terça-feira, 10 de outubro de 2017

Artes e Orifícios

A Arte, assim como o Marcelo Adnet, imita a Vida e a Vida imita a Arte. Por isso mesmo uma está processando a outra por plágio, apropriação indébita e danos morais. O célebre “adevogado” Kakay, de Brasília, já foi contratado, a peso de ouro, para processar e defender as duas partes na disputa. Ao mesmo tempo!

Hordas de brasileiros histéricos resolveram, do dia pra noite, virar críticos de arte da Folha de São Paulo. Furiosos picaretas, armados de marretas, invadem qualquer exposição para fazer valer as suas opiniões estéticas paleonto-conservadoras. Se tiver alguma nudez em exibição, então, é um Deus nos acuda, porque esses caras não podem ver um nu que já pensam em sacanagem zoopedofílica. Pra quem não sabe, Zoopedofilia é a prática de sexo não consentido com filhotes de animais.



Indecente? Ora indecente é o meu salário no O Antagonista, que há mais de um ano é zero. Um zero redondo.  Um círculo perfeito e singelo que poderia ser interpretado por um moralista histérico como uma representação gráfico-figurativa de um pavilhão retofuricular, uma região tabu da anatomia humana, portanto ofensiva à família, a religião e aos costumes. Mais do que isso, é um incentivo à zoofilia, uma vez que, segundo a Isaura, a minha patroa, só pratico sexo animal.

Esses neo-caretas veem sacanagem em qualquer manifestação artística. Para eles, então, o que a Dona Dilma Roskoff fez com as Contas Públicas foi arte. Lula, Zé Dirceu, Vaccari, Renan, Collor, Geddel, Temer e tantos outros são artistas também. E, pior, nem precisam da Lei Rouanet.

A Arte pode ser picaretagem? Sim, pode. A Arte pode ser imoral? Sim, pode. Mas muito mais imoral e indecente foi o Santander que fechou a exposição de Porto Alegre. Curiosa essa posição sexual do banco: atrás dos depósitos da comunidade LGBT –Lésbicas, Gays, Bolsonaros e Travestis, resolveu patrocinar uma exposição de arte transgenérica. Mas não aguentou o tranco e fechou a mostra que já tinha sido paga com a grana do cidadão, alegando estar com dor de cabeça.

No MAM de São Paulo, só porque um sujeito nu, deitado e parado fez uma performance no museu, um monte de militantes do MBL (Movimento Broxa Livre) organizou um protesto nas redes anti-sociais. Entre uma visita a um site pornô e outro, todos foram postar o seu repúdio indignado contra aquela imoralidade.

Para esses caras só serve a arte tradicional, a arte da Academia. De preferência da Academia Militar das Agulhas Negras. Aliás, estas Agulhas Negras podem muito bem ser a representação subliminar de imensos falos afrodescendentes apontando para os céus, num claro gesto de desafio e achincalhe à religião e a fé cristã. Eu mesmo já fiquei nu, deitado no meio de um monte de mulheres que ficaram me bolinando, se esfregando e me manipulando — e não aconteceu nada. Absolutamente nada. Para meu total desespero e desencanto das fêmeas gulosas e insaciáveis.

Mas dirão os guardiães da moralidade: foi uma criança que apalpou o sujeito, isso é pedofilia. Ora bolas, pedofilia é roubar a verba da merenda escolar. Brasileiro vê sexo em tudo. Talvez por isso mesmo é um povo que vive se fo#$%ˆ&#@*%#dendo. O problema é que o mundo está ficando cheio de Bolsonaros de fim-de-semana. Esses manés não podem ver um homem fardado que já ficam  excitados, com um incontrolável comichão em regiões profundas da sua anatomia. Eles querem a volta dos militares. Só não ousam confessar para onde eles querem que os militares voltem.  São uns indecisos enrustidos que quando tomam uma decisão na vida, insatisfeitos, pedem para a gente voltar…atrás.
Agamenon Mendes Pedreira é crítico de artes da Primeira Companhia de Obuses Autopropulsados. 

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