“Olha eu sei que você não conhece ninguém no Rio, de modo que quero convidá-lo para passar a noite no apartamento de uma amiga minha. Ela vai dar uma festa para gente assim como você.”
Tomei nota do endereço e ele disse: “Ao chegar, é só dizer que você é o José Carlos, que ela já está avisada.”
Às nove horas da noite, rumei para lá. Os sonhos mais ardentes me dominavam. A moça dona da casa era linda e passaríamos a noite dançando colados! Coisas assim; eu ia andando cheio de esperança. Diante do apartamento, toquei a campainha e então fluíram segundos de espera ansiosa. Abriu-se a porta: uma jovem linda, de vestido vermelho, surgiu à minha frente. Atrás dela vi um corredor, e depois uma sala onde outras moças estavam sentadas, uma das quais conversava com um rapaz. Da vitrola vinha uma canção tristonha.
— Que é que o senhor deseja? — perguntou a moça.
— Eu sou o José Carlos.
Ao ouvir essas palavras, ela me olhou com expressão indefinível: espanto, ou esquecimento, ou então não ouvira direito, o certo é que ficou olhando fixamente o provinciano durante um minuto bastante penoso. Finalmente, falou:
— José Carlos ainda não chegou. Com licença — e bateu a porta na minha cara.
Meia hora depois, outra vez na rua, eu ainda não sabia se devia rir ou chorar. Fui andando sem rumo, e afinal entrei no Alcazar, sentei, pedi cuba-libre e comecei a encher a cara.
José Carlos Oliveira (1934 - 1986)
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