A gente ia aí encontrar o Mário de Andrade, tomava chope no Franciscano, batia um papo na rua Lopes Chaves e pulsava no nosso peito aquela exaltação. Pátria, latejo em ti! Perto de Belo Horizonte, ainda quase Curral del Rei, perto das velhas cidades mineiras, Ouro Preto, São João del Rey, São Paulo já trazia, impaciente, a vibração da arrancada gigantesca. A frase do maior parque vinha escrita nos bondes amarelos, ou vermelhos? Eram vermelhos. Amarelos eram os de Belo Horizonte.
E verdes eram os do Rio. Verde, amarelo, vermelho, fossem estas ou outras cores, já se vislumbrava, ou se via, ofuscante, o arco-íris do futuro. Não era miragem, só dois pássaros voando. Era um pássaro na mão, ansioso pelo horizonte que, promissor, sim, também era real. A ditadura do Estado Novo aqui dentro não passava de uma bota apertada, prestes a ser descalçada. Tolhia, mas deixava andar pra frente. Lá fora, o horror da guerra. O mundo em cólicas de parto, para inaugurar o dia de amanhã. Já se entreviam os dedos róseos da aurora.
O penumbrismo, a tristura decadentista, isto era coisa do passado até nas artes e nas letras, de súbito despertadas em 1922. "Ah, como dói viver quando falta a esperança!" – o suspiro tísico do Manuel Bandeira de 1912 era tão antigo e fora de moda quanto o gramofone de 1910 do Murilo Mendes. Tudo de repente andava depressa. E na própria velocidade residia uma deusa que cumpria cultuar. Até Noel Rosa tinha cantado o progresso – e o progresso é natural. Bom dia, avenida Central!
Nuns poucos decênios, armamos o cenário para o banditismo, a violência, a criminalidade. O açodado bota-abaixo abria espaço à cidade de perfil americano. A cidade sem rosto. Os orgulhosos arranha-céus. Todo passado é remorso. Adeus, português suave dos sobrados. Chalezinhos suíços, morada ingênua, adeus. Jardim, quintal, vade retro!
Lá vamos nós, Brasil das megalópoles, de parelha com Nova York, Londres, Paris. Tóquio que se apresse. Stop. Foi o futuro que chegou, ou o Brasil que parou?
Nenhum comentário:
Postar um comentário