Os brasileiros estão muito irritados com os dirigentes atuais e a crise político-econômica. O país nunca foi exemplo de eficiência, justiça e amparo à população, mas tudo extrapolou por uma vertente mais negativa nos últimos anos, escancarando a desigualdade social, a infraestrutura obsoleta, os desequilíbrios regionais e as antigas mazelas do atraso, do mandonismo e da demagogia. Assim, enquanto outras nações vêm alcançando alto patamar de desenvolvimento econômico e bem-estar social, vivemos às voltas com analfabetismo, moradia vulnerável, insalubridade, insegurança e precária mobilidade entre casa e trabalho. O retorno de enfermidades, que tinham sido erradicadas no início do século XX, expressa dolorosamente a distância do Brasil em relação, por exemplo, ao Japão, à Nova Zelândia e ao Chile, apesar de nossa privilegiada dimensão territorial e populacional.
Os segmentos instruídos reconhecem que estamos perdendo tempo para garantir um futuro promissor às novas gerações e percebem as causas primeiras do descalabro socioeconômico. Muitos permanecem, entretanto, acomodados, porque são beneficiários do subdesenvolvimento, pelo baixo custo da mão de obra para tocar seus negócios e pela proximidade dos poderosos, sempre sensíveis às demandas de prováveis cabos eleitorais. Assim, ninguém nega que as classes privilegiadas curtem aqui opulência maior do que nos países desenvolvidos; por isso, rejeitam propostas para um amplo processo de modernização, especialmente no que se refere às relações de trabalho.
Há poucos líderes para lutar pelas mudanças, dentro do Congresso Nacional, no qual os parlamentares honestos são dependentes de espaço cedido pelo grupo que exige a preservação do establishment. Assim, aqueles aceitam as migalhas que lhes são oferecidas para usufruir alguma vantagem e sobreviver politicamente. Durante as negociações para eleger as diretorias da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, por exemplo, extinguiu-se a barreira entre situação e oposição, suplantando o pudor pelas diferenças ideológicas. Importava apenas buscar um entendimento que garantisse a governabilidade, cuja pauta era do Poder Executivo, sempre impositivo sobre a representação popular.
A situação está se tornando insustentável porque vieram à tona informações sobre a conduta criminosa de muitos políticos, que têm, infelizmente, apoio de outras esferas do Estado. Sua imagem está irremediavelmente comprometida, mas eles propõem medidas para que as ações oficiais estejam ajustadas a seus interesses pessoais, buscando a autoproteção, como o voto em lista fechada, a anistia do caixa 2 e o controle dos “abusos de autoridade”. São todas manobras deletérias porque ignoram a vontade popular e querem manietar outras instituições do Estado que estão lutando para reconstruir a democracia. Essas iniciativas não terão acolhida na população, farta de propostas que não sinalizam um país harmônico, justo e soberano.
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