No estudo, eles observaram três recortes da História recente do país: antes de 2005, quando o desmatamento foi alto, e a governança, fraca; de 2005 a 2011, período considerado, pelos especialistas, de boa governança, com políticas de controle que resultaram em redução do desmate; e, por fim, de 2012 a 2017, de governança intermediária, quando se mantiveram medidas de controle e, ao mesmo tempo, sinais de estímulo a práticas negativas para as florestas (caso também de 2018).
— Claramente, temos hoje uma dinâmica bastante negativa que aponta para o pior cenário. Mantida a dinâmica atual, vamos retroceder aos níveis de antes de 2005 — afirma o cientista político Eduardo Viola, da UnB, um dos autores do estudo. — Com seis meses de governo, ainda é cedo para dizer que estamos num período de baixa governança. Mas é fato que estamos tendendo a isso.
Para André Lucena, da Coppe/UFRJ, se o Brasil de fato retroceder ao pior cenário, "não há chance alguma de cumprir as metas do Acordo de Paris". O país é o sétimo maior emissor do mundo, e sua meta de redução é de 37% em 2025.
— O Brasil tem ainda o compromisso de manter o aumento de temperatura abaixo dos 2 graus. Para isso, pode emitir uma quantidade específica de carbono até 2050. Se o desmatamento come esse “orçamento” todo de carbono, outros setores da economia vão ter que fazer um esforço enorme para compensar.
Se entre 2005 e 2012 o país conseguiu reduzir as emissões em 54%, foi em grande parte porque também reduziu o desmatamento (em 78%). Agora, avalia Raoni Rajão, professor da UFMG e coautor do artigo, "é grande a probabilidade de o desmatamento em 2019/2020 ser bem superior ao de 2018/2019".
— Nesses últimos dois meses, o alarme começou a soar de maneira mais forte, porque o nível de desmatamento descolou dos números do ano passado — afirma Rajão. — Claramente há risco de se caminhar para um cenário fraco. Há evidências disso, como o desmonte de aspectos essenciais do Ministério do Meio Ambiente, dos instrumentos de controle que podem realmente reduzir ou zerar o desmatamento.
Para Roberto Schaeffer, da Coppe/UFRJ e também autor do artigo, "nada é mais sensato e barato do que enfrentar com seriedade a questão do desmatamento":
— Todos ganham se dermos um basta ao desmatamento no Brasil. Só perdem aqueles com interesses escusos — diz.
Procurado para comentar estimativas e críticas dos pesquisadores, o Ministério do Meio Ambiente não se pronunciou.
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