Mas não se ouve uma voz oficial sobre o ocorrido. É como se esse tipo de crime fosse completamente aceitável no nosso dia a dia, não havendo razão para providências capazes de impedi-lo, ou ao menos dificultá-lo. Nenhuma reflexão por parte das nossas lideranças políticas sobre as razões para o crescimento desse tipo de violência. Estão todos muito ocupados com a próxima eleição dos Presidentes da Câmara e do Senado e no loteamento dos cargos das suas mesas diretoras. Os dois assassinos foram detidos, é verdade, mas com certeza logo estarão nas ruas novamente. Há também os casos patológicos, como o homem que assassinou 12 pessoas da mesma família, incluindo um filho de oito anos e a ex-esposa. Parece que ninguém fica mais chocado com essas mortes brutais. Anestesia geral. Pelo menos, enquanto não forem atingidos pessoalmente.
O Ministro da Justiça se dispõe até a enviar forças especiais e a aceitar a transferência de alguns dos delinqüentes para prisões federais. Não é caso para rir, mas ele até vai lá. É claro que não será isso que vai resolver o problema, mas como a autoridade não quer ficar mal na fotografia, é preciso marcar presença, com toda certeza amplamente divulgada pela assessoria de imprensa do Ministério. Mas esse assunto, que logo será esquecido, não interessa aos nossos dirigentes e políticos, ocupados que estão com questões que consideram mais importantes para sua sobrevivência eleitoral.
Em meio a quase 3000 mil acidentes nas rodovias brasileiras, nesse final de ano, cerca de 10% resultaram em mortes, mas isso também virou nota de rodapé. Mais grave é que estamos todos ficando acostumados com a violência, assassinatos brutais, mortes torpes, atrocidades e o estado de barbárie que se implantou no Brasil. Este é um dos mais acentuados sinais do abismo onde caímos. E que mais uma vez expõe o país à critica da imprensa internacional por tão insólitos e macabros acontecimentos. Aos quais se soma o assassinato do Embaixador da Grécia, em circunstâncias que chocaram o mundo civilizado.
É possível apontar dezenas de causas e explicações para esse estado de coisas, mas, entre elas, destaca-se a desigualdade social que tornou o Brasil um local onde sentimos medo,insegurança,desamparo e falta de perspectiva. A desigualdade social é altamente corrosiva e alimenta mais violência. A desigualdade apodrece a sociedade internamente. A repercussão da alta concentração de riqueza no país levou algum tempo para se desnudar. Mas já não é possível deixar de enxergar suas terríveis conseqüências.
Cada vez mais os poucos que detém o máximo de riqueza experimentam uma crescente sensação de superioridade, proporcional aos seus bens materiais. Indiferentes e obstruindo iniciativas capazes de reverter essa situação, prosseguem na sua trajetória egoísta como se fosse impossível construir um mundo melhor e mais justo. Cristalizam-se os preconceitos contra os mais pobres, agravando todas as formas de violência contra o ser humano. A herança da criação desregulada da riqueza é atualmente nosso maior legado.
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