Você já se esqueceu de quem é André Vargas — mas não se preocupe, isso é normal. Ninguém é obrigado a decorar James Joyce, nem a literatura completa da Lava-Jato. André Vargas foi um meteoro petista, desses que viravam personalidades proeminentes da República da noite para o dia — na época em que os companheiros mandavam nisso aqui.
Um dia André Vargas não era ninguém, no outro era vice-presidente da Câmara dos Deputados, desafiando publicamente Joaquim Barbosa com o famoso punho cerrado de José Dirceu, o Simón Bolívar do Paraná. Joaquim Barbosa era um ministro do Supremo, que condenou a turma de Dirceu pelo mensalão. Mensalão era um escândalo sem precedentes até surgir a Lava-Jato. E a Lava-Jato começou revelando ao Brasil o segredo da ascensão meteórica de André Vargas no partido governante: dinheiro roubado.
Você pode não se lembrar do meliante, mas o dinheiro era seu.
É preciso muita coragem para apoiar o regime de Nicolás Maduro nas circunstâncias atuais, de cara lavada e à luz do dia. Parabéns ao PT. Do partido estrelado por André Vargas, Vaccari, Delúbio, Paulo Bernardo, Gleisi, Delcídio, João Santana, Pizzolato, Dirceu, Dilma, Lula e cia — enfim, a turma do sol quadrado (os que já viram e os que ainda verão) — pode-se dizer tudo, menos que não seja um partido coerente. O PSOL está morrendo de inveja.
O massacre progressista nas ruas da Venezuela foi aplaudido pelos pacifistas do PSOL até anteontem, quando a ditadura libertária do companheiro Maduro perpetrou seu doce AI-5 sem perder a ternura. A imagem das botinas da guarda bolivariana empoderando uma jornalista caída no chão, entre outras cenas do excesso de democracia aclamado por Lula, confundiu a militância do bem. Enquanto durar o silêncio dos chavistas de butique em Hollywood, na MPB e nas salas de aula (sic), ninguém tem nada com isso. A Venezuela deles é mais embaixo.
Estão todos devidamente abençoados pelo Papa Francisco, o sacerdote da narrativa. No impeachment de Dilma Rousseff, que ceifou a busca da normalidade venezuelana no Brasil, o Pontífice declarou-se “muito triste” e cancelou sua viagem ao país. Agora que a ditadura transformista de Maduro rasgou a fantasia, jogando a força bruta sobre o povo e as instituições, Francisco foi lacônico: convidou os venezuelanos a “perseverar”. É um fofo.
Diante da nova canetada fascista de Moro contra um guerreiro do povo, o menestrel do Vaticano bem que poderia deflagrar a campanha “somos todos André Vargas”. E são mesmo. Estão irmanados pela fé na retórica coitada sobre todas as coisas — inclusive sobre a realidade onde o pau está comendo. Francisco, André e todos os cúmplices intelectuais da barbárie venezuelana são sócios de uma lenda — sublime e grandiosa como um panfleto de João Santana. Vivem disso. São os cafetões da bondade.
Um deputado que se apresenta como representante dos gays cuspiu em plenário, durante o impeachment, num deputado que se apresenta como representante dos militares. Uma guerra de mentirinha, que interessa essencialmente aos balaios eleitorais de ambos. Bate mais, meu amor. Mas a lenda é soberana, e o julgamento do deputado cuspidor terminou com uma advertência (ai, ai, ai) — que lhe permitiu inclusive tripudiar geral, declarando que sua cusparada foi o ato mais digno do Congresso durante o golpe. Filho mimado cospe na cara dos pais.
O que dizer a todos esses simpáticos mercenários da lenda? Saiam do armário, companheiros!
E o que dizer ao Brasil, semidestruído pela lenda? Pare de mimar esses canastrões, companheiro! Se não quiser ser escalpelado de vez pela normalidade deles.
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