Semanas depois de anunciar sua transcendência da condição humana para a sublimidade de “uma ideia”, Lula recaiu na vida mundana. Da prisão, comandou o PT numa proeza: implodiu o agrupamento autodenominado de esquerda.
É aposta de alto risco. O resultado só será mensurável na apuração da noite de domingo, 7 de outubro. Até lá, contam-se os sobreviventes.
Entre eles está Ciro Gomes, visto ontem em Brasília queixoso da vida: “É só fuxico, é só conchavo, é só rasteira, é só punhalada pelas costas.”
O candidato do PDT não admite, mas é o responsável pelo próprio isolamento. Imolou-se.
Ciro conseguiu ser rejeitado até mesmo pelo ajuntamento de conservadores, donos do centrão, depois de oferecer-lhes todo o ministério.
Correu para o PT, em seguida, com a oferta de sociedade num “bloco de esquerda”, sob a sua liderança. Subestimou a adoração da burocracia petista pela hegemonia. Foi além: se apresentou como alternativa a Lula, cujo único interesse é o culto à sua personificação como uma “ideia”, na esperança de se diferenciar dos sentenciados comuns.
É longa a lista dos supostos humilhados por Lula, mas nenhum pode se queixar. Todos aceitaram um papel nessa tragicomédia centrada na onipotência de um velho líder, incapaz de reconhecer seu lugar na sociedade de classe média poderosa e ansiosa pela conexão com a modernidade capitalista. Nos arquivos do PT há uma coletânea de pesquisas sobre tais contradições.
Lula segue com o seu plano de cativeiro — suicida, para muitos . A essência está registrada em documentos do partido. Eis as etapas: 1) cultua-se a imagem de “vítima” de um sistema judicial manipulado pela “elite”; 2) questiona-se a legalidade da disputa sem a sua participação (“Eleição sem Lula é fraude”); 3) estimula-se o “voto de protesto” em candidato-laranja; 4) se derrotado nas urnas, contesta-se a legitimidade do presidente escolhido em eleição “fraudada” pelo veto a uma “ideia” chamada Lula.
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