Estou entre os que concordam com a sentença do juiz Moro, mas não consigo comemorar a decisão. Como ele, acho lamentável que um ex-presidente da República seja condenado criminalmente, ainda mais quando este ex-presidente é uma figura como Lula que, durante tanto tempo, encarnou as esperanças de parte tão ponderável do país.
Lula teve tudo para ser o grande presidente que, em muitos momentos, pareceu ser. Biografia extraordinária e carisma inquestionável se uniram à sorte de pegar o mundo numa rara conjuntura econômica, e se refletiram numa aprovação popular sem precedentes. Vivemos o sonho da grande potência tendo um brasileiro ao mesmo tempo típico e excepcional no comando. Chances como essa não se repetem.
Infelizmente, Lula é em boa parte responsável pelo rancor que está se vendo nas redes, e que racha o país em dois. Mesmo no auge do poder, mesmo sendo adulado aonde quer que fosse, não foi capaz de descer do palanque de candidato para falar para todos os brasileiros, e para lançar das bases de uma conciliação nacional que só ele tinha o poder de promover. Ao contrário, ao dividir o Brasil para sempre entre “nós” e “eles”, e ao demonizar quem não votava no PT, abriu uma ferida que só faz crescer: essa, sim, é uma verdadeira herança maldita.
Lula também não foi capaz de perceber que era muito maior do que o cargo. Qualquer um pode ser presidente, mas apenas ele foi, durante um breve tempo, “o cara”. Em troca de umas poucas vantagens no curto prazo, perdeu no prazo infinito da História — e nós perdemos com ele.
Lula não foi condenado pelo juiz Sérgio Moro. Lula foi condenado pelo seu apego aos badulaques e mordomias do poder e, em última análise, pela sua falta de confiança em si mesmo e no seu papel.
Cora Rónai
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