sábado, 13 de janeiro de 2018

A permanente precariedade das escolas brasileiras

Sebastião Nunes escreveu, em 2006, neste jornal, sobre a educação brasileira, citando Johann Jakob von Tschudi para analisar nossas escolas, que chocam quem se preocupa com a qualidade do ensino e suas implicações sociais.

Esse naturalista suíço manifestou, em meados do século XIX, preconceito sobre os habitantes deste país, mas registrou admiração quanto às proposições do Império, pois a Constituição de 1824 determinava, no inciso XXXII do artigo 179, que o ensino primário gratuito seria oferecido a todas as crianças. Era um avanço para aquela época, mesmo diante dos países europeus. Não tínhamos, entretanto, um sistema educacional consolidado, porque os portugueses não propiciavam acesso à instrução para preservar sua colônia mais importante. Mesmo assim, uma lei de 15 de outubro de 1827 exigia a criação de escola em qualquer cidade, vila e povoado para que o futuro fosse promissor para todos os súditos.

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A tradição cartorial falou mais alto, nos anos seguintes, pois aquela prescrição compunha as seis Cartas subsequentes, mas o Estado não se mobilizou para universalizar o ensino até os anos 1960. Ele apenas iniciou a expansão das vagas escolares, sem oferecer, todavia, os recursos humanos e materiais correspondentes. Isso implicou perda na qualidade da educação, exceto pelo esforço fugaz de poucas prefeituras e alguns Estados. Colhemos, então, atualmente, os frutos desse descalabro, que aumentou com a ampliação da rede particular do ensino decorrente da equivocada política educacional de um expoente da intelectualidade brasileira, o presidente Fernando Henrique Cardoso, e com o acesso às universidades públicas pelo sistema de cotas para minorias sociais.

Há muitas evidências de que concluintes do ensino médio não interpretam nem redigem com propriedade, não dominam as operações matemáticas básicas e desconhecem conceitos básicos de geografia, história e ciências. Essas carências têm exigido que professores universitários criem cursos de nivelamento no ensino superior para desenvolver os programas do currículo mínimo; mesmo assim, muitos graduados saem da faculdade sem a preparação adequada ao mercado de trabalho. Há, a cada geração, uma “progressão para trás”, pois as mais importantes universidades têm recebido candidatos ao mestrado e ao doutorado que não se expressam com propriedade em sua área de conhecimento. Assim, muitos diplomados escancaram nossa tradição cartorial quanto à importância de certificados sem a correspondente qualificação de seus portadores, que não se mantêm em seu ofício, indo para ocupações inferiores.

Enquanto isso, as autoridades fazem discursos sobre seu compromisso com a educação e adquirem equipamentos ao gosto de fornecedores. Não tomam providências, entretanto, para que as escolas melhorem, mesmo quando têm notícias dos avanços obtidos pela Coreia do Sul, Finlândia e Irlanda. São os exemplos mais recentes de crescimento espetacular na economia e na qualidade de vida da coletividade.

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