sábado, 19 de outubro de 2019

Neste ritmo, só vão sobrar os filhos

Não está fácil acompanhar a série de barracos do bolsonarismo. No capítulo de ontem, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, chamou o presidente de “vagabundo” e prometeu “implodir” o governo. Antes disso, impôs mais uma derrota humilhante ao Planalto.

Com a caneta Bic no bolso e o telefone na mão, Jair Bolsonaro tentou derrubar o deputado do cargo. Queria trocá-lo pelo filho Eduardo, cuja indicação a embaixador está mais fritada que um hambúrguer. Recém-alçado do baixo clero, Waldir organizou o contragolpe parlamentar. Mobilizou a tropa de insatisfeitos e destronou o príncipe herdeiro.

Irritado, o presidente destituiu a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann. A deputada preferiu apoiar o delegado a bater continência para o capitão. Sentindo-se traída, ela acusou o governo de comandar uma “milícia digital”, reclamou de “ingratidão” e prometeu revanche.

O dia ainda teve outros revezes para o Planalto. Bolsonaro foi gravado por um aliado quando articulava a favor do herdeiro. Em reunião da bancada do PSL, o chefe da principal comissão da Câmara resumiu o clima de ressentimento. “A gente foi tratado que nem cachorro desde que ele ganhou a eleição”. Ele é o presidente da República, um político que passou 28 anos na Câmara e não aprendeu a comandar nem o próprio gabinete.

Os bolsonaristas arrependidos já conheciam todos os defeitos do capitão. Só não esperavam ser rifados tão cedo, em nome de um projeto político que ninguém sabe dizer qual é. No Congresso, a impressão geral é de que o presidente só pensa em proteger os próprios filhos. Para isso, não hesita em sacrificar velhos amigos e articuladores da campanha.

Desde que tomou posse, Bolsonaro torpedeou todos os aliados que se esforçavam para defendê-lo. Do discreto Santos Cruz à histriônica Joice, todos foram largados à própria sorte. Neste ritmo, só vão sobrar o Zero Um, o Zero Dois e o Zero Três —e enquanto eles não brigarem de vez entre si.

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