sábado, 25 de maio de 2019

A pergunta que não quer calar: O que Bolsonaro vai ganhar com a manifestação?

Jair Bolsonaro é um político estranho e demonstra grande ingenuidade. Deu declarações dizendo que os atos públicos deste domingo são “uma manifestação espontânea do povo”. Mas na verdade isso não é verdade, conforme já revelamos aqui, porque a iniciativa partiu dos filhos de Bolsonaro e do escritor Olavo de Carvalho, em represália ao fato de terem sido afastados das atividades governamentais por ordem expressa do presidente, atendendo a expresso pedido do núcleo duro do Planalto e dos comandantes das Forças Armadas, no último dia 7, em almoço no Quartel-General do Exército.

Não houve a menor dificuldade para convocar a manifestação nacional deste domingo. O filho Zero Dois, vereador Carlos Bolsonaro, apenas mobilizou o esquema das redes sociais que vem usando desde a campanha eleitoral e rapidamente a conclamação era uma realidade.


Mas houve um erro estratégico na organização do evento. Ao instruir os internautas a divulgarem a realização dos atos públicos e organizá-los em cada cidade, Zero Dois foi logo dizendo que os eventos estavam sendo organizados para mostrar a força do presidente Bolsonaro, com o objetivo de esculachar o Congresso e o Supremo, que não apoiam o pacto anticrime, a Lava Jato e o decreto das armas.

Surgiram, assim, os cartazes virtuais defendendo o impeachment dos ministro Gilmar Mendes e Dias Toffoli, mostrando as fotos dos dois integrantes do Supremo, enquanto outras mensagens de convocação preferiam atacar os presidentes da Câmara e Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre..

No início, Bolsonaro adorou a ideia dos filhos e de Olavo de Carvalho, sem perceber que não iria ganhar nada com os ataques ao Supremo, à Câmara e ao Senado, muito pelo contrário. No Planalto e fora dele foi aconselhado a cancelar a manifestação, mas já estava muito em cima, os aliados mais fanáticos se desapontariam, o presidente mostraria ser um vacilão.

A solução encontrada foi Bolsonaro continuar apoiando a manifestação, mas passando a fazer a ressalva de que nada havia contra o Congresso e o Supremo. Além disso, esclareceria que se trata de manifestação popular espontânea, o governo e seu partido, o PSL, nada tinham a ver com o evento. E foi justamente por isso que o presidente cancelou sua participação e pediu que os ministros não comparecessem.

O resultado é que, ao invés de unir os aliados de Bolsonaro, tal a demonstração de força dividiu as bases e causou desentendimentos internos antes mesmo de acontecer. Essa situação fez surgir a perguntar que não quer calar – O que Bolsonaro e o governo têm a ganhar com essas manifestações?

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