume, o Governo argentino
redobrou sua pressão sobre os juízes. No enésimo episódio desse tipo, atacou o
Juiz Federal Claudio Bonadío, responsável por um dos casos que mais interessa à
família presidencial: os hotéis do Sul. Com uma desculpa fraca, usou todo seu
poder no Conselho da Magistratura para exumar velhos casos polêmicos e, na
falta de votos para destituí-lo, cortou 30% de seu salário.
As provas sobra a corrupção sistêmica do Governo
kirchnerista são indubitáveis e prometem tempos duros para seus funcionários.
Mas a questão tem muitos outros lados, além dos morais e institucionais. Um dos
mais condenáveis é o prejuízo direto que a corrupção causa na vida dos pobres.
O caso emblemático é do ex-secretário de Transporte, Ricardo Jaime, que por sua
conivência direta com empresários os quais devia controlar, aparece como
responsável por 52 mortes no acidente da Estação de Once. Trens desconjuntados
– apesar de subsídios milionários – causaram esse e outros acidentes mortais.
Mas até esse terrível episódio, os mais pobres que usam
esses serviços perderam milhões de horas de sua vida viajando em condições
inumanas. Basta pensar quantas horas de convivência com os filhos evaporaram
por andar em um sistema injusto no qual um Governo pseudo-progressista não
investiu dinheiro ou poder para assegurar condições mais humanas de
deslocamento.
Existem inúmeras evidências que demonstram qual é o impacto
do transporte ruim sobre a vida das famílias e, portanto, sobre as necessidades
de afeto cotidiano de seus filhos. No lugar de escutar essas evidências, o
apetite pelo dinheiro sujo levou Jaime e seus ainda desconhecidos parceiros políticos
a permitir que tudo fosse piorando. As periferias das grandes cidades estão
cheias de moradias inabitáveis, ruas intransitáveis e serviços públicos que não
funcionam, nas quais não é difícil ver a mão da corrupção prejudicando os
excluídos.
Mas a outra dimensão desse absurdo,
é a impossibilidade absoluta de exercer controles judiciais sobre a forma como
os bens públicos são administrados. Na Argentina não existe nenhum programa
social cujo impacto seja avaliado com métodos rigorosos; as prestações de
contas ao Congresso são inexistentes e o esbanjamento é a norma. Um caso que
passará para a história e o das Aerolíneas Argentinas, a empresa nacional que
bate todos os recordes de má administração e consequente esbanjamento de
recursos escassos. Um comunicado recente da Auditoria Geral da Nação mostrou
perdas anuais próximas de 100 milhões de dólares (259,5 milhões de reais). Com
essa cifra poderiam ser construídas 250 escolas de última geração ou hospitais
nas zonas nas quais a mortalidade infantil triplica a média nacional. São
dilapidados fundos que mudariam a vida dos pobres para que os setores de classe
média e alta sejam beneficiados. Esse é o “progressismo” do governo Kirchner.
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