Pesa neste momento o isolamento dele em relação à opinião pública. Bate nele o maior índice de desaprovação da história republicana.
Como uma orquestra que enfrenta o ruído de uma locomotiva e não consegue expressar sua sinfonia, da mesma forma o governo de Temer vive sob os gritos de protestos da multidão e não consegue coordenar seus esforços. Os ministros transitam acochados, desacreditados, e deixam de ser engrenagens que movimentam a máquina da União.
Quanto mais abalado e encurralado um governo, mais cede aos vícios do Legislativo. O momento mais propício para os piores elevarem sua importância.
É claro que o poder constitucionalmente exuberante e inconteste ofusca o pensamento do empossado e o faz resistir além do que seria aconselhável e oportuno para o funcionamento de um governo. Decorrente desse excesso, assistimos nas últimas décadas a demoradas e sôfregas resistências, de Fernando Collor de Mello e de Dilma Rousseff. Caíram Getúlio Vargas, João Goulart, Jânio Quadros. A Presidência da República no Brasil se notabilizou como perecível quase descartável.
Um vice, ao contrário de um titular ungido pelas urnas, assume desautorizado, e não lhe é dado assim muito tempo para mostrar serviço. Deve conquistar a “autoridade presidencial” com ações imediatas de estadistas. O governo do vice precisa de um consenso maior, de realizar mais em menos tempo e com maior eficiência.
Temer, apesar de sua longa experiência, não entendeu o recado da história. Cercou-se de “amigos”, com currículo tremendamente esgarçado, no lugar de figuras competentes, acima de qualquer suspeita e crítica. Mais que uma equipe, convocou uma confraria, que o apoiou no processo de cassação de Dilma. E sempre se soube que quem é bom numa atividade não o é em outra que requeira excelsa competência. Usou apenas critérios políticos, e não técnicos. Em poucos meses viu tombar um atrás do outro os baluartes de sua fortaleza. Pior, em situação vexaminosa.
Deixou cair o desemprego e as atividades econômicas numa profundidade desesperadora.
Não vislumbrou medidas de desenvolvimento, de crescimento. Não chamou para si os setores produtivos e não se deu o trabalho de envolvê-los com seu governo. Não se apercebeu de que, enquanto a economia real estiver sangrando, continuará sendo o país fraco e problemático que já é. Enquanto quem trabalha precisa pedir permissão a quem não entende seu esforço e não sente seu desespero, não haverá solução. O Brasil é uma ditadura cleptocrática nas mãos de insaciáveis especuladores.
Ficou inerte a recessão, permitiu que se continuasse e se acentuasse o sofrimento social, que se ampliasse a miserabilidade no país. Assistiu anestesiado ao crescimento de 3 milhões de desempregados, não se solidarizou com o sufoco, não explicou suas ações. Rendeu-se à fórmula econômica ortodoxa, monetarista.
Meirelles não é um homem de “fábrica”, é, essencialmente, banqueiro (ainda trabalhou para a JBS, fazendo dela a maior tomadora de empréstimos do BNDES e dos bancos oficiais). Suas retinas enxergaram a vida toda o mundo como um fator tendencialmente monetarista e de lucros provenientes da especulação.
Isso não se coaduna com a estreiteza, a fragilidade e o curto raio de manobra de um presidente que entrou no Planalto pelos fundos.
As soluções adotadas para enfrentar a crise foram e são claudicantes, tardaram para chegar aos setores produtivos e a gerar efeitos positivos na vida da nação. Dificilmente daria outro resultado com um banqueiro forjado na especulação sem compromisso com o emprego e a riqueza nacional.
Temer se esqueceu da fórmula adotada por Itamar Franco ao suceder Fernando Collor. Agora parece ter perdido todas as fichas que a sorte lhe ofereceu para se legitimar e justificar a faixa que lhe caiu nos ombros.
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