sexta-feira, 14 de julho de 2017

Lula, condenado

A condenação em primeira instância a nove anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é uma boa notícia para o Brasil. Além do duro golpe à figura mais emblemática do gigante sul-americano nos últimos anos, aprofunda a situação de incerteza política e institucional em que o país se encontra e abre um complicadíssimo horizonte até as próximas eleições presidenciais, previstas para outubro de 2018.


Lula é uma figura-chave do passado recente de um país que conseguiu se tornar uma das principais economias do mundo em que 30 milhões de pessoas saíram da pobreza e passaram a fazer parte da classe média. À polêmica destituição da presidenta Dilma Rousseff – lembremos que não foi acusada de corrupção, mas de maquiagens contábeis –, junta-se agora a revelação de uma corrupção endêmica generalizada e uma nova tempestade institucional com a acusação de corrupção contra o atual presidente, Michel Temer.

Nesse contexto, Lula havia projetado seu retorno à política como uma operação de salvação nacional e também de resgate do seu debilitado partido. Agora esse projeto fica no ar e questionado em sua viabilidade.

Dado que a sentença é passível de recurso – ficando suspensa a partir desse momento e permitindo, assim, que o ex-presidente volte a se candidatar às eleições – o veredito não afasta Lula da cena política definitivamente. Mas é, sem dúvida, um duríssimo revés tanto para suas aspirações pessoais quanto para as de sua formação, o Partido dos Trabalhadores (PT), que tem a obrigação de continuar aspirando a representar legitimamente os interesses de uma proporção significativa de brasileiros. O problema é que o PT, que há anos vem sendo atingido por escândalos, havia recorrido a Lula quase como último cartucho e agora não tem um plano B. O fato de que os outros partidos importantes estejam quase igualmente debilitados, longe de ser um magro consolo, dá mostra do estado terrível em que se encontra o panorama político brasileiro.

A maioria esmagadora dos responsáveis políticos dos últimos anos operou uma máquina azeitada pela corrupção. Aqueles que não participaram diretamente disso olharam para o outro lado ou não fizeram o suficiente para combatê-la

O Brasil deu um salto de gigante, recebendo a admiração de todo o mundo e tornando-se um exemplo bem-sucedido para muitos países e sociedades. No entanto, a corrupção sempre acaba devorando os sistemas que parasita. Neste caso, além da ruína política e institucional, fez que a classe política ficasse completamente desacreditada perante a opinião pública. Um descrédito que, ao lado da estagnação econômica, em parte resultado da paralisia do processo de tomada de decisões políticas, pode contaminar rapidamente o próprio sistema democrático e ser aproveitado pelo discurso populista que já demonstrou sua eficácia em outras latitudes. E o Brasil não está imune a esse tipo de manipulações.

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