sábado, 19 de outubro de 2019

Antes que acabe

Uma das obras-primas do escritor Henry James é a novela "A Fera na Selva". Mas quem esteve para valer na selva foi o irmão dele, William James, que aos 23 anos visitou a Amazônia e ficou encantado com a região. Em 1865, ele percorreu o Brasil como membro da expedição Thayer e, em cartas para a família, discordou frontalmente de seu professor racista e escravista, Louis Agassiz, revelando enorme simpatia pelos povos do Alto Solimões:


"Os índios que vi até agora são ótimas pessoas, de uma linda cor acastanhada, com cabelos lindos e finos. Suas peles são secas e limpas, eles transpiram muito pouco. No fim das contas, acredito que eles são mais bem-apessoados que os negros e os brancos", escreveu o futuro filósofo. Adão no Éden, ele chegou a flertar com uma nativa: "Ah, Jesuína, Jesuína, minha rainha da floresta, minha flor do trópico, por que não pude fazer-me a vós inteligível?".

Lembrei de William James ao saber que a Amazônia está desbancando o Rio, as Cataratas do Iguaçu e as praias do Nordeste (estas agora tomadas por manchas de óleo) como destino preferido dos estrangeiros. Um tipo de visitante interessado na "porra da árvore" (copyright Jair Messias) e que viaja estimulado pelo slogan "venha, antes que acabe".

No mais, as notícias do setor não são boas. É o que uma reportagem da revista Piauí classifica de "efeito Bolsonaro" (como se a bagunça interna não bastasse). Os turistas, sobretudo estudantes europeus, estão fugindo do país, incomodados com a não preservação do meio ambiente.

Com tantos e tão prestimosos embaixadores do turismo - o cantor Amado Batista, o pintor Romero Britto, o lutador de jiu-jitsu Renzo Gracie (que chamou Emmanuel Macron, o presidente francês, de "franga"), o apresentador Ratinho e o ex-craque Ronaldinho Gaúcho (que teve o passaporte apreendido por crime ambiental) -, além de um ministro submergido no laranjal, como isso foi acontecer?

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