Noutros tempos, os políticos evitavam escancarar seu desejo de poder. Dizia-se que a função pública era um suplício que não se postulava, para o qual os correligionários ou as massas convocavam. Há três meses, o próprio Bolsonaro disse, num discurso no Planalto: "Não nasci para ser presidente, nasci para ser militar". Soou menos ambicioso: "Não me sobe à cabeça o fato de ser presidente. Eu me pergunto, eu olho pra Deus e falo: 'O que eu fiz para merecer isso?"
De repente, alguma coisa subiu à cabeça do presidente. Para susto dos tecelões do Congresso, que temem colocar azeitona na empada de Bolsonaro ao aprovar a reforma da Previdência, o capitão transforma a reeleição no seu tema compulsivo. Agora, ele quer, sim, ser reeleito. Passou a adorar o emprego. No melhor estilo nunca antes na história desse país, jactou-se: "Não temos, graças a Deus, nenhuma acusação de corrupção. Aquilo que parece que estava fadado a fazer parte de nossa história ficou para trás".
Quem ouve o presidente fica com vontade de beber do mesmo quentão e viver no país que ele escolheu para si, seja onde for. Não é justo que o resto dos brasileiros tenha de permanecer num Brasil em que há meia dúzia de ministros suspeitos —um deles condenado por improbidade—, o laranjal do PSL, as encrencas do primogênito Flávio Bolsonaro e o cheque do ex-faz-tudo Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O cérebro do político começa a funcionar na hora em que ele nasce. E só para no instante em que ele sobe no caixote. No comício do Clube Naval, Bolsonaro se absteve de levar em conta que o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é o dicionário. Fora dele, um presidente capaz de produzir prosperidade econômica não precisa pleitear a reeleição, pois ela lhe cairá no colo. Do mesmo modo, um mandatário que não fabrica senão crises e incertezas tampouco precisa reivindicar a continuidade. Será perda de tempo.
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