O trânsito melhora. As ruas ficam mais seguras. As pessoas se divertem. Em casa ou fora, tudo parece funcionar razoavelmente. Com exceção da (frequente, aparentemente inevitável, mas certamente tolerada) urinação (ou pior) pública, o país mostra a sua melhor. E ainda ri.
Carnaval não é problema. É oportunidade. Mostra que produzir, organizar e fazer são atividades surpreendentemente possíveis no país tropical. Para espanto de todos e contra todas as expectativas e, talvez até ao arrepio da lógica, tudo (ou quase) funciona. São 5 dias em que a gente vê o que poderia ser. Seguidos de outros 360 arrastando a vergonha de já ter sido.
A comissão de frente já anuncia o enredo. Nada de alegria, ironia ou inteligência. Drama policial é o enredo do ano. Nada de original ou surpreendente. E segue o desfile trágico completo com a presença de investigados de todo gênero, presos, condenados atuais e futuros e celebridades de calibre e gosto discutíveis, todos, claro, andando de costas em marcha batida em direção ao passado.
O desfile segue com evolução, harmonia e conjunto bem sincronizados. O que não quer dizer belo, ou mesmo bom. A cleptocracia de prestidigitadores ilude os espectadores, em espetáculo medíocre, de pouca inteligência e nenhuma vergonha. Como convém a vigarista que se preze. Coreografia velha, sem novidades, previsível ao ponto de atrair o mofo.
Tudo isso ao som de samba-enredo de melodia repetitiva onde entonam desculpas repetitivas, empacotadas em vícios de linguagem e erros de concordância. Para desespero do distinto público.
No quesito alegorias e adereços, a novidade é a ala dos palhaços. Assistindo incrédulos ao espetáculo inaceitável, palhaços, a tudo assistem. Sem direito sequer a distribuição gratuita de colarinhos largos ou narizes vermelhos. Palhaço que se preza paga a conta.
Elton Simões
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