quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O combate à corrupção deve transformar-se em rotina permanente

Milton Soares Campos nasceu em um aziago agosto, no dia 16. Candidato ao Senado, em 1966, disse o seguinte sobre 1964: “A revolução há de ser permanente como ideia e inspiração, para que, com a colaboração do tempo, invocada pacientemente, possa produzir seus frutos. O processo revolucionário há de ser transitório e breve porque sua duração tende à consagração do arbítrio, que elimina o direito, intranquiliza os cidadãos e paralisa a evolução do meio social. O que urge institucionalizar, portanto, é a revolução, e não o seu processo”.

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Não sei por qual motivo (o inconsciente fala mais do que o consciente...), mas as lições do grande mineiro, contidas no trecho acima, levam-me a refletir sobre o momento que vive o país e, por incrível que lhe possa parecer, leitor, “mutatis mutandis” (mudando o que deve ser mudado), sobre a operação Lava Jato. Que não deixa de ser – aqui, sim – “verdadeira revolução” contra nossos costumes políticos. Sonho com um país no qual o combate à corrupção passe a ser rotina. Só ela conterá a síndrome do estrelismo e os donos da moral e da ética.

A corrupção tomou conta de todos nós. Os veículos de comunicação dão a ela especial relevo. E, neste instante, a disputa entre Ministério Público e Polícia Federal só contribuirá para impedir, como diz Merval Pereira, que, finalmente, “as investigações levem a uma mudança no cenário político nacional”. Por si só, a corrupção não nos levaria ao fundo do poço. O que mais impede que um país se desenvolva, com justiça e paz, é a incompetência. Esta, porém, aliada àquela, é um mal incurável, de dose dupla. Nenhum país lhe resistiria, tornar-se-ia imbatível.

Antes que estas linhas se esgotem, uma palavra sobre a última operação da Lava Jato, denominada Cobra, que se iniciou com a prisão provisória do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, agora transformada em prisão preventiva pelo juiz Sergio Moro. É desconfortável, pelo menos para mim, centrar a atenção num só nome. É o mesmo que pisar num só decaído. Mas a figura de Aldemir Bendine sempre me impressionou. Suas fotos, desde a primeira que vi nos jornais, sempre me deixaram com “a pulga atrás da orelha”. Achava-o sério demais, elegante demais, perfumado demais.

Aldemir Bendine, um jovem de 53 anos, fez carreira no Banco do Brasil, onde começou como “menor aprendiz”, em 1978. Galgou vários cargos e, enfim, alcançou a presidência. Segundo notícia de jornal, quando foi convidado para presidir a Petrobras, aposentou-se no banco com o salário de R$ 60 mil por mês. O salário na Petrobras, segundo a mesma notícia, era de R$ 70 mil por mês. Um total de R$ 130 mil. Uma bagatela, leitor, num país de milhões de pobres.

Além de dois irmãos, tive (e tenho) muitos amigos que trabalharam no Banco do Brasil (naquele tempo, o funcionário do BB era considerado um “bom partido”, como diziam as mães para as filhas). Educaram família, bem como cumpriram, com dignidade, o seu papel aqui na Terra. Uns já se foram, como meus dois irmãos. Outros estão por aí honrando a nós e ao país, como Paulo de Queirós Mattoso, que, por mérito, representou a instituição (o BB era uma instituição respeitável!), durante 11 anos consecutivos, primeiro em Londres e, depois, em Paris.

Se o jovem Bendine se pautasse pela ética, não teria, jamais, acumulado os dois salários. Pelo mindinho se conhece o gigante.

Ou isso não passa de lorota?

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