Falando assim, parecia mesmo mais interessante do que um tiro, uma cama de hospital ou uma doença dolorosa, embora na época eu acreditasse que nós dois viveríamos para sempre.
Ao longo de outras décadas, aflito e apavorado com o golpe militar, a crise do petróleo, a crise da dívida externa, a rebordosa do Plano Cruzado, a moratória de Sarney, o confisco do Plano Collor, meu pai me tranquilizava dizendo que o Brasil não ia acabar, e me mandava trabalhar.
No ponto em que estamos, nem novas eleições presidenciais são suficientes. Só eleições gerais, para a Câmara e o Senado, podem dar alguma esperança de saneamento e renovação, como uma Constituinte para as reformas políticas que precisamos. Mas não com esses que estão aí, que usam o mandato para atrapalhar a Lava-Jato e para manter os seus privilégios, delinquências e impunidades. Eles não vão se suicidar pelo Brasil.
Sim, a culpa é do sistema político perverso — e de todos que se aproveitaram dele — e, por isso mesmo, são incapazes de reformá-lo. Não é mais questão de esquerda ou direita, mas de certo ou errado. Talvez depois de um apocalipse possa nascer um novo mundo.
Nelson Motta
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