sábado, 25 de março de 2017

Por que não se calam?

Vai completar dez anos aquela célebre interrupção de Juan Carlos I, na época rei da Espanha, ao presidente venezuelano, Hugo Chávez: “Por que não se cala?” Pronunciada durante o fechamento da Cúpula Ibero-Americana, em 10 de novembro de 2007, deu a volta ao mundo viralizada na Internet. Eu me lembrei da história por causa do momento de ruído que vive o Brasil. Estamos na era da comunicação global, onde todos falamos ou gritamos ao mesmo tempo, na maioria das vezes sem nos escutar. Não seria mais sábio apostar em um pouco de silêncio?

Os políticos brasileiros citam repetidamente Deus em seus discursos. Muitos têm a Bíblia em seus escritórios. Lembro que a vi também no do então presidente Lula. Por isso, poderíamos trazer aqui as palavras do rei Salomão que escreveu no Eclesiastes: “Há tempo de ficar calado e tempo de falar” (Eclesiastes 3) Palavras que podem ser aplicadas também para a política brasileira, à qual parece faltar tempo para refletir. Trata-se de um momento crítico para a democracia do país, conquistada com tanto esforço por aqueles que lutaram pelas liberdades e por uma justiça para todos, sem privilegiados.

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Herman Benjamin, membro do Supremo Tribunal Eleitoral, alerta no jornal O Estado de S. Paulo, que quando as pessoas não acreditam mais na justiça “as consequências podem ser imprevisíveis e até violentas”. Cabe, para dar tempo para que os mares se acalmem e para recuperar a sensatez, que aqueles com maior responsabilidade nos destinos do país se dediquem a refletir e agir, em vez de querer estar sempre no palco. Estou me referindo aos que exercem o poder político e judicial. A todos: juízes, magistrados, procuradores, ministros, congressistas e políticos em geral, já que é possível perceber o desassossego por parte da sociedade com o excesso de declarações e julgamentos pessoais fora de texto e de contexto, que levam as pessoas a falar: “Por que não se calam?”

E não excluo nenhum poder. Tampouco o dos meios de comunicação, considerados como o quarto poder, onde sobram muitas vezes rumores e excessiva urgência de exclusivas, enquanto falta ponderação e seriedade informativa. A sabedoria não tem tempo. Foi analisada e exaltada desde a antiguidade. Não será sua ausência que está incendiando este país, onde os valores foram invertidos: se calam aqueles que deveriam falar e gritam aqueles que deveriam armar consensos em vez de semear discórdia? Talvez tenhamos chegado à urgência de reunir pedaços de sensatez em vez de continuar “jogando pedras uns nos outros”.

O texto bíblico que nos serviu para escrever esta coluna diz também que “a irritação injusta não se poderá justificar”. Nada pior, realmente, para o Brasil no momento atual que tentar justificar a ambição dos injustos (leia-se corruptos), ou a de trabalhar, desde as altas esferas da responsabilidade, para tentar salvá-los. A Bíblia lembra que “quanto maior a sabedoria, maiores as preocupações” e que “aumentar os conhecimentos traz consigo o aumento de aflições”. Às vezes, no entanto, aqueles que supostamente deveriam ter muita sabedoria e ciência, em vez de preocupações preferem os louros, e em vez das aflições do silêncio preferem o deleite dos aplausos.

E é, por fim, o autor do Eclesiastes que afirma: “Observei também isto sobre a Terra: é que a maldade reina onde o direito deveria ser aplicado e onde deveria ser feita justiça.” Um ditado diz: “Tanto barulho por nada?” O melhor da História costuma ser encontrada em seus silêncios.

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