domingo, 2 de julho de 2017

A morte do diálogo

A arte de ouvir é o pré-requisito da sabedoria. O matemático grego Pitágoras em tempos da grande civilização grega, já filosofava: “Quem fala semeia, quem escuta, colhe”. Vivemos tempos em que a história, tradições e cultura emudeceram. A humanidade resolveu desprezar o passado, e, com isso, a mediocridade se impõe na cultura rasteira, fake, sem noção, dos oráculos tecnológicos, do tipo Google, Wikipédia e falsidades espelhadas ao vento pelas diversas redes.

Os antepassados são esquecidos, senão desvalorizados pelos exércitos de telas móveis, no seu silêncio individualista e solitário.

Diferenças dos pássaros
Modernos smartphones nem são usados mais para falar. Digitam-se textos, transferem-se fotos usando abreviaturas preguiçosas, ou emojis mornos, repetitivos e sem graça, pois sentimentos e expressões são de forma caricata e pasteurizada, repassados uns aos outros em um conteúdo pouco original. Uns dirão que os emojis são uma linguagem universal. O esperanto que, finalmente, pode ser compreendido em todo o mundo.

O custo de tudo isso é o silêncio, o emudecimento. Não se olha nos olhos, não se dá as mãos, ocupadas pelo telefone que já não toca, pois passar um WhatsApp ou e-mail é mais rápido, evita ter que falar, dialogar e se expor. A voz emocionada, irada ou desabafada é calada. Evita a coragem de se expressar verdades, insatisfações ou discórdias. Covardemente, digitamos nossa versão dos fatos, pois a fúria de ser criticado, frustrado, chamado atenção, é algo que não suportamos.

Vivemos um tempo em que ninguém quer ser contrariado. Uma pena, pois a verdade tem sido distorcida e censurada. A grandeza e humildade de reconhecer erros, dizer um simples “não sei”, “não quero”, “não posso”, “perdão” tornaram-se eventos raros, de uma minoria que tem maturidade.

Sentados em uma mesa de um restaurante ou bar, em uma viagem de férias com paisagens estonteantes ou mesmo vendo um jogo ao vivo e lá estão,de cabeça baixa e olhos vidrados na tela viciante. Famílias e amigos,sem se olhar ou conversar. Juntos, mas separados por uma indiferença e um silêncio ensurdecedor. O universo virtual, que conecta quem está distante, na mesma medida que desconecta quem está ao lado.

O resultado é essa carência mascarada por selfies, busca de status nas redes sócias, likes e unlikes, seguidores mesmo que seja por robôs que podem ser contratados para aumentar a falsa multidão de admiradores. O mundo, insistindo em fornecer o nascer e por do sol, céu estrelado e paisagens deslumbrantes. Mas o olhar está hipnotizado na prisão das telas.

Não se beija, não se abraça, não tem colo. Mãos ocupadas e dedilhando frenéticos. Sexo mecânico, baladas intoxicadas por bebida excessiva e drogas sintéticas e a ressaca da solidão acompanhada. “Mudos telepáticos”, como diria certo poeta.

E pensar que palavras têm alma... E uma vez cantada, em prosas e versos, acendia paixões, emocionava e ativava sensações extracorpóreas. Sonhávamos acordados, dormíamos após um sonoro “dorme com os anjos, meu bem”. Abraçadinho de “conchinhas”. Eu sei, tudo isso soa ridículo em tempos tecnológicos. Sou ridículo. Romanticamente romântico. Olhos nos olhos, cafuné, palavras doces ao ouvido. Estou em extinção, graças a Deus. Ou não?

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