Na política, o tempo (“timing”, difundida expressão anglófona) é a mais desafiadora das percepções para ações e tomadas de decisões dos atores políticos. Qual a chave para decifrar o enigma do momento certo das decisões em que erros e acertos afetam o cotidiano e o futuro de milhões de pessoas?
Não se inventou fórmula capaz de apontar soluções perfeitas. Simples: não é possível isolar e ponderar a miríade de variáveis que envolve alternativas possíveis de uma deliberação. Olhar os fatos históricos pelo retrovisor pode ter alguma serventia, mas não impede as “marchas da insensatez”. O destemor e a covardia são extremos perigosos: a virtude do caminho do meio é a prudência. Tudo na medida que será validada pelo tempo histórico.
Neste sentido, a experiência revela conhecida artimanha de “empurrar com a barriga” acreditando-se, equivocadamente, que a sorte coloca as coisas nos devidos lugares. Esperteza. Trata-se de uma forma de imobilismo e omissão. Há também o entusiasmado “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” o que revela um pendor mais revolucionário do que político.
De longe, vem a expressão atribuída a Augusto, imperador romano, “apressa-te devagar” (festina lente), uma figura de linguagem que, ao utilizar o paradoxo, reforça o significado das palavras combinadas e recomenda sabedoria ao senso de urgência das decisões.
Passados os seis primeiros meses do governo Bolsonaro, as mais diferentes análises convergem para a objetividade dos números das pesquisas de opinião: uma expressiva queda na avaliação do governo, esvaindo-se o capital político da vitória eleitoral; o reconhecimento da necessidade inadiável da reforma da previdência, assumida, também, com ônus e bônus, pelo Congresso Nacional.
O Brasil travou. Afora o capítulo das emoções do Vaza/Lava Jato, é preciso dar o primeiro e decisivo passo para evitar o aprofundamento da crise econômica e, com ela, os abalos de uma crise político-institucional.
O senso de urgência alerta: a reforma da previdência deve ser votada na Câmara antes das “férias” do recesso parlamentar. Este descanso é incompatível com a inatividade e o sofrimento de 13 milhões de desempregados.
Gustavo Krause
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