Tento desfiar, um por um, argumentos convincentes (que existem, não sou um parvo!) para explicar aos meus nove netos (de 27, 25, 23, 23, 22, 21, 18, 18 e 11 anos) que vale a pena permanecer em nossa terra e trabalhar para transformar nosso enorme território num país e, finalmente, numa nação. Pedro, o de 11, resiste, com seus argumentos.
No melhor estilo jornalístico, em 1989, o escritor e jornalista Zuenir Ventura, em seu mais festejado livro, “1968: O Ano Que Não Terminou”, retratou acontecimentos, no Brasil e no mundo, que o marcaram para sempre, sobretudo em nosso país. Na época, padecíamos sob férrea ditadura civil-militar, mas havia gente convencida de que residiam nesse regime soluções para nossos inúmeros e cada vez mais complexos problemas. Vinte anos mais tarde, depois de vivermos a decepção de não termos eleições diretas; de saudarmos a vitória de Tancredo Neves nas eleições indiretas pelo Congresso Nacional; e de passarmos pelo pusilânime governo Sarney, com o advento da Constituição Federal de 1988, começamos a respirar, de novo, os ares do bem mais precioso do ser humano – a liberdade, cujo preço, para mantê-lo, continua hoje o mesmo, “a sua eterna vigilância”.
Confesso que jamais esperei que, na despedida de 2016, fôssemos nos deparar, em Campinas, com uma barbárie fora de qualquer previsão, cometida por Sidnei Araújo, que matou, além de sua ex-mulher e de seu filho de 8 anos, mais dez pessoas. Sidnei, 46, técnico de laboratório, disputava a guarda do filho e suicidou-se.
Como se não bastassem os horrores que vêm por aí, oriundos da operação Lava Jato, 2017 nos brinda com a matança de 56 presos, no presídio Anísio Jobim, em Manaus, consequência inegável, sem dúvida nenhuma, da omissão criminosa de nossos representantes.
Se você não é um ególatra, e se não tem condições de se escudar na esperança, leitor, jamais aceitará declamar, apenas por declamar, sequer este verso do poeta Ferreira Gullar: “Sei que a vida vale a pena”, para depois concluir: “Como um tempo de alegria/ Por trás do terror me acena/ E a noite carrega o dia/ No seu colo de açucena”.
Fico com o poeta. Ele sempre tem razão.
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