Bivar alugou, mas não transferiu a propriedade da legenda para Bolsonaro & Filhos, e aí reside o x de uma velha questão na qual, no entanto, ainda não tínhamos visto um presidente da República se envolver tão aberta e displicentemente. Essa é a única novidade nesse caso, que reúne os ingredientes da lamentável história recente dos partidos: domínio de caciques, inchaço artificial proporcionado pela conquista do poder, trato obscuro do dinheiro público, serventia como cabides de empregos, zero debate político-doutrinário.
É o que se vê em agremiações com cheiro, cara e jeito de balcão para compra e venda de interesses privativos de seus donos e respectivos donatários. É o que Jair Bolsonaro está cansado de ver em sua vida política, pois já passou por oito delas, ocupa a nona e se prepara para integrar a décima.
Com a diferença de que agora é presidente e se crê merecedor de ter a sua, na qual possa ser ele o mandatário supremo. Já mostrou sinal disso durante a campanha nas exigências negadas por vários partidos antes de dar com os costados no PSL, mediante tratativas substantivas com o esperto negociante Luciano Bivar, e voltou ao assunto logo no início do governo, em fevereiro, quando os filhos andaram acenando a um partido ainda em fase de criação com a legenda da velha UDN.
A briga se estendeu pelo terreno da Justiça, teve a participação da Polícia Federal e ganha novos personagens no Congresso com a entrada em cena de integrantes do chamado Centrão já preocupados com essa história de contestação do poder e com a possibilidade de afastamento da atual direção do PSL. Querem criar umas regrinhas para dificultar isso. É a patota dos caciques se movimentando em causa própria.
O lobby desse pessoal atuará em favor da manutenção de Bivar. Não por amor, mas por interesse. Aberto um flanco desse tamanho amanhã ou depois, estariam os demais morubixabas partidários submetidos ao mesmo risco. Donde gente experiente no ramo aposta que Bolsonaro perde a parada e Bivar fica com a maioria dos 53 deputados e com a gorda verba destinada ao PSL em 2020: 359,1 milhões de reais resultantes da soma dos 113,9 milhões do fundo partidário e dos 245,2 milhões do fundo eleitoral.
Outra desvantagem de Jair Bolsonaro nesse embate é o potencial desgaste das negociações com um novo partido agora que está sentado numa cadeira sobre a qual reluz o maior refletor do país. Uma coisa é negociar nos bastidores ainda como obscuro deputado, outra é fazer isso no Palácio do Planalto sob a estreita vigilância da nação.
O presidente dá a entender que briga por moralidade no trato de verbas públicas, mas não pronuncia palavra em prol de mudanças que retirem o caráter cartorial dos feudos a que de maneira imprópria damos o nome de partidos de representação política.
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