quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Massacre de Manaus mostra que o país não é civilizado, mas ainda ha esperanças

Nascido em 1903, o londrino Kenneth McKenzie Clark foi um dos mais conhecidos intelectuais de sua geração. Escritor e especialista em História da Arte, estudou na Universidade de Oxford e aos 30 anos já era diretor da National Gallery, e no ano seguinte, superintendente da Royal Collection. Professor em Oxford e chanceler na Universidade de York, aos 35 anos foi ordenado cavaleiro, depois a Rainha Elizabeth lhe outorgou o título de barão Clark de Saltwood, no Condado de Kent. Provocador, costumava ironizar o estágio da evolução social em meados do século passado. Dizia: “Civilização? Jamais conheci nenhuma. Mas sei que, se algum encontrar alguma civilização, saberei reconhecê-la”.

Lord Kenneth Clark morreu em 1983 sem ter conseguido encontrar uma verdadeira civilização na face da Terra. Mas agora, 35 anos depois, algumas sociedades evoluíram bastante e o grande pensador britânico certamente já poderia vislumbrar a existência de uma quase civilização nos países nórdicos e na Suíça, embora ainda deixem a desejar em vários aspectos.


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Se avaliasse o Brasil neste início do Terceiro Milênio, Clark constataria que o país nada tem de civilização, mas nada mesmo. Pelo contrário, vive em meio à barbárie, provocada pela insistência suicida de tentar fazer com que a riqueza total possa conviver com a miséria absoluta. E qualquer idiota percebe que isso jamais dará certo.

Mesmo sob a barbárie, que transmite ao exterior a imagem de uma sociedade violenta e corrupta, ainda assim o Brasil tem muitos atrativos e continua a receber turistas do mundo inteiro. Mas verdade seja dita, a maioria dos estrangeiros vem atrás de alegria, para participar das grandes festas, como Réveillon e Carnaval, e grande parte dos turistas busca mais especificamente o turismo sexual, que inclui até mesmo pedofilia, sejamos francos.

Nossa imagem no exterior está péssima, massacrada pela insegurança pública nas grandes cidades e pelas mortes de estrangeiros em pontos turísticos. Mesmo assim, as atrações do Brasil são tantas que eles não resistem, e aí está Leonardo DiCaprio que não nos deixa mentir. As celebridades vivem por aqui e quase sempre chegam dissimuladamente. Certa vez, eu e meu filho entramos no elevador no Aeroporto do Galeão e demos de cara com Alec Baldwin e Kim Bassinger, que estavam de passagem, rumo ao Amazonas. Aliás, se fosse bem trabalhada, a Amazônia seria o maior pólo turístico do mundo. Um dia será. Mas agora esse importante polo turístico sofreu um baque, com o massacre no presídio privatizado.


O fato concreto é que o Brasil está glauberianamente em transe. É um país maravilhoso e sinistro, ao mesmo tempo. Quinto maior do mundo em extensão e número de habitantes, a oitava economia do mundo, tem um clima ideal para curtir a natureza e viver à vontade, ao ar livre. Mas o Brasil está dividido e desgovernado. Precisa ser passado a limpo, para começar de novo e se tornar o país do futuro de Stefan Zweig, e isso tem de acontecer o mais rápido possível.

A nova geração de delegados federais, procuradores da República, juízes federais e auditores da Receita está mostrando que isso é possível, apesar do claro boicote que sofrem das cúpulas dos três Poderes. O trabalho desses jovens na Lava Jato tem uma força descomunal, está destinado a servir de exemplo nos Estados e Municípios, e esse bendito fenômeno é irrepreensível, jamais será vencido por articulações de bastidores na calada da noite. Essas manobras que ainda são tentadas no Planalto, no Congresso e no Supremo chegam a ser patéticas e ridículas. Este país vai mudar, porque nós queremos mudar. E isso já está acontecendo. Agora, é só uma questão de tempo.

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