Relaxa. A diva Elza Soares ensina: Esse momento trágico do Brasil vai passar. Ela que, aos 80, já viveu um de tudo, sabe muito que tudo passa.
No sábado, a primeira das Escolas de Samba paulistas, a Independente Tricolor, abriu a pista mandando: “Hoje o bicho vai pegar, vem ver, a plateia delirar, enlouquecer. Saiu da tela, entrou na mente. É o terror independente.”.
O terror anda mesmo muito independente – sai da tela e entra na mente. Todo dia. Toda hora.
No modo Carnaval, o brasileiro faz folia – deboche, ironia, zoação. Bagunça para aliviar desacertos. Como dá, puxa no gogó loucura temporária. Trégua nas desditas.
Então, relaxa.
Na rua, o Simpatia Quase Amor, do Rio zoou: “Ensaio de escola? Ele mela. Roda de samba? Atropela. Macumba? Não tolera. Só gosta de bloco nutella. Ele não cuida? Nem zela. Casa de jongo? Cancela. Em nome de Deus? Apela. Qual o nome do hômi?”
É o filho de múmia com cascavel, entrega a letra, que zoa o bispo-alcaide da cidade, de nome não citado, devidamente identificado. Forra.
No sambódromo carioca, a Beija Flor de Nilópolis, mandou reto:
(…)
Ganância veste terno e gravata
Onde a esperança sucumbiu
Vejo a liberdade aprisionada
Teu livro eu não sei ler, Brasil!
Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora
Feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola
Meu canto é resistência
No ecoar de um tambor
Vêm ver brilhar
Mais um menino que você abandonou
Oh pátria amada, por onde andarás?
Seus filhos já não aguentam mais!
Lá pra trás, quando a ditadura comia solta, em 1975, a mesma Escola atravessou o samba. “A Beija-Flor vem exaltar com galhardia o grande decênio do nosso Brasil, que segue avante, pelo céu, mar e terra, nas asas do progresso constante, onde tanta riqueza se encerra. Lembrando PIS, PASEP e também o FUNRURAL, que ampara o homem do campo com segurança total.” Desafinou.
Bala perdida? Passou.
Tudo passa.
Tânia Fusco
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