Segundo o relato de Caminha, sobrava natureza; faltava ouro e prata para saciar o apetite mercantilista. A exploração do pau-brasil inspirou o batismo ecológico, mas a visão edênica do novo mundo não impediu a depredação da mata atlântica pela plantation da cana-de-açúcar.
O que fazer com a imensidão de terras? Nada mais adequado do que distribuir enormes glebas com a nobreza parasitária, as capitanias, com o prévio carimbo de hereditárias. Não deu certo. Apenas duas prosperaram. Teve cara que nem tomou posse da prebenda.
Junto com degredados, o Governador trouxe As Ordenações Manuelinas, erva daninha da burocracia, tormento permanente na vida dos brasileiros. Depois dele, veio Duarte da Costa, bandidão, e o filho, Álvaro, vagabundo. E nada de espírito empreendedor. Aliás, produzir no Brasil é pecado.
Pobre Barão de Mauå! Infelizes os que desejam empreender! O Brasil ocupa posição 123 na avaliação do relatório do Banco Mundial Doing Business que mede o ambiente de negócios em 189 países.
Diante da herança escravocrata, da arraigada cultura patrimonialista que se manifesta na relação promíscua entre o apetite por privilégio dos falsos capitalistas, da burocracia corrompida e um desprezo cínico da política pela ética pública, não surpreende a dimensão a que chegou a venalidade das autoridades.
Ao assistir a narrativa natural e serena dos delatores delinquentes, sofri um choque profundo: o governo brasileiro foi inteiramente terceirizado!
O que esperar da completa falência de uma ordem política? Primeiro, acreditar na força restauradora das instituições; segundo, recorrer à Fênix, figura mitológica representada por um ave milagrosa que, depois de viver quinhentos anos, pratica a autoimolação na pira funerária do ninho de ramos do carvalho e dela surge uma nova Fénix que retira da árvore o próprio berço e o sepulcro do pai. A cada morte, ressurge uma Fênix nova. Simboliza a ressurreição e a imortalidade da esperança.
Que a nova Fênix dure mais de quinhentos anos!
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