sábado, 25 de março de 2017

Operação Carne Fria do Ibama autua JBS, mas governo tenta abafar

Por coincidência, e mais azar do governo de Michel Temer, em pleno turbilhão da operação Carne Fraca, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) deflagrou na última segunda-feira, outra operação que atinge gravemente a indústria da carne no país, inclusive a JBS, a maior empresa do ramo, dona das marcas Friboi, Seara e Swift.

Ninguém combinou, mas o Ibama chamou a sua operação de Carne Fria. Nessa ação, autuou 14 frigoríficos no Pará, Bahia e Tocantins que compraram 58 mil cabeças de gado, produzidas em 26 fazendas com áreas embargadas pelo Ibama por desmatamento ilegal na Amazônia.

Dentre os frigoríficos, estavam as unidades de Redenção e Santana do Araguaia, no Pará, pertencentes à JBS.

Resultado de imagem para boi em área desmatada

Feitas as autuações, o Ibama estava pronto para divulgar o sucesso da talvez mais técnica operação que já realizou, e uma das mais bem-sucedidas em flagrar grandes infratores.

Isso não aconteceu, porque, em seguida, e de Brasília, o governo começou uma operação para tentar abafar a divulgação em nível nacional – vários sites de notícias regionais já publicaram notas a respeito. Segundo apurou ((o))eco, Suely Araújo, presidente do Ibama, ensaiou duas vezes convocar uma coletiva de imprensa, mas acabou não indo em frente. A mais formal delas aconteceria nesta sexta-feira, em Belém, e seria feita em conjunto com o Ministério Público Federal, que apoiou a operação.

A reviravolta ocorreu porque nem mesmo o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estava bem informado sobre a Carne Fria. Quando o Planalto tomou conhecimento do que estava acontecendo foi cobrar satisfações do Ibama pelo novo desastre de comunicação e tentar adiar a sua publicidade. Tarde demais. A tentativa de conter danos não funcionou porque o Ibama havia avisado sobre a ação a repórteres da Rede Globo e Repórter Brasil.

No meio do inferno astral da Carne Fraca, da Polícia Federal, a Carne Fria, do Ibama, é um repique do desgaste que o governo e a indústria estão passando. E dessa vez, por uma razão muito mais difícil de consertar: destruição de bioma. A operação torna público que pelo menos uma grande exportadora de carne brasileira está comprando animais criados em áreas de desmate ilegal. E áreas de pasto para gado representam cerca de 60% do desmatamento acumulado na Amazônia.

É mais fácil tirar um lote de carne estragada do supermercado do que regenerar partes destruídas da floresta mais famosa do planeta. As unidades da JBS de Redenção e Santana foram autuadas pelo crime ambiental de "adquirir produto de área embargada", o que significa, no caso, área desmatada fora da lei.

A Carne Fria começou a ser planejada há cerca de um ano, em 2016. Em vez de fiscalização em campo, a operação usou um esforço de inteligência para pegar os infratores. A sua primeira etapa ocorreu em janeiro de 2016, quando o Ibama notificou os frigoríficos a entregar ao instituto os documentos que mostram a procedência do gado que adquirem.

O documento mais importante para a investigação foi o chamado GTA (Guia de Trânsito Animal), usado para controle sanitário, em especial da febre aftosa. De posse do GTA é possível saber qual o percurso do gado, das fazendas que criam e as que engordam até chegar à porta do frigorífico. Os dados dos frigoríficos foram comparados com os fornecidos pela Adepará (Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado do Pará). Por sua vez, a Adepará só forneceu esses dados depois de pressionada pelo Ibama e pelo Ministério Público. Uma vez de posse dos dados da indústria e da agência fiscalizadora, o cruzamento apontou os infratores.

Uma consequência da operação do Ibama, segundo apurou ((o))eco, foi a queda do superintendente interino do instituto no Pará, Luiz Paulo Printes, um dos responsáveis por preparar a Carne Fria. Ele foi destituído do cargo na manhã desta 4a feira, 22/3.

Agora, além de fraca, a carne é fria e envolve crime ambiental: mais desmatamento na Amazônia.

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