Com participações de 20s em cada uma das quatro inserções de 30s que o PT enviou sexta-feira para os diretórios estaduais, Lula fabula como derrotou a inflação e gerou mais de 22 milhões de empregos. Reclama que o atual governo está cortando dinheiro da educação, que falta democracia no país. E que crise se combate com investimento público.
Fala como se o Brasil tivesse algum respiro para investir. Como se o caos econômico, crescimento negativo e desemprego galopante não fossem resultados de seu último mandato e dos de sua pupila. Como se a economia fosse regida por voluntarismo, como se o país não tivesse perdido um único centavo para a corrupção.
Em outro vídeo, de 2min41s, divulgado na página de Lula no Facebook e replicado no site oficial do PT, o ex expõe com absoluta maestria sua habilidade de interpretar os acontecimentos, de inverter os polos, criar verdades. Usa as mesmas roupas dos filmetes, mas outra face.
A título de conclamar partidários para o 6º Congresso da sigla, com primeira etapa prevista para o dia 9 de abril, Lula diz que o PT vem sendo destruído desde 2005 – quando estourou o mensalão – pela ação de seus adversários que “continuou até o impeachment da presidenta Dilma”. Afirma que 2017 é o ano de recuperar a imagem do PT e de “defender o legado do partido que mais fez política social neste país”.
Ora em tom emotivo, ora com fala vigorosa, a convocação de Lula imita a de um general que tem de animar a tropa esfarrapada que será baleada no front. Figurativo que o ex substituiu pela subida de uma escada – há os que desistem no primeiro degrau, no quarto degrau, e os “bons”, que sobem 10 degraus e estão prontos para outros 10.
Só não falou no tamanho da queda.
Mesmo que lidere pesquisas, Lula sabe que queimou patrimônio demais. Tem pouco tempo para se livrar do que já pesa sobre os seus ombros – companheiros condenados no mensalão, outros na cadeia pela Lava-Jato e cinco processos diretos contra ele. Do que ainda pode vir com a revelação completa da delação da Odebrecht e de outros cadáveres que ele e o PT já supunham enterrados.
Sabe ainda que será difícil negar a responsabilidade pela crise econômica que deixou mais de 12 milhões no desemprego e outros 3 milhões na miséria. Que uma campanha eleitoral faz ressuscitar fantasmas de seu time de elite – Dirceu, Palocci e cia. –, empresários amigos – Léo Pinheiro, Marcelo Odebrecht, etc. --, políticos do coração, como Sérgio Cabral. Todos atrás das grades.
A sorte de Lula – e político tem de ter estrela, sorte – é que o governo Michel Temer tem pernas bambas. Erra mais do que acerta e só se mantem em pé ancorado na muleta que sustenta a economia.
Aos erros de Temer se somam os de integrantes de seu partido, o PMDB, e de aliados, que, em nome de autoproteção, denigrem a política, colocando tudo e todos na mesma cesta podre.
Mercado de ocasião para Lula, que não perde uma única chance.
No vídeo dedicado à militância, o líder do “nós”, os virtuosos, contra o “eles”, os canalhas, chega a admitir igualdade para nivelar todo mundo por baixo e se dizer superior: “pode ter até igual, mas nesse país não tem ninguém melhor do que nós”.
Mas são elementos de fundo que dão personalidade à peça publicitária. Recuperam-se o vermelho e a estrela, tão escondidos na campanha do ano passado. E no encerramento saca-se um novo símbolo: os quatro dedos da mão de Lula sobre a bandeira do partido.
É apelativo? E daí? Bota-se um pouco de verdade irrefutável – Lula realmente perdeu o dedo mínimo – para mexer com as emoções e fazer parecer que tudo o que foi dito anteriormente no vídeo carrega dose idêntica de verdade.
São craques na arte do ludibrio. E isso, sem dúvida, tem peso nas urnas.
Mary Zaidan
Fala como se o Brasil tivesse algum respiro para investir. Como se o caos econômico, crescimento negativo e desemprego galopante não fossem resultados de seu último mandato e dos de sua pupila. Como se a economia fosse regida por voluntarismo, como se o país não tivesse perdido um único centavo para a corrupção.
Em outro vídeo, de 2min41s, divulgado na página de Lula no Facebook e replicado no site oficial do PT, o ex expõe com absoluta maestria sua habilidade de interpretar os acontecimentos, de inverter os polos, criar verdades. Usa as mesmas roupas dos filmetes, mas outra face.
A título de conclamar partidários para o 6º Congresso da sigla, com primeira etapa prevista para o dia 9 de abril, Lula diz que o PT vem sendo destruído desde 2005 – quando estourou o mensalão – pela ação de seus adversários que “continuou até o impeachment da presidenta Dilma”. Afirma que 2017 é o ano de recuperar a imagem do PT e de “defender o legado do partido que mais fez política social neste país”.
Ora em tom emotivo, ora com fala vigorosa, a convocação de Lula imita a de um general que tem de animar a tropa esfarrapada que será baleada no front. Figurativo que o ex substituiu pela subida de uma escada – há os que desistem no primeiro degrau, no quarto degrau, e os “bons”, que sobem 10 degraus e estão prontos para outros 10.
Só não falou no tamanho da queda.
Mesmo que lidere pesquisas, Lula sabe que queimou patrimônio demais. Tem pouco tempo para se livrar do que já pesa sobre os seus ombros – companheiros condenados no mensalão, outros na cadeia pela Lava-Jato e cinco processos diretos contra ele. Do que ainda pode vir com a revelação completa da delação da Odebrecht e de outros cadáveres que ele e o PT já supunham enterrados.
Sabe ainda que será difícil negar a responsabilidade pela crise econômica que deixou mais de 12 milhões no desemprego e outros 3 milhões na miséria. Que uma campanha eleitoral faz ressuscitar fantasmas de seu time de elite – Dirceu, Palocci e cia. –, empresários amigos – Léo Pinheiro, Marcelo Odebrecht, etc. --, políticos do coração, como Sérgio Cabral. Todos atrás das grades.
A sorte de Lula – e político tem de ter estrela, sorte – é que o governo Michel Temer tem pernas bambas. Erra mais do que acerta e só se mantem em pé ancorado na muleta que sustenta a economia.
Aos erros de Temer se somam os de integrantes de seu partido, o PMDB, e de aliados, que, em nome de autoproteção, denigrem a política, colocando tudo e todos na mesma cesta podre.
Mercado de ocasião para Lula, que não perde uma única chance.
No vídeo dedicado à militância, o líder do “nós”, os virtuosos, contra o “eles”, os canalhas, chega a admitir igualdade para nivelar todo mundo por baixo e se dizer superior: “pode ter até igual, mas nesse país não tem ninguém melhor do que nós”.
Mas são elementos de fundo que dão personalidade à peça publicitária. Recuperam-se o vermelho e a estrela, tão escondidos na campanha do ano passado. E no encerramento saca-se um novo símbolo: os quatro dedos da mão de Lula sobre a bandeira do partido.
É apelativo? E daí? Bota-se um pouco de verdade irrefutável – Lula realmente perdeu o dedo mínimo – para mexer com as emoções e fazer parecer que tudo o que foi dito anteriormente no vídeo carrega dose idêntica de verdade.
São craques na arte do ludibrio. E isso, sem dúvida, tem peso nas urnas.
Mary Zaidan
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