quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O dia seguinte de Temer

Por elegância, Michel Temer não perderá a vida. Foi o que demonstrou ao derrotar na Câmara dos Deputados o pedido de licença para que fosse processado por corrupção. Valeu-se de todos os meios, legítimos e imorais, para colher uma vitória que acabou ficando muito aquém do que desejaria.


Por sabedoria, ele evitará correr novos riscos para não perder o mandato reconquistado ontem. É por isso que se deve descartar a possibilidade de Temer retaliar quem votou contra ele, mexer na composição do seu governo para incluir novos aliados ou aproveitar a ocasião para livrar-se de companheiros incômodos.

Nada de ousadias – a não ser, e se for o caso, para salvar-se de novas denúncias. Foi traído por uma larga fatia do PSDB? Foi. Mas o partido não perderá um só dos seus quatro ministérios. Temer tentará trazer de volta as ovelhas que se perderam – quando nada para que votem a favor das reformas paralisadas.

Foi traído pela maioria dos deputados do PSB? Foi. A todos dispensará igual tratamento, e pelo mesmo motivo. Aos olhos do distinto público pegaria bem que mandasse embora ministros atingidos por graves denúncias de corrupção. Não o fará. São seus amigos fiéis. E a eles deve parte de sua sobrevivência.

Tudo o que possa mexer com a Constituição dependerá na Câmara e no Senado do apoio de três quintos dos votos de casa Casa. Na Câmara, isso significa 308 de um total possível de 513 votos. Para escapar de ser julgado por corrupção, Temer só reuniu 263 votos. Bastou. Mas não bastaria para aprovar qualquer reforma.

Seguirá, portanto, em cena o Michelzinho Paz e Amor, sem gosto de sangue na boca, sorridente e educado. Movido pela esperança de que no futuro venha a ser conhecido como Michel, o Reformador.

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