terça-feira, 10 de abril de 2018

Sábado

Um dia disseram que a história sempre esse repete. Primeiro com tragédia. Depois como farsa. Quem pensou não conhecia o Brasil. Aqui a história não precisa de mais tragédia. Ela não se repete. E tem sempre jeitão de farsa.

O país tropical é onde a farsa prospera. Acostumados que estamos com a fraude, permanecemos incapazes de dedicar a ela o tratamento devido. A gente fica mesmo mesmerizado com a encenação com cheiro de farsa, jeito de farsa e voz de farsa. Talvez porque seja farsa mesmo.

Precisamos ainda subir muitos degraus civilizatório para entender as noções básicas de cidadania e estado de direito. Ou pelo menos uns poucos que nos permita entender que a prisão após a condenação é não somente esperada, mas natural. Seria assim em lugares que fazem sentido.

Não no país tropical. Talvez embriagados pelo suco da jabuticaba discutimos a concessão de privilégios usando como argumento a igualdade perante a lei. A gente faz muito se auto dispensou de fazer sentido. Por isso somos o paraíso dos juristas. Gente que, por acreditar em nada, diz qualquer coisa.


Com um pouco mais de noção de cidadania, não perderíamos 2 dias dando importância a eventos de outra maneira corriqueiros. E que, francamente, não fazem ou farão a menor diferença. Não escrevemos história. Preferimos dedicar nosso talento literário as notas de rodapé. Com quase certeza, vai ser lá que estarão eventos recentes. Se tanto.

Enquanto o tempo e a atenção do distinto público eram devidamente desperdiçados em todas as formas de mídia, a vida seguia. Fora daquele quarteirão onde se concentravam as lentes, tudo correu normalmente.

Talvez por isso, a farsa tenha se autoconsumido tão rapidamente. Notaram que os bondes permaneciam em cima dos trilhos. E que o tempo passava. E que não há nada como o tempo para passar.

E perceberam que já era sábado. O dia do presente. E nada mudava. O povo não veio. E vida seguiu. Indiferente a farsa já cansativa. Impossível fugir a essa dura realidade. Todos os bares estavam repletos de homens vazios. Todos os namorados de mãos entrelaçadas. Todos os maridos funcionando regularmente. Todas as mulheres atentas. Porque era sábado.

E ali, já com a audiência cansada da farsa, ao vivo dava para ver os tatos abandonando o navio. E, afinal, virar a chave. E dedicar o episódio ao rodapé da história. De onde nunca deveria ter saído.

Elton Simões

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