Em meio ao arranca-rabo com o PSL, Bolsonaro decidiu destituir a ex-amiga Joice Hasselmann do posto de líder do governo no Congresso. Substituiu a correligionária pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO). O novo preposto do presidente no Legislativo fará dobradinha com o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado.
Eduardo Gomes é vinculado a um personagem notório: o multi-investigado Renan Calheiros (MDB-AL), adepto da operação Abafa a Jato, entusiasta do "Lula Livre". Fernando Bezerra, egresso do Partido Socialista Brasileiro (PSB), é um antigo apoiador de Lula. Serviu ao governo de Dilma Rousseff como ministro da Integração Nacional. Tornou-se cliente de caderneta da Lava Jato. No mês passado, recebeu a visita dos rapazes da Polícia Federal, numa batida de busca e apreensão que recolheu material para processo em que é acusado de desviar R$ 5,4 milhões.
A serventia de Gomes e Bezerra para Bolsonaro está associada mais à sobrevivência política do que à articulação de reformas modernizantes. Num instante em que o desalinho de Bolsonaro faz soar nos subterrâneos do Congresso uma pergunta incômoda — "Será que ele termina o mandato?" —, a dupla de emedebistas oferece ao capitão canais de acesso aos nichos mais arcaicos do Legislativo, sobretudo às legendas do centrão.
A preocupação com o centrão não é banal. Foi sobretudo graças à junção dos interesses desse grupo com os do MDB de Michel Temer que Dilma Rousseff foi mandada para casa mais cedo. Eduardo Gomes exerceu três mandatos de deputado federal antes de virar senador.
Gomes conheceu Bolsonaro nos fundões do baixo clero da Câmara. Até janeiro de 2019, integrava os quadros de uma das principais legendas do centrão: o Solidariedade, partido do deputado Paulinho da Força. Ingressou no MDB a convite e sob apadrinhamento de Renan Calheiros.
E quanto às reformas econômicas? Bem, numa de suas primeiras manifestações como líder, Eduardo Gomes avisou que, concluída a reforma da Previdência no Senado, o governo vai se concentrar na aprovação do Orçamento de 2020. As demais reformas —administrativa, tributária e ajustes no pacto federativo, por exemplo— ficarão para o ano que vem. Um ano de eleições municipais, que tende a ser pouco produtivo no Congresso.
A exemplo do sapo de Guimarães Rosa, não é por boniteza, mas por precisão que Bolsonaro encosta sua "nova política" no velho e bom MDB. Embora seja declinante, a popularidade do presidente ainda roça os 30%. As ruas não roncam pelo vice Hamilton Mourão. Entretanto, como a economia demora a reagir, Bolsonaro toma suas precauções. Com 28 anos de experiência parlamentar, o presidente já não se importa de tornar a política, segunda profissão mais antiga do mundo, mais parecida com a primeira.
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