No livro Sobre a Tirania, (2017, Companhia das Letras), o historiador Timothy Snyder, pesquisador profundo das atrocidades cometidas pela Alemanha Nazista, a União Soviética e, sob o impacto da eleição de Trump, alerta: “É preciso se preparar agora para a possibilidade de um colapso quanto o ocorrido nos anos 1920, 1930 e 1940”.
Na mesma linha de preocupaçāo com os riscos que correm as democracias, estão Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Harvard), co-autores do livro "Como morrem as democracias", a ser lançado no próximo ano.
Por sua vez, Snyder registra que o avanço totalitário se dá pelo voto e obedece à lógica de que “na política, todos passaram a ser vistos como suspeitos” e, em sociedades assim, não percebemos o perigo de que “quem tem o melhor controle do palco tende a alcançar o poder”. Fatos, verdades e tolerância dialética não contam.
Transpondo para o caso brasileiro estes marcos analíticos, é fundamental atentar para a precisa constatação feita pelo cientista político Antonio Lavareda sobre o tamanho do mercado “supostamente não democrático no Brasil de hoje”. Ele toma como indicativo a pesquisa do instituto Latinobarômetro (2016), na qual, apenas, 32% dos brasileiros preferem a democracia como forma de governo, à frente da Guatemala e abaixo da média continental em que 54% dos povos preferem a democracia.
Considerando que o radicalismo à direita, interpretado por Bolsonaro, tem um potencial de cerca de 20% do eleitorado e o lulopetismo, um piso cativo em torno de 30%, cabe indagar: onde fica o centro democrático ocupado por uma esquerda contemporânea e liberais esclarecidos? Submersos na crise de representatividade e salpicados de lama?
Nada de previsão. No Brasil de hoje, o futuro foi ontem. Não custa, porém, ler as 20 vacinas ao autoritarismo, propostas por Snyder.
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