segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

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Saída de Cardozo não alivia situação de Lula e de outros investigados

O ex-presidente Lula e os petistas que levaram José Eduardo Cardozo a decidir pelo pedido de demissão estão enganados se acham que com a saída do ministro vão conseguir algum tipo de vistas grossas por parte da Polícia Federal a irregularidades que estão sendo investigadas.

Em primeiro lugar, é praticamente impossível ao ministro da Justiça controlar o que a Polícia Federal faz. Em segundo, as investigações são feitas também pelo Ministério Público, sobre o qual o ministro da Justiça não tem nenhuma influência. É só observar a força-tarefa da Operação Lava Jato. Boa parte dela é constituída por procuradores de Justiça, que formam um time de investigadores junto com os delegados da PF.

No caso específico de Lula, a investigação que apura se ele praticou tráfico de influência ao defender o interesse de empreiteiras no Exterior é feita pelo MP.

Tanto Lula quanto boa parte do PT atribuem a Cardozo "corpo mole" diante das investidas da Polícia Federal contra petistas suspeitos de participação em irregularidades e atos de corrupção.

Em resumo, na visão deles Cardozo não estaria cumprindo a contento a tarefa de controlar as investigações da PF. Daí, as críticas cada vez mais fortes ao ministro, como as feitas durante o final de semana na festa de aniversário dos 36 anos do PT.

Quando Lula e o PT fazem pressão para que o ministro da Justiça - seja ele Cardozo ou quem vier a substituí-lo - tente controlar as investigações da Polícia Federal, no mínimo estão sugerindo que seja cometido o crime de prevaricação. Isso é grave. Como dizem os políticos, poderá ser um tiro no pé.

Como respeitar um sujeito desses?

Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir, sem corar, que recebeu de presente de amigos – de presente, ora vejam só? – um sítio de 173 mil metros quadrados (equivalente a 24 campos de futebol), em valorizada área do município paulista de Atibaia?

Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir sem corar, que o sítio unicamente usado por ele e sua família, na verdade, não é dele, mas de terceiros, uma vez que está registrado em nome de um amigo, sócio de um empresário, que por sua vez hospeda, de graça, um dos seus filhos em apartamento luxuoso da capital paulista?

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Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir sem corar, que o sítio foi reformado gratuitamente por um amigo dele preso pela Lava-Jato, o empresário José Carlos Bumlai, quando se sabe que foi a construtora Odebrecht que o reformou sem cobrar nada por isso?

Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir sem corar, que a construtora OAS reformou por que quis o tripléx do Guarujá reservado para ele e sua família, e que ganhou um elevador privativo só para aumentar sua comodidade? Esse homem diz que desistiu da compra do tríplex porque sua intimidade foi devassada pela mídia.

Que homem público respeitável é esse, capaz de se declarar inocente das suspeitas que pesam sobre seus ombros, e que ao mesmo tempo se vale de todos os meios para evitar depor na Justiça sobre o sítio que nega ser seu, e sobre o tríplex que jura que jamais foi? Se é inocente por que tem tanto medo da Justiça?

Por fim, que homem público respeitável é esse, capaz de levar a vida aceitando “favores” de amigos e empresas, de carros a apartamentos emprestados, de sítio reformado de graça por construtora a triplex reformado de graça por construtora, beneficiando-se daqueles que nos seus dois governos foram beneficiados por ele?

Um homem público que mistura o público com o privado pode ser um homem, mas respeitável não é.

Antonio e a luz

“Nosso problema não é econômico. É politico. E a gente esta quase resolvendo. Já da para ver a luz no fim do túnel”, disse ele. Respeitava muito Antonio. Suas opiniões, integridade, inteligência e honestidade intelectual. Difícil ignorar este pacote de virtudes, cujo sabor vinha acompanhado de humor ácido e carismático. E Antonio sempre foi pragmático. “Melhor estar certo do que ser coerente”, repetia sempre.

Do meu lado, em 1990, enxergar a luz no fim do túnel era coisa para sonhadores. Hoje sei que fui parte de geração órfã de esperança. Que nasceu e cresceu ao som (ou barulho) da propaganda do Brasil grande durante a ditadura. Por toda parte, diziam que era potencia emergente, pais do futuro, que vai para frente. Que ninguém segurava. E, de vez em quando, um sussurro aqui, um gemido ali, e dor por toda parte. Sempre vindo dos porões.

Adolescente, as coisas começaram a mudar. Diziam que era culpa do petróleo. Crise externa, enfim. Mas dentro das fronteiras, o futuro já não tinha o brilho de antes. E o presente, sem duvida, estava mais feio.

E vieram os anos 1980. Desastre. O futuro havia chegado, mas tinha cara de mentira, desilusão, tristeza. A gente não soube escolher presidente. A gente não soube tomar conta da gente. A gente pediu dinheiro e não conseguiu pagar. A gente jogou bola e não consegui ganhar. Foi, realmente, uma década inútil.

Mas Antonio via as coisas diferentes. Dizia que, se a gente olhasse de uma perspectiva histórica, o país tinha avançado muito no ultimo século. Que a crise era passageira. Explicou-me que, antes do século XX, nem manteiga era industrialmente fabricada no Brasil. Era muita informação. E bons argumentos. Na falta da internet para verificar cada detalhe dos argumentos, Antonio me convenceu. Comecei eu também a procurar a luz no fim do túnel.

Vieram os anos 1990 e a luz parecia jamais chegar. Era uma no cravo, outra na ferradura. Sempre um sacrifício justificado pelos erros do passado e somente possível pela promessa de um futuro (ele de novo) melhor onde os frutos seriam colhidos.

Já na passagem do milênio, pareceu que a geração dos órfãos de esperança poderia ser resgatada. Eleições, transição pacifica, casa em ordem. Finalmente tanto sacrifício, tanto esforço, parecia fazer sentido.

Até que a gente decidiu pela auto sabotagem. Pelo culto a ignorância. Pela tolerância ao erro. Pela corrupção da alma e das coisas. Tudo isto enquanto, distraídos, pisávamos nas estrelas, empenhando o futuro para aproveitar o presente. Acreditamos no almoço grátis.

E foi no meio disso tudo, que um dia Antonio me ligou. “Me mudo para a Europa no mês que vem. Não volto mais!”, disse ele. Fiquei chocado. Lembrei-me de seus argumentos. Da crise passageira. Da manteiga. Perguntei sobre a luz no fim do túnel. Não existia? “Existia sim. Era um trem.”, respondeu ele sem pestanejar.

Antonio, sempre pragmático, preferiu estar certo a ser coerente. E foi morar na Europa.

Lula roda um filme tipo B e reivindica um épico

Não dá para imaginar os executivos da OAS e da Odebrecht, pés sobre a mesa, copo de uísque na mão, charuto entre os dedos, calculando quanto da rapina na Petrobras caberia ao Lula. Segundo o Datafolha, a maioria dos brasileiros acha que houve toma-lá-dá-cá. Os governos do PT azeitaram negócios para as construtoras e, em troca, essas empresas beneficiaram Lula com reformas no tríplex do Guarujá e no sítio de Atibaia. Esse seria o filme classe B, a simples reiteração da tomada do Estado brasileiro por uma quadrilha e sua descoberta por jovens procuradores e agentes federais depois que a prataria já havia sido vendida.

O filme verdadeiro deve ser um épico, salpicado de nuances psicológicas. Nele, Luís Inácio, no papel de Lula, é um homem convencido de sua missão divina e dos privilégios que ela lhe concede. Personagens como os empreiteiros e o primeiro-amigo José Carlos Bumlai são apenas escudeiros providenciais, versões pós-modernas de Sancho Pança. Todos com as algibeiras recheadas com verbas do BNDES e dos cofres de estatais. O papel dos escudeiros é o de livrar Lula dos cuidados banais, como a conta das reformas do sítio e do tríplex, a montagem das cozinhas planejadas, a troca do assoalho, a instalação do elevador privativo…

Na festa de aniversário do PT, Lula disse que anda de “saco cheio” com os inimigos, com a imprensa e com os procuradores e magistados que se curvam para as manchetes. Natural que Lula se sinta injustiçado, acossado não pela indignação moral da sociedade, mas pela mesquinhez das pessoas, pela incapacidade geral de reconhecer que tudo que lhe caía no colo, viesse de onde viesse, não era mais do que o merecido. Que diabos, ele saiu de Garanhuns para dar dinheiro do BNDES aos ricos e dignidade aos pobres! Isso já o distinguia como um cidadão especial, portanto merecedor de favores excepcionais.

No STF, a defesa de Lula pediu a suspensão das investigações sobre o tríplex e o sítio. Os advogados reiteraram que o apartamento não pertence a Lula. Quanto ao sítio, registrado em nome de dois sócios de Lulinha, alega-se que foi comprado por iniciativa de um velho amigo, Jacó Bittar, para que o ex-presidente da República pudesse “acomodar” os objetos que ganhou do “povo brasileiro”. Como oas instalações eram precárias, o primeiro-amigo Bumlai ofereceu-se para reformá-lo. Ouvido, o advogado de Bumlai levou o pé atrás: “Só se a Odebrecht for propriedade de Bumlai, o que não me consta.''

Seja como for, julgar Lula pela generosidade com que foi tratado por amigos e congêneres seria julgá-lo como um presidente qualquer. E Lula foi eleito duas vezes com a promessa de que não seria um presidente qualquer. Lula passaria pelo Planalto como a “alma viva mais honesta” que Lula já conheceu. Tem todo o direito de estar de “saco cheio”. Seus eleitores votaram nele porque queriam a diferença. Agora, reclamam da diferença. Dizem que a OAS, a Odebrecht, o Bumlai, o Jacó Bittar, os sócios do Lulinha não faziam parte da diferença. Queriam um Messias. Mas com horário comercial e limite de saque.

No filme B, Lula seria um espertalhão que engana todo mundo e impõe uma trama conhecida: os amigos comercializam sua influência no governo, enriquecem à base de propinas e dividem o proveito com o presidente. No enredo épico, Lula e o Brasil se enganam mutuamente. Lula, reivindica para si um figurino de idealista incompreendido. Vira protagonista de inquéritos graças às más-companhias e à campanha de perseguição. Um final tipo B seria mais realista. Mas Lula avalia que o Brasil merece uma tragédia grandiosa. A autoestima nacional não resistiria a um enredo simplório, em que que tudo não passasse de uma vigarice banal.

É o fim do caminho

“A liberdade é vermelha”, escreve num post de Paris Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana. É uma alusão a uma trilogia de filmes inspirados nas cores da bandeira francesa. O primeiro deles se chamou “A liberdade é azul”. É compreensível que Mônica Moura tenha escolhido o vermelho entre as cores da bandeira. E que tenha escolhido a liberdade do lema da Revolução Francesa, que também conta com fraternidade e igualdade.

João Santana e Mônica ficaram milionários levantando a bandeira vermelha, no Brasil, na Venezuela, com as campanhas agressivas do PT e do chavismo. Com os bolsos entupidos de dólares, a liberdade é vermelha, pois à custa da manipulação dos eleitores latino-americanos, João Santana e Mônica Moura podem viajar pelo mundo com um padrão de vida milionário.

Mas chega o momento em que a cadeia é vermelha, e Mônica Moura não percebeu essa inversão. Nas celas da Polícia Federal e do presídio em Curitiba, o vermelho predomina. José Dirceu, Vaccari, o PT é vermelho. Marcelo Odebrecht, a Odebrecht é vermelha, basta olhar seus cartazes.

Evolucao da Filosofia Lula x Socrates So sei que nada sei

Uma vez entrei na Papuda e filmei uma cela vermelha com o número 13. Os condenados do mensalão estavam a ocupar o presídio. A divulgação da imagem foi um Deus nos acuda, insultos: as pessoas não têm muita paciência para símbolos. Mônica Moura fala esta linguagem. Se tivesse visto o take de seis segundos da cela vermelha, ela iria buscar outra cor para a liberdade.

A situação de Dilma e a do chavismo convergem para um mesmo ponto: tanto lá quanto aqui a aspiração majoritária é derrubá-los do poder. João Santana, num país onde se valoriza a esperteza, foi considerado um gênio. Gênio da propaganda enganosa, dos melodramas, dos ataques sórdidos contra adversários. O único critério usado é a eficácia eleitoral avaliada em milhões de dólares, certamente com taxa extra para os postes, Dilma e Haddad.

Sua obra continental se espelha também no resultado dos governos que ajudou a eleger: Dilma e Maduro são rejeitados pela maioria em seus países. O que aconteceu na semana passada é simplesmente o fim do caminho. Com abundantes documentos, cooperação dos Estados Unidos e da Suíça, não há espaço para truque de marqueteiros.

O dinheiro de Santana não veio de fora. Saiu do Brasil. Saiu de uma empresa que tinha negócios com a Petrobras, foi mandado para o exterior por seu lobista Zwi Skornicki. E saiu também pela Odebrecht.

A Lava-Jato demonstrou que a campanha de Dilma foi feita com dinheiro roubado da Petrobras. E agora? Não é uma tese política, mas um fato, com transações documentadas.

Na semana passada ouvi os panelaços por causa do programa do PT. O programa foi ao ar um dia depois da prisão de João Santana. Mas o tom era o mesmo, uma mistificação para levantar os ânimos. E um pedido de Lula: parem de falar da crise que as coisas melhoram.

Em que mundo eles estão? Em 2003, já afirmei numa entrevista que o PT estava morto como proposta renovadora. Um pouco adiante, com o mensalão, escrevi “Flores para los muertos”, mostrando como uma experiência que se dizia histórica terminou na porta da delegacia.

Na semana passada, escrevi “O processo de morrer”. Não tenho mais saída exceto apelar para “O livro tibetano dos mortos”, que dá conselhos aos que já não estão entre nós. O conselho é seguir em frente, não se apegar, não ficar rondando o mundo que deixaram.

Experimentei aquele panelaço como uma cerimônia de exorcismo: as pessoas saíam às janelas e varandas para espantar fantasmas que ainda estavam rondando as casas. Poc, poc, poc. Na noite escura, o silêncio, um grito ao longe: fora PT. E o PT na tela convidando para entrar nas fantasias paradisíacas tipo João Santana, já trancafiado numa cela da PF em Curitiba.

Simplesmente não dá para continuar mais neste pesadelo de um país em crise, epidemia de zika, desemprego, desastres ambientais, é preciso desatar o nó, encontrar um governo provisório que nos leve a 2018.

De todas as frentes da crise, a que mais depende da vontade das pessoas é a política. Se o Congresso apoiado por um movimento popular não resolver, o TSE acabará resolvendo. Com isso que está aí o Brasil chegará a 2018 como um caco, não só pela exaustão material, mas também por não ter punido um governo que se elegeu com dinheiro do assalto à Petrobras.

É hora de o país pegar o impulso da Lava-Jato: carro limpo, governo derrubado, de novo na estrada. É uma estrada dura, contenções, recuperação da credibilidade, quebradeira nos estados e cidades. É pau, é pedra, é o fim do caminho.

A semana, com a prisão do marqueteiro do PT e os dados sobre as transações financeiras, trouxe mais claramente o sentido de urgência. E a esperança de sair desta maré.

O Brasil na muda

Nada melhor para definir o atual perfil da classe política brasileira do que reconhecermos, em todos os níveis, que ela se acha na muda. Nos pássaros, trata-se do período que vem depois da reprodução, geralmente entre janeiro e maio de cada ano; eles perdem as penas, comem menos, têm seu metabolismo alterado e não cantam. Mais ou menos assim se veem nossos homens públicos: estão mudando, muitos de partido, outros de ideias, sempre ao sabor da própria conveniência ou do grupelho que os acompanha e sustenta. Ontem, numa roda de pessoas de razoável conhecimento dos fatos, ninguém foi capaz de sugerir um nome que pudesse tomar pelas mãos a responsabilidade de conduzir um Brasil a cada dia mais desgovernado, mais debilitado e mergulhado num abismo sem volta como o que estamos assistindo. Quando se diz um nome, obviamente, não se admite ser um aventureiro, ou um produto de marketing político, ou um falastrão apaixonado pela própria imbecilidade. Também não se cogita de um golpe militar, uma quartelada, porque se a crise evoluiu para piorar os civis, ela também arrastou os militares. Alastrou-se. Piorou geral.

O que dizer de um momento em que não se consegue identificar num Congresso de quase 600 senadores e deputados um, dois ou três nomes, para haver disputa, que traga nas mãos um programa confiável, concebido com responsabilidade especialmente em relação à garantia de seu cumprimento, no qual seja origem e destino a sociedade brasileira, na sua amplitude? Programas de partidos no Brasil sempre foram peças escritas para formalizar seu registro legal. Alguém sabe o que defendem nossos quase 40 partidos políticos? Pelo que lutam? Ninguém, especialmente seus membros e, mais especialmente ainda, se pesquisarmos suas ações. Nossos partidos são ajuntamentos, acampamentos de interesses e de brigas menores.

O tempo passa e suas consequências são implacáveis. A inflação vai bater 12% neste ano; podemos esperar. Os juros bancários, para matar os tomadores de cartões de crédito e do cheque especial chegaram a 500% ao ano. Mais do que uma imoralidade, um crime de que deveriam merecer julgamento sumário os nossos banqueiros, para condená-los à pena de morte. Saúde, educação, segurança e infraestrutura sem verbas para seu atendimento, ainda que da forma precária como faz o poder público. Mais de 100 mil estabelecimentos comerciais foram fechados no Brasil nesses últimos meses. A indústria não produz e não entrega produtos atualizados porque não tem fomento; tem a fome que lhe impõe uma carga tributária monstruosa, uma legislação trabalhista que inviabiliza as relações dos empregados com seus empregadores, o ativismo de pseudo-ambientalistas enfurnados em conselhos, câmaras, ONGs, montadas, na sua grande maioria, para fabricar consultores e facilitários.

Nesse quadro de miséria o que se discute em Brasília? Se o STF vai processar e mandar prender Eduardo Cunha e Renan Calheiros, em cela única ou separada; se o melhor para o país seria o impeachment de Dilma, ou a cassação da chapa eleita Dilma/Temer; se o Delcídio deve ou não voltar ao Senado. E eu, você, nós, os comuns, pagando a conta. Nós também somos responsáveis. Somos a expressão da muda.

O lugar deles já se sabe: a lata de lixo da História

Em termos de marketing político e de propagação de mentiras, João Santana é mesmo uma fera! Mas em termos de planejamento tributário, o homem não passa de um analfabeto. Cometeu erros contábeis-tributários primários. Se houvesse qualquer problema com a Receita Federal, provavelmente este crápula contava que a presidente Dilma convocaria o capacho (digo, o Cartaxo) ou mesmo o Jorge Rachid, e estaria tudo resolvido.

Isso poderia valer até 2014. Afinal de contas, Dilma botou para correr a ex-secretária Lina Vieira, que ousou querer fiscalizar a Petrobrás em 2009. Os tempos mudaram, não tem mais Lula, Dilma ou Rachid que dê jeito para esses quadrilheiros! Até mesmo porque as próprias batatas deles estão assando!É a famosa lei do retorno! Na última campanha eleitoral, o bruxo assumiu deliberadamente a mentira e a propagação do ódio, para “desconstrução” dos adversários, Marina Silva que o diga!

É o famoso ditado “quem semeia vento colhe tempestade”! Essa gente, o bruxo marqueteiro, Dilma, Lula, Marilena Chauí e os petralhas de modo geral só souberam destilar mentiras e segregação na campanha eleitoral. A débil mental da Chauí inclusive declarou que odiava a classe média!

O castigo está vindo a cavalo, o país está ingovernável e essa gente terá que suportar o ódio de milhões e milhões de brasileiros enganados, roubados e vilipendiados por essa gentalha!

Depois, ficarão eternamente colocados no seu devido lugar: a lata de lixo da História!

Mal das 'esquerdas'

Os países da América do Sul enfrentam com maior intensidade as implicâncias de um crescimento econômico não inclusivo, que mostram governos que não solucionaram problemas como a desigualdade e que são respingados pela corrupção e a ineficiência na aplicação de políticas públicas ou de reformas estruturais
Guillermo Holzmann, professor chileno de ciências políticas da Universidade de Valparaíso (Por que líderes de esquerda sul-americana estão perdendo popularidade)

João Santana e o PT, uma mistura destrutiva

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Estranhe não. Preferir a versão ao fato e a mentira à verdade não é opção incomum. Muitas vezes é o mais conveniente para quem faz a escolha. Negar verdade conhecida e desprezar fatos pode ser colo protetor onde consciências em conflito são acalentadas. Por isso, entendo perfeitamente a atitude de quem, sem ser pago para tanto, prefere afirmar que nunca como nestes anos, o Brasil foi governado por seres tão generosos e movidos por tão virtuosas intenções.

“Generosos que enriqueceram? Virtuosos que ocultaram suas reais intenções?”, perguntará o leitor já perdendo a paciência. E se fizer tais perguntas prepare-se para receber os rótulos de coxinha, golpista, fascista e inimigo dos pobres. Quem senta no colo da ilusão não está ali só pelo aconchego.

Escrevo estas linhas pensando no João Santana, publicitário do PT que está preso. Existem publicitários que atuam em área protegida pelo direito do consumidor, cuja liberdade de criação está confinada pelos limites do que seja verdadeiro a respeito daquilo que promovem. Outros, porém, atuam na política, segmento de mercado não alcançado pelo direito à informação honesta. Mesmo assim, todos os profissionais sérios, que reconhecem ser a política mais importante do que o marketing eleitoral, têm como parte relevante de sua tarefa trabalhar o cliente para que ele faça o melhor de si mesmo.

Há publicitários assim, eu os conheço. E há o João Santana, marqueteiro do PT, muito bem sucedido na arte de vender lebre e entregar bichano. Em 2006, depois que a oposição optou por deixar o “Lula sangrar” até a eleição, o João estancou a hemorragia, suturou os cortes, refez a imagem e entregou Lula ao eleitor, puro como cristal da Boêmia.

Em 2010, João (contando não se acredita!), convenceu a maioria dos eleitores de que Dilma era uma grande gestora, braço direito de Lula, estadista qualificada, mãe do PAC, padroeira do pré-sal. Em 2014, quando poucos ainda levavam a sério essa descrição, fez tudo de novo. Foi a simbiose instalada entre o marqueteiro João e o PT, a grande vitoriosa das três últimas eleições presidenciais brasileiras.

Estamos falando, aqui, de um talento a serviço do desastre nacional. E também falamos de um partido político que, ao montar um discurso, ao elaborar uma peça publicitária, como vimos há poucos dias, deixa de lado a verdade, os fatos, aponta para todos os lados e jamais – jamais! – em circunstância alguma, aponta para o próprio e comprometido peito. Perigoso, muito perigoso!

Porque me desfiliei do PT

Eu ainda era uma adolescente quando me identifiquei com os ideais do PT. Era aluna de um colégio religioso, onde sempre aprendi a ter um olhar mais acurado para os mais necessitados. Foi nas salas de aula desse colégio que conheci minha professora de Religião, Cleonice, que era um exemplo de ética e comprometimento, que despertou em mim valores que trago até hoje.

Cleonice foi candidata a vereadora pelo PT em 1988 e tornou-se um modelo de luta política para muitos de seus alunos, como foi para mim. Anos depois, meu pai também filiou-se ao PT, e os ideais que havia aprendido nas cadeiras escolares eram uníssonos com meu seio familiar. Com orgulho, finalmente, me filiei ao PT.


Chorei de emoção com a posse do Lula. Aquele operário tinha, finalmente, alcançado o lugar pelo qual tanto lutou. Era a voz de milhões de brasileiros que, assim como ele, tinham origem humilde. Os avanços dos programas sociais dos governos do PT são inquestionáveis; a mudança no cenário da fome e da miséria não pode ser ignorada! Mas o PT era muito mais que isso. Era um partido que combatia os corruptos, que pediu o impeachment do Collor, que denunciou inúmeras atividades ilícitas dos governos anteriores e que sempre nos fez acreditar que, quando chegasse ao poder, faria uma varredura pela ética e moral e que nos levaria a pensar: por que eles não chegaram ao poder antes?

Assumiram o poder com a sede de justiça social, esquecida até então, mas mantendo os mesmos esquemas de corrupção e práticas conservadoras para ter sempre o apoio de uma base aliada e governável. Com o avanço das investigações da operação Lava-Jato, ainda que alguns princípios constitucionais estejam sendo ameaçados, ainda que a balança das investigações esteja pesando um pouco mais para o lado esquerdo, compreendemos o quão endêmica é a corrupção no nosso país e o quanto é difícil de mudar esse sistema quando se chega ao poder. Ser defensor da ética e primar pela lisura no que diz respeito aos interesses públicos significa encontrar barreiras quase intransponíveis para governar e sofrer todo tipo de oposição pelo simples fato de mexer no bolso daqueles que buscam a política apenas para enriquecer e participar de esquemas de lesão ao Erário.

Como dizia Cazuza, o poeta visionário que nos deixou precocemente: “Meus heróis morreram de overdose.” É o sentimento que tenho hoje. Perdi meus heróis políticos, pessoas que, para mim, eram honradas e éticas e que se corromperam pelo sistema como jamais imaginei que se corromperiam. Senti-me uma órfã política, parte da minha identidade política moldada ainda na adolescência trazia uma estrela cravada no peito. Eles morreram de uma overdose de poder, de impunidade, de falta de compromisso com uma história partidária, com uma história de luta e de um sonho que nutrimos por décadas e décadas. Nossa estrela maior era a ética.

Em outubro de 2015, desfilei-me do PT, seguindo os passos do meu pai, e desoPTei em fazer parte de um partido que já não traz consigo mais nenhum ideal do que foi outrora. Nem os trabalhadores eles defendem mais, nem as mulheres eles defendem mais. Então, diante de todo o cenário negativo que pairava sobre o partido, acreditava que nada mais poderia piorar. Até que, para minha surpresa, um prefeito de um município do Estado do Rio, eleito pelo PT, vem a público defender o pré-candidato a prefeito do Rio, que agrediu sua mulher, dizendo que “qualquer um já perdeu a cabeça um dia”.

Quando li essa declaração infeliz, tive certeza de que havia tomado a decisão certa, ainda que tenha sido dolorosa pela história política que vivenciei. Quem agride uma mulher, uma, duas vezes, não pode ocupar nenhum cargo no poder. O PT, mais uma vez, escolhe caminhos duvidosos ao apoiar a candidatura do agressor, em troca do apoio do seu partido na base do governo federal.

A todos esses que defendem ou minimizam a atitude do pré-candidato à prefeitura do Rio, eu os respondo também com os versos de Cazuza: “Meus inimigos estão no poder”! Como é que o partido da presidenta, o partido que no governo está construindo a Casa da Mulher Brasileira (espaço para acolhimento às mulheres vítimas de violência), defende um agressor de mulher? Não encontro tal resposta, tampouco consigo compreender onde tudo se perdeu? Apenas sei que se continuasse a compactuar com eles, também estaria perdida. Lutar contra os “inimigos das mulheres” é meu ponto de partida.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Lula faz da festa do PT um palco de molecagens

A festa de 36 anos do PT foi um fracasso.

O partido alugou, no Rio, um espaço onde caberiam quatro mil pessoas bem acomodadas.

No seu melhor momento, a festa, animada pelo cantor Diogo Nogueira e a bateria da escola de samba Portela, só atraiu 1.500 pessoas, se tanto.

O PT esperava, pelo menos, três mil pessoas.

A assessoria de Diogo fez questão de informar que ele não tem vínculo com o PT. Para ele, o show foi como outro show qualquer.

Com medo de vaias, a presidente Dilma preferiu manter-se à distância. Estendeu sua visita oficial ao Chile.

Ouviu-se os gritos de sempre. A saber: “Dirceu/guerreiro/do povo brasileiro” – uma alusão ao ex-ministro José Dirceu, condenado pelo mensalão e preso novamente na Operação Lava Jato.

Também: “Não vai ter golpe”. Ou ainda: “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma.”



Naturalmente, a estrela da festa foi Lula. Que aproveitou a ocasião para bater na Justiça, a quem acusou de ser subordinada aos jornais; na mídia e nos seus adversários. Aproveitou para fazer molecagens.

Moleque, segundo o Dicionário do Aurélio, é sinônimo de canalha, patife e velhaco. Mas pode ser sinônimo de pilhérico, trocista e, jocoso.

Digamos que as molecagens de Lula foram as de um sujeito pilhérico, trocista e jocoso.

Ao falar pela primeira vez de público sobre o sítio de Atibaia frequentado regularmente só por ele e sua família, Lula disse que o recebeu de presente do amigo Jacó Bittar, ex-sindicalista, doente, a quem ele visitou às escondidas no último carnaval.

O filho de Bittar, que não tinha dinheiro sozinho para comprar o sítio, associou-se ao empresário Jonas Suassuna para fechar o negócio. O sítio está no nome dos dois.

- Todo mundo aqui conhece o Jacó Bittar, meu companheiro. Ele inventou de comprar uma chácara, fez uma surpresa para mim. Jacó e meus companheiros quiseram comprar a chácara para me fazer surpresa – contou Lula.

Ele não comentou a reforma do sítio feita pela Odebrecht. Mas em petição ao Supremo Tribunal Federal, a defesa de Lula afirmou que a reforma foi feita por José Carlos Bumlai, preso pela Lava-Jato.

No final do ano passado, Lula negou que fosse amigo de Bumlai. Fotografias de Bumlai com Lula provaram a amizade.

Lula falou sobre o tríplex no Guarujá:

- Eu digo que não tenho o apartamento. A empresa diz que não é meu. E um cidadão do Ministério Público, obedecendo ipsis literis o jornal 'O Globo' e a 'Rede Globo', costuma dizer que o tríplex é meu".

Ironizou o imóvel como "tríplex do Minha Casa Minha Vida, de 200 metros quadrados".

O Lula fanfarrão de sempre aproveitou o resto do seu discurso para dizer coisas do tipo:

* “O Lula paz e amor vai ser outra coisa daqui para frente”;

* “Eu queria dizer para eles: vocês não vão me destruir, vamos sair mais fortes dessa luta";

* "Se quiserem voltar ao poder, se preparem para 2018 e vamos disputar democraticamente. Sacanagem a gente não aceita";

* "Temos um partido chamado Globo, um partido chamado Veja, um partido chamado Outros Jornais, que são a oposição desse país”;

* "Os petistas não podem levar desaforo para casa toda vez que falarem merda da gente".

O discurso de Lula coincidiu com a divulgação dos resultados da mais nova pesquisa Datafolha. Ela apurou que:

1. Governo Dilma segue rejeitado por 64% dos brasileiros. Outros 60% querem que a Câmara dos Deputados aprove o impeachment de Dilma;

2. 33% dos brasileiros revelam ter votado em Lula sempre que tiveram a chance de fazê-lo de 1989 para cá. Desses, um terço descarta votar de novo em 2018;

3. 58% dos brasileiros acham que Lula foi beneficiado por empreiteiras no caso do triplex do Guarujá e do sítio em Atibaia. E que Lula as beneficiou nos seus dois governos. O famoso toma-lá-me-dá-cá;

4. Mesmo entre simpatizantes do PT, um terço acha que Lula se beneficiou de empreiteiras no caso do triplex e do sítio.

O Judiciário e o Polegar da Turba

Não é de hoje que se atribui ao Judiciário a tentativa de politizar a Justiça, situação que acaba conseguindo na esteira do vácuo legislativo.

O argumento sempre lembrado é o de que o Poder Legislativo deixou muitos artigos da Constituição de 88 sem regulamentação, abrindo uma janela para o Supremo Tribunal Federal avançar na função de formar entendimento sobre demandas que chegam à Corte.


Em alguns casos, diz-se, estariam os magistrados extrapolando o ofício restrito de jus dicere (interpretar a lei) e adotando a função de jus dare (fazer a lei). Veja-se a recente decisão da Suprema Corte de autorizar o encarceramento de condenados na 2ª. Instância, relativizando a cláusula pétrea da presunção de inocência, inserida no inciso LVII do artigo 5º da Constituição de 1988, pela qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

De tão impactante, a visão adotada pelos magistrados dá impressão de que um novo dispositivo foi inserido na Carta Magna. A mais alta Corte não só teria legislado, mas cumprido a tarefa de uma Assembleia Constituinte, eis que uma cláusula pétrea, nos termos do artigo 6º, inciso 4º. da CF, não pode ser objeto de deliberação nem por proposta de emenda constitucional. Tal alternativa só seria possível por meio da instalação de um novo Poder Constitucional Originário, a quem cabe produzir nova Constituição Federal.

O que justifica a decisão do STF? Alguns fatores: o inconformismo social sobre a impunidade e a morosidade da justiça; a recorrência ao exemplo do sistema penal norte-americano, que permite o encarceramento após condenação na primeira instância; ou a prisão após a condenação em 2ª instância conforme muitos países o fazem.

São relevantes as razões que justificam o entendimento do Supremo, até pelo fato de que o Brasil é um dos poucos países a adotar o critério de aguardar o julgamento do último recurso para prender o condenado. Ocorre que a maneira surpreendente (sem grande discussão) como a Corte interpretou um princípio imutável, como cláusula pétrea, causou perplexidade, sugerindo que outros estatutos semelhantes poderão ser modificados sob o clamor das ruas.

A permissão para a Receita Federal ter acesso às contas dos contribuintes sem autorização judicial integra também a pauta de receios com que são recebidas certas decisões do STF.

Pergunta-se: não se trata de mais um caso de invasão de privacidade? Ou vale a versão de que, na era da invasão da vida privada pelas redes de comunicação eletrônica, inexiste espaço para o sigilo? Será que o órgão que interpreta a Constituição passou a se guiar por uma bússola que muda de acordo com o vento, trocando a clássica função de “garantidora” do império legal por uma interpretação frouxa de normas?

Essa é uma hipótese a ser considerada. Pincemos Ortega y Gasset: “o homem é o homem e suas circunstâncias”. Significa intuir que o Supremo passou a levar em conta demandas sociais e temporais, fatos que o circundam, a textura da política, ou, concretamente, os escândalos e denúncias que, nos últimos anos, solapam a crença nas instituições. Há muito tempo, o Judiciário brasileiro parece incomodado com o grito das massas: “justiça para todos e chega de impunidade”.

Para alcançar esta meta, porém, pode o Supremo imprimir um modus operandi diferente do traçado que orienta seu escopo funcional? Francis Bacon, em 1597, já escrevia: “os juízes devem ser mais instruídos e reverendos do que aclamados, mais circunspectos do que audaciosos”. Antigamente a frase mais ouvida no ambiente do Direito era: “juiz só fala nos autos”. Ora, o que mais se ouve hoje é juiz falando fora dos autos, opinando, fazendo pré-julgamentos, elogiando, criticando, antecipando posições e até votos em processos.

Outro conceito: o juiz é, antes de tudo, um cidadão. Essa seria mais uma abordagem usada pela (nova) magistratura para justificar postura mais condizente com a atualidade. Emerge a figura do juiz-cidadão cumprindo missão em favor da polis.

A política, pois, também corre nas veias dos protagonistas da Justiça. Interpretar a lei, condenar desvios, aplicar a justiça seriam tarefas encarnadas pelo ideário concebido por Aristóteles. Nesse sentido, há um traço de união entre magistratura e política. Mas persiste a dúvida: será que a hermenêutica jurídica não atende a interesses de setores e grupos? Difícil acreditar nisso, mas é uma hipótese. O fato de um juiz de uma alta Corte ser escolhido em lista tríplice pela presidente da República não contamina julgamentos futuros com o óleo da retribuição?

A Constituição de 88 também acabou conferindo à Suprema Corte traços políticos. Nossa Lei Maior acaba sendo a ponte estreita que liga Justiça e Política. Por conseguinte, densa massa política acaba batendo na mesa dos magistrados. Ademais, o rol de direitos e garantias concedidas aos cidadãos, na esteira da implantação do Estado Democrático de Direito, a partir de 88, acarreta expansão da litigiosidade.

Conflitos de toda a ordem abarrotam as gavetas dos Tribunais. A sociedade organizada, por sua vez, forma amplas camadas de pressão. Ministros, monitorados em tempo real pela mídia televisiva da Justiça, juntam-se a outros atores do Estado-Espetáculo, na preocupação com questões de forma, não apenas de fundo. Donde surge mais uma dúvida: o espetáculo midiático baliza decisões?

Apesar desta leitura parecer negativa, é oportuno dizer que o Judiciário é o Poder mais respeitado do país. O que se põe em xeque é o perigo da Justiça comprometer seu ideário com locução “política” e a tendência crescente de entrar em veredas que não são suas. Por que o STF insiste em adentrar o regimento da Câmara? Dedo para cima ou dedo para baixo? Esse era o gesto que a turba fazia no Coliseu Romano quando os gladiadores recebiam o veredicto de vida ou morte. O imperador deixava o lutador viver ou morrer, atento ao grito da massa. Magistrados, cuidado!

No alvo errado


Já virou um procedimento de rotina para o ex-presidente Lula e todo o seu sistema de apoio, nessa miserável cachoeira de suspeitas que não para de jorrar em torno dele. Em vez de apresentar um mínimo de fatos capazes de atestar que é um homem decente, e afastar pelo menos o grosso das desconfianças que construiu em torno de si próprio, o principal líder político do Brasil se escondeu de novo. Deveria responder a algumas perguntas num fórum criminal de bairro em São Paulo — coisa que qualquer cidadão com a vida em ordem seria capaz de fazer sem o menor problema. Mas não. De tudo o que podia fazer de ruim, escolheu o pior: simplesmente não foi ao interrogatório, aproveitando-se de um desses truques burocráticos que a Justiça brasileira oferece a toda pessoa que tem dinheiro, influência e advogados suficientes para impedir que a lei se aplique a ela. Por que não foi? Pelo mesmo motivo, exatamente, que o manteve de boca fechada, até agora, em relação a tudo o que vem sendo dito sobre sua conduta: não consegue dar, nem com a assistência dos mais distintos criminalistas do país, uma única resposta que possa ser levada a sério sobre os benefícios pessoais inexplicáveis que vem recebendo de empreiteiras de obras públicas.

genildoResolve alguma coisa? Não resolve. As perguntas só irão embora no dia em que forem respondidas. Lula, o PT e o seu mundo ganharam mais algum tempo; em compensação, o ex-presidente vai tomando cada vez mais indiscutível sua reputação como homem que foge da raia. Parece que estão tentando botar de pé, na sua usina de marketing, a imagem de Lula como um novo “Cassius Clay”, o boxeador que passou nas cordas toda uma de suas lutas mais célebres — até reagir e mandar o seu adversário para a lona. Há um problema complicado com essa comparação: Cassius Clay só ganhou porque compareceu ao ringue no dia marcado para a disputa. Mas a regra número 1 para Lula é sumir: em vez disso, acusa os adversários. Neste último episódio, sua tropa falou de “linchamento”, tentativa de “impedir” sua candidatura à Presidência em 2018, guerra da elite ao seu “legado” e o resto da ladainha de sempre. É como se Clay, em vez de subir no tablado, ficasse xingando George Foreman lá no meio da plateia. Parecem ter esquecido que não estão numa campanha eleitoral, e sim diante da Justiça penal — não adianta enganarem o eleitorado, pois quem precisa acreditar no que dizem é o juiz. Estão atirando no alvo errado.

A fuga permanente de Lula não chega a piorar sua imagem junto aos milhões de brasileiros que, já faz muito tempo, desistiram de acreditar nele. Seu problema, a partir de agora, parece ser com os outros milhões que são seus eleitores, simpatizantes e irmãos de fé — essa multidão de gente sem rosto, sem nome e sem triplex que vota nele, briga por sua reputação e não ganha nada com isso. Lula sempre achou que esse povo engole tudo; tem uma credulidade e uma paciência sem limites. Vai continuar assim para sempre? Diante das perguntas a que seu líder não responde, talvez comece a perder o interesse em ouvir Lula falando pela milésima vez no “legado”, no “operário” que cuida dos pobres, na boa fortuna que trouxe a eles. Pode estar se enchendo com as histórias de que Lula é importante para “o futuro do mundo”, ou que a “elite” inventa todas as acusações contra ele. Tudo bem, mas não é isso que essas pessoas estão perguntando hoje, nas viagens de três horas até o trabalho ou na procura do emprego que perderam. Querem saber a troco de que empresas pagam reformas caríssimas no sítio que Lula “frequenta” — um lugarzinho meia-boca, segundo diz agora o seu estado-maior, mas que para 99% dos brasileiros é um sonho que não vai se realizar até o fim da sua vida. Por que manda para um sítio que não é dele uma mudança com 200 caixas? Por que lhe pagam uma cozinha de 130 000 reais, mais do que vale uma casa inteira no Brasil real? Por que a empresa de telecomunicações que ganhou do ex-presidente um favor “top de linha” instalou uma torre de celular ao lado do bendito sítio? Por que seus filhos moram de graça? Por que sua vida é cercada pelos quatro cantos por empreiteiras de obras públicas — e estaria certo Lula receber tanto dinheiro delas?

Lula vem fracassando dia após dia na batalha para mostrar que não está escondendo nada, como acaba de comprovar mais uma vez com sua recusa em responder a perguntas do promotor público. O que pretenderia, então? Passar assim o resto da vida?

O mosquito

Parece que este ilustre tatame, na profusão de assuntos a serem abordados, distancia-se de alguns involuntariamente. É uma tática. É claro que não acuso meu grande irmão de adotá-la, mas a “imprensa da forma geral” é pródiga em inventar terremotos sob medida para isentar de culpa quem permite que barragens de dejetos sejam abarrotadas de lama até o topo, sem qualquer compromisso com a segurança e a qualidade do projeto. Os assuntos simplesmente “caem no esquecimento” quando interessa, enquanto uma Smartmatic é desmontada e vendida como sucata para simpatizantes do bolivarianismo rampeiro.

Já sabemos, por exemplo, que os acarajés premiados são muito mais que marqueteiros baratos; eles são uma das pontes desse bolivarianismo rampeiro, levando malas de grana brasileira para turbinar campanhas eleitorais de outros ditadores da quadrilha na latrino-américa. É muito pior do que parece. Já disse aqui mesmo que a “classe dos fazedores de campanha política” ─ onde já me enquadrei ─ deveria ser riquíssima com esse mar de grana sendo carreado para os santinhos. A verdade é que essa é a grana da compra de consciências. A bolada na Dilma que não me deixa mentir.

Quantos cretininhos fundamentais fazem parte deste exército de carcamanos a soldo, financiado com o nosso dinheiro público? Conheço alguns cientistas brasileiros que são autênticas jabuticabas nacionais. Não falam de ciência, mas de grana. Como conseguir verbas públicas para tocar suas pesquisas, como falsear os dados para inflar as contas, como transformar suas irrelevantes conclusões em material político e por aí vai.

O assunto em questão é de uma simplicidade que assustaria uma criança: Onde estão os mapas da microcefalia no país? Onde estão os mapas das áreas infectadas, e não dos infectados em trânsito? Essa omissão da verdade comprova que as autoridades do governo jogam com a epidemia como fator de política e de ameaça à população. A desinformação é a arma. Já pensou quanto dinheiro pode ser carreado para uma pesquisa induzida, cujo fim em si é tentar provar a relação entre o zika vírus e a microcefalia?

Vou fazer um prognóstico baseado em pura lógica ─ a mesma que me faz afirmar que não posso assegurar que a Smartmatic tenha fraudado as eleições presidenciais, mas posso afirmar sem medo de errar que ela só poderia tê-lo feito com a cumplicidade das “oposições”. O que os “cientistas” conseguirão provar, depois de comerem toda a grana disponível para estudar o tal mecanismo, é que uma “dupla de fatores” é a real responsável pela doença.

Cobrem-me mais tarde por esta afirmação. É de uma evidência oceânica, fraudada por toda sorte de crendices e vigarismos. Outros países estão monitorando suas grávidas infectadas e até agora nenhuma desenvolveu microcefalia em seus fetos. O surto se restringe ao Nordeste. Não é um indicativo evidente de que não é o vírus o causador da doença, mas um dos vetores indutivos da coisa? Com a palavra, a ciência. A séria, não aquela que vive de pires na mão, inventando terremotos sob medida para livrar a cara do governo em suas falcatruas. Tá feito o desafio.

Língua de feitora

É fundamental que trabalhemos um pouco mais
Dilma Rousseff

A crise anestesiou o Brasil

Pesquisa Datafolha indica que o brasileiro pode estar se acostumando com seu drama. No Brasil de hoje, basta abrir um jornal, uma janela, uma geladeira ou qualquer fresta para dar de cara com a crise. A Lava Jato exibe o pus no fim do túnel. A recessão congestiona a trilha rumo ao olho da rua. E a inflação faz sobrar mês no fim do salário. Porém…

A despeito da progressiva deterioração da conjuntura, houve, desde dezembro, uma redução do pessimismo do brasileiro em relação à situação econômica —pessoal e do país. A taxa de reprovação de Dilma ainda é alta, mas permaneceu praticamente inalterada, na casa dos 64%. Ficou congelado também o percentual de brasileiros favoráveis ao impeachment: 60%. (veja os detalhes aqui)


É como se o país estivesse na UTI, mas anestesiado. A vida cotidiana numa nação submetida à perversão perpétua acaba ganhando contornos de anormal normalidade. As ruas voltaram para casa. Estão sendo intimadas a roncar novamente no dia 13 de março. Mas parecem hesitar. Os primeiros atos de impaciência não surtiram efeito. Quando soube que o heroi da resistência da oposição era Eduardo Cunha, o asfalto foi dormir. Acordou sem culpa, virou o rosto e foi cuidar do seu feijão com arroz.

Nunca antes na história do país uma crise foi tão televisionada. A roubalheira, o desemprego e a carestia não transcorrem num cofre remoto, numa empresa desconhecida ou num supermercado distante. Os fenômenos acontecem, em cores vivas, na sala de estar de todos os brasileiros que escolhem não virar o rosto. O descalabro virou mais uma novela. A diferença é que é mais difícil distinguir mocinhos de bandidos.

A novela atual tem um roteiro de terror. Mas é, essencialmente, um reencontro do brasileiro com a vocação da política para o mal —agora em versão revista e ampliada. Durante anos o país assiste, em capítulos diários, entre comerciais de sabão e inseticida, à mistura da roubalheira com a ineficiência. A propaganda é enganosa. A mancha não sai. E os ratos se multiplicam.

A longo prazo, estaremos todos mortos. A curto prazo, se você consegue manter a cabeça no lugar, provavelmente já virou o rosto. Terceirizou a reação ao juiz Sérgio Moro e à força-tarefa da Lava Jato. E foi cuidar do seu feijão com arroz. Muitos ainda tentam ver o lado bom das coisas. Mesmo que seja preciso procurar um pouco.

Sobre nossos direitos e garantias fundamentais

Uma das maiores conquistas de Getúlio Vargas foi a Previdência Social. Antes da Revolução de 30 inexistiam aposentadorias, pensões, férias remuneradas, proteção do trabalho do menor e da gestante. Aos foram estabelecidos como direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. O diabo é que, com o correr do tempo, muito da teoria desapareceu na prática, em função da teoria revivida do passado.


No passado também imaginou-se implantar direitos iguais para trabalhadores urbanos e rurais, como agora deixou de dar certo. A relação de emprego protegida contra despedidas arbitrárias, ou sem justa causa, perdeu sua indenização compensatória no campo e começa a perder na cidade. Havia seguro-desemprego em caso de demissão involuntária, até a medida provisória da presidente Dilma dar o dito pelo não dito. Depois de dez anos no mesmo emprego, era proibido mandar alguém embora, exceto por justa causa, mas o benefício em 1964 foi trocado por pressão pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, ou seja, o fim da estabilidade pela falta de garantia do trabalho.

O salário mínimo, quando criado em lei, seria capaz de atender as necessidades vitais básicas do trabalhador e sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, vestuário, lazer, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo. Quem sustentará hoje sua família com 800 reais mensais?

Vão naufragando os direitos e garantias fundamentais. Há quem acredite neles?

Lutem por mim, eu mereço!


Ele é o presidente que segue iluminando de esperança o coração do povo mais humilde e já provou, em seus dois mandatos, que o Brasil pode ser o país pioneiro na consolidação de uma autêntica democracia com os pobres dentro 
Documento dos 36 anos do PT definindo Lula

Lula, o líder das massas, agora só consegue movimentar grupelhos em centros de convenções. Perdeu a gordura das mentiras, das bravatas, das maravilhas sem pé nem cabeça. Mais do que tudo. perdeu as ruas. Resume-se a pedir que o defendam da "injustiça". 

No tal encontro de sexta-feira com a intelectualidade (?) engajada, Lula saltou os cachorros contra o Ministério Público, a imprensa (não podia deixar, inclusive proibida de registrar o evento) e a decisão do STF de proibir recursos de condenados em segunda instância.

Qualquer cego enxerga que o ex-presidente se movimenta entre amigos implorando que o tirem (e aos familiares) da cadeia, porque suas maiores críticas são contra a Justiça. Lula foge dela como o diabo da cruz e, como já é seu costume, deixa pelo caminho os amigos rendidos.

O mesmo ídolo da cafajestada, aguerrida em sua defesa, não retribui amizades. Lula é o típico meu pirão primeiro. O egoísmo do grande chefe mostra o primarismo de um aproveitador, felino em subir degraus que procura quebrar a cada subida atrás de si.

Numa rápida consulta à biografia do Flagelo de Garanhuns, pode-se notar que Lula "esquece" os amigos pelo caminho. Quantos deixou para trás? Alguns passam tempo na cadeia ou passaram para poderem pensar melhor sobre a farsa do grande presidente que ajudaram a criar e se mostrou o mais calhorda dos muy amigos.

O mesmo líder, que se puder entrega qualquer um em troca da salvação de sua alma (faz lembrar até o pelego alcaguete em "Assassinato de Reputações: um Crime de Estado", de Romeu Tuma Júnior), se ajoelha neste tempos de Lava-Jato pedindo encarecidamente a ajuda dos fiéis petistas que restaram. Um mero punhado, com exceção dos sustentados com a bolsa mortadela, que só fazem barulho e porradaria. 

Mas qualquer ajuda para Lula está sendo bem-vinda no momento quando o ídolo se mostra feito nas coxas com o mais desprezível dos ingredientes: a ganância dos sem caráter.

Pessoas de bem precisam abandonar a 'cumplicidade'

Não sei, se por desinformação ou desinteresse, as pessoas de bem, quando colocadas frente a estas escórias da humanidade, acabam se curvando. Por exemplo, na área em que atuo (Medicina), vi a dona Dilma e o seu Lula buscarem profissionais da mais alta qualificação para tratarem de suas neoplasias em São Paulo. Recentemente, dona Dilma andou por Porto Alegre para acompanhar o nascimento da neta no hospital Moinhos de Vento, um hospital da elite porto-alegrense. Eu me pergunto? Será que não temos um pouco de culpa de tratarmos lixo como gente e estender o tapete vermelho?

A Medicina preconiza que todo médico é obrigado a atender pacientes em casos de urgência/emergência. Entretanto, casos eletivos ficam a critério médico. Será que vivemos numa sociedade baseada em valores materiais em que o profissional, frente a uma oferta financeira ou de status, fica cego para seus valores morais e acaba sucumbindo?


Será que o mundo não seria diferente se lixo fosse tratado como lixo, parasita como parasita, se a sociedade conseguisse isolar do convívio seres tão perniciosos, que roubam, mentem e matam tão somente pelo poder e dinheiro? Será que, se houvesse estas atitudes de pessoas de bem, estas pragas se perpetuariam?

A impressão que eu tenho é que a sociedade está sendo constantemente estrupada, mas toda vez que o bandido se aproxima, este é tratado como rei. Esta frase é bastante verdadeira: “Entre um governo que faz mal e um povo que consente, há uma certa cumplicidade”.

Problematizando a questão

Cenas de um provável futuro. A mãe repreende a filha de 11 anos por ela nunca lavar um copo depois de usá-lo, e ouve como resposta: "Mamãe, precisamos problematizar uma questão de gênero". A garota quer dizer que não veio ao mundo para lavar copos. Enquanto isso, seu irmãozinho de oito anos pode ser reprovado na escola por ter fracassado na arguição sobre sublevações intestinas na África Subsaariana. E o pai já pensa em contratar um professor particular de gê e tupi para o menino tirar o atraso na escola.

Esses são alguns dos itens dos currículos a ser aplicados pelo MEC com a iminente aprovação da "Base Nacional Comum Curricular", uma reforma do ensino destinada a fazer do brasileiro um povo politicamente correto. No país dos novos comissários do pensamento, só interessam a herança ameríndia e africana, a luta das mulheres, os direitos das minorias e outros quesitos cuja importância ninguém discute, mas que os donos do poder julgam ser de sua exclusiva propriedade.

Acusam-se os historiadores brasileiros, por exemplo, de nunca terem dado atenção suficiente à questão indígena e negra. Mas isso não é verdade. Há bibliotecas abarrotadas de livros sobre a África, o tráfico, a vida em cativeiro e como, contra todas as probabilidades, a cultura negra sobreviveu e se impôs junto à cultura "oficial" no Brasil. Os indígenas também têm vasta bibliografia, com destaque para os livros sobre as tribos da Guanabara –como o recente e monumental "O Rio Antes do Rio", de Rafael Freitas da Silva, cuja dedicatória é reveladora: "Aos nossos gregos, os tupinambás".

Mas não importa. O MEC decidiu que é preciso rever tudo, o que fará com que milhões de livros didáticos se vejam superados e multidões de professores tenham de se reciclar ou ser substituídos.

O jeito é problematizar a questão.

Elogio da dialética

A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
Os dominadores se estabelecem por dez mil anos.
Só a força os garante.
Tudo ficará como está.
Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
No mercado da exploração se diz em voz alta:
Agora acaba de começar:
E entre os oprimidos muitos dizem:
Não se realizará jamais o que queremos!
O que ainda vive não diga: jamais!
O seguro não é seguro. Como está não ficará.
Quando os dominadores falarem
falarão também os dominados.
Quem se atreve a dizer: jamais?
De quem depende a continuação desse domínio?
De quem depende a sua destruição?
Igualmente de nós.
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o "hoje" nascerá do "jamais"
Berthold Brecht

A Lava Jato é o impeachment

O juiz Sergio Moro derrubou a manobra da Odebrecht que tentava desqualificar os documentos bancários enviados por procuradores suíços à Lava Jato. Após uma retificação de procedimento, eles continuarão valendo como prova. É uma dor de cabeça tentar sabotar quem conhece as leis. Por isso, a maior operação anticorrupção da história do país está completando dois anos de vida. Até o STF já tentou pulverizá-la. É inútil.

Charge O Tempo 27/02

O Brasil continua afogado no conto de fadas do oprimido – e, agora que Lula está no centro das investigações, a temperatura vai subir. Do já famoso e vexaminoso “manifesto de juristas” montado pelos advogados da Odebrecht, que comparava Moro aos trogloditas da ditadura, ao choro de petistas e seus artistas de aluguel contra a “criminalização” do filho do Brasil, assiste-se a uma rajada de tiros n’água. O estoque de clichês populistas não acaba – o que pode acabar é a proverbial paciência da opinião pública para engoli-los.

Um dos ministros fisiológicos da coleção de Dilma Rousseff declarou, numa das faxinas fantasiosas da presidente, que só deixaria o cargo debaixo de tiro. Acabou saindo por bem – ou melhor, por muito bem: colaborou com o show da faxineira e negociou com ela um substituto de sua gangue, para continuar a sucção que ele iniciara. Assim é o teatro dos pobres milionários. Na vida real, quem só sairá de seu caminho debaixo de tiro é Sergio Moro.

A Lava Jato já tinha revelado ao Brasil o desenho do petrolão antes da reeleição de Dilma. Até os maiores críticos do PT apostavam que, se a presidente ganhasse a eleição, a operação esfriaria. É o país acostumado às CPIs flácidas e às investigações que só sobrevivem enquanto o escândalo está nas manchetes. Aí vieram Sergio Moro e a equipe de procuradores e agentes federais da Lava Jato desmentir a teoria da vida mansa para quem tem costas quentes. Desta vez não foi a bravura da imprensa, nem uma mulher traída ou um sócio roubado quem empurrou a depuração em frente: foi a virtude de um grupo de pessoas que trabalham de verdade. O Brasil está se olhando no espelho e não está se reconhecendo.

Pois é esse pedaço de Brasil sério e raro, que não está fazendo nada além de trabalhar direito, sem partidarizações ou jogos de influências ocultas, que agora está sendo caçado a céu aberto como peru em véspera de Natal. Claro que os caçadores são todos bonzinhos, sofridos e vítimas do peru ao qual tentam degolar. É a especialidade da casa. Você ainda vai ver muitas “reportagens” plantadas por essa elite cultural parasitária acusando a Lava Jato e Sergio Moro de arbitrariedades, condutas abusivas e caça às bruxas. O choro é livre. Como já foi dito aqui, Moro e sua devassa só são paráveis à bala. Espera-se que a coalizão da vadiagem progressista ainda não tenha incorporado o bangue-bangue a seu ideário sublime.

Mas há um único e grave equívoco associado à Operação Lava Jato. E é este equívoco que custa mais caro ao país no momento: o bando que engendrou o monumental sistema de roubo do Estado em favor de um partido continua mandando no Brasil. E mandando turbinado pelo dinheiro roubado. Nunca se viu nada igual, em lugar nenhum do mundo. Uma devassa com a proporção de um tsunami varrendo uma república inteira, sem desalojar do topo dela o grupo responsável pela bandalheira revelada.

A correção desse equívoco é urgente e óbvia, embora o país do Carnaval pareça não se dar conta: falta um pedido de impeachment de Dilma Rousseff baseado na Lava Jato.

O gigante não sabe se samba ou se dorme – sua única certeza é cair em todos os truques do Supremo Tribunal companheiro para proteger a presidente em estado vegetativo. A ideia é esperar a paralisia e a recessão chegarem ao nível do pré-sal? É muito sofrimento ficar carregando o TCU como um vaso de porcelana para que a acusação das pedaladas fiscais não se esfarele no caminho. Ou torcendo para que Eduardo Cunha desembarace as malandragens do companheiro Barroso.

Dilma é a representante oficial do grande projeto – de Lula, de Dirceu, de Vaccari e de toda a teia montada com as marionetes petistas na diretoria da Petrobras. Alguém duvida disso? Os dois anos de literatura da Lava Jato são mais do que suficientes para embasar esse pedido. Acorda, Brasil.

O PT, na oposição

O Programa Econômico Paralelo apresentado pelo PT não é esdrúxulo apenas pelo que contém, mas também pelo que não contém.

A primeira proposta é a “forte redução dos juros básicos”. É a derrubada na marra, como se a política monetária só fosse relevante pelos seus efeitos sobre as despesas da dívida e como se a inflação não existisse. É o que deu errado em 2011 pelo que a economia vem pagando até hoje. Em nenhum momento o PT se pergunta o que fazer com o regime de metas e o que fazer para combater a inflação, que vai esmerilhando o salário do trabalhador à proporção de mais de 10% ao ano.

Quando reivindica o uso de reservas externas para dar cobertura a investimentos de infraestrutura, o PT desconsidera duas coisas: que a transformação das reservas em reais (para pagamento das despesas com projetos no Brasil) produz uma correspondente emissão de moeda cuja esterilização exigiria aumento da dívida interna. E ignora que o atual estoque de reservas opera como âncora das contas externas. Seu uso para outros fins fragiliza a economia, num momento de forte crise interna.

A maioria das 16 propostas tem por objetivo aumentar a arrecadação. Mas produz mais espuma que substância, como a taxação pelo IPVA de aviões e barcos, cobrança de imposto progressivo sobre a posse de glebas improdutivas, e adoção de tributação sobre grandes fortunas.

Mas, ao reivindicar reajuste de 20% sobre as despesas com Bolsa Família e a expansão de outros gastos sociais, o resultado imediato é aprofundamento do rombo fiscal e não o contrário.

Embora reclame que a política econômica do governo Dilma despreza a obtenção de resultados imediatos e que, por isso, é preciso cuidar de apressar soluções, a maioria das propostas do PT exige para sua aprovação longas e complicadas tramitações no Congresso. Nada aí tem a ver com combate aos incêndios de agora.

Esse programa alternativo não diz nenhuma palavra sobre os grandes problemas da economia. Não mostra, por exemplo, como evitar que a dívida pública dispare para 80% ou 90% do PIB. Como ignora a prostração da indústria, provocada pelos equívocos do próprio governo PT, não aponta nenhuma medida destinada a seu resgate. Em nenhum momento indica como recuperar a Petrobrás e a maioria das estatais que foram dilapidadas pela corrupção e por políticas desastradas dos dois governos do PT. Também não traz soluções para o rombo da Previdência Social que, em 2015, chegou a R$ 158 bilhões e deverá crescer inexoravelmente nos próximos anos.

Enfim, se esse programa é tão bom, por que não foi adotado nos últimos 14 anos de governo PT?

No entanto, o fato mais relevante é a crescente hostilidade do PT ao governo. Embora seja o mais importante partido da base, vem tomando posições radicalmente contrárias à política econômica adotada, como se pretendesse livrar-se de um peso morto.

É uma atitude que sangra ainda mais o governo Dilma, como se a atual postura do partido seja forçá-la não propriamente a mudar a política, mas a desistir de governar – se é que a atual inapetência do governo Dilma signifique governar.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

PT, 36 anos

O PT, fulminado por uma avalanche de escândalos que não consegue explicar – e que, a rigor, dispensam explicações -, socorre-se num argumento único: é vítima de uma sórdida campanha da mídia para criminalizá-lo.

Ora, se há uma instância em que o partido, que celebra este fim de semana seus 36 anos, ainda encontra defensores é exatamente na mídia - impressa, falada, televisada e digitalizada (esta sustentada com dinheiro público).


A mídia não criminalizou o PT – e, sim, o PT criminalizou a política. Mais: indiferente às falcatruas fiscais do governo Dilma e às denúncias de que sua reeleição foi nutrida com dinheiro roubado da Petrobras, alega que a tentativa de depô-la, via impeachment ou via TSE – ou seja, dentro das normas do Estado democrático de direito -, tem como fundamento evitar a eleição de Lula em 2018.

O partido já foi mais inteligente em seus argumentos. Antes de mais nada, o Ibope acaba de constatar, em pesquisa, que confirma as anteriores, que 61% dos brasileiros asseguram que, em hipótese alguma, votariam em Lula. Ainda que todos os demais votassem – e não é o caso -, não teria como se eleger.

O panelaço de terça-feira, em que Lula falou em rede de TV, demonstra que o Ibope não errou – foi até moderado.

Nenhum partido e nenhum presidente da República foram mais festejados pela imprensa que PT e Lula, não obstante terem chegado ao poder não exatamente imaculados.

O prontuário começou bem antes da chegada ao Planalto, com o assassinato dos prefeitos Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT (Campinas), em setembro de 2001, e de Celso Daniel (Santo André), em janeiro de 2002, casos ainda hoje à espera de desfecho. Em ambos, são nítidas as digitais do PT.

Dois meses depois de Lula assumir a presidência da república, em março de 2003, estourou o escândalo Waldomiro Diniz. Era o subchefe da Casa Civil, homem de confiança de José Dirceu, que desempenhava a função de “articulador parlamentar”. Foi flagrado pedindo propina ao bicheiro Carlos Cachoeira.

Na sequência, vieram o Mensalão e o Petrolão, que, a rigor, compõem um só enredo: a rapina ao Estado, em parceria com um pool de empresários delinquentes. Corrupção sistêmica, algo inédito mesmo para os podres padrões da república brasileira.

Há ainda diversas caixas-pretas a serem abertas: Eletrobrás (que o STF tirou das mãos do juiz Sérgio Moro), BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica, fundos de pensão etc.

Em cada uma dessas instâncias, o governo se move para impedir qualquer hipótese de investigação, o que já é em si uma confissão antecipada de que oculta falcatruas.

O PT inaugurou o roubo do bem. Seria diferente dos convencionais, pois teria destinação social. Se sobrou um troco para um tríplex ou um sítio, é bobagem, mera gorjeta para quem, afinal, colocou “30 milhões de pobres na classe média”. Pouco importa se eles - se é que lá estiveram - já fizeram a viagem de volta.

A depressão econômica está acabando com a própria classe média, mas a culpa, claro, é da crise internacional (que antes era apenas “uma marolinha”), não do governo.

Não só o povo não viaja mais de avião, mas também o personagem criado pelo PT, o burguês que “não gosta de sentar ao lado do povo”. Nisso, a crise é democrática: liquida a ambos.

Coerência é palavra ausente do glossário petista. Depois de arrombarem a Petrobras, indignam-se com os que a querem salvar. É o caso do projeto do senador José Serra, aprovado esta semana pelo Senado, que estabelece que, a critério do governo, a empresa se desobriga de participar das prospecções do pré-sal.

O projeto salva a Petrobras, mas os seus algozes, a pretexto de defendê-la, alegam o contrário, fazendo o papel do verdugo que se abraça ao cadáver que acabou de produzir.

Graças ao PT, a Petrobras deve mais do que vale e suas ações estão cotadas ao preço de um guaraná. Lula, às voltas com o Código Penal, acha, no entanto, que o país, hoje, “inspira mais confiança”. Os especialistas preveem que a Petrobras levará mais ou menos uma década para retornar ao lugar que já ocupou – ela e o país. E isso, claro, se o ambiente político mudar radicalmente.

Vai mudar, não há dúvida. O quer não se sabe é a que preço. A resistência do governo em reconhecer os estragos e, mais que isso, a ausência de remédios para os males que perpetrou, torna o processo mais penoso e preocupante.

A melhor saída seria a sugerida pelo ministro Marco Aurélio, do STF: renúncia dos presidentes da república, da Câmara e do Senado e convocação imediata de eleições. Mas falta grandeza aos protagonistas – ou coragem para responder judicialmente a seus erros sem o guarda-chuva do poder. Aguardemos.

Ruy Fabiano

A tentação de si mesmo

A perdição deles é aquilo que alguém chamou, tempos atrás, de a tentação de si mesmos. “Esse momento em que olham ao redor, milhares de cabecinhas lá abaixo, e pensam: ‘Coitados, o que seria de todos eles se eu não estivesse aqui’. Ou, inclusive: ‘O que teria sido de todos eles se eu não tivesse estado’. Ou, por acaso: ‘O que será de todos eles quando eu já não estiver’. Ou quem sabe pensem: ‘Ai, que difícil ser o único que...’. Ou talvez, quem sabe: ‘Por que será que só eu consigo?’ O fato é que, pensem o que pensarem, acreditam que o estado — das coisas, das mudanças, da sua... revolução? — são eles, e que sem eles não há nada. Então, se contradizem no mais fundo e cedem — prazerosamente cedem — à tentação de si mesmos”.

O governo mais bem-sucedido — o mais sério, o mais autêntico — do populismo latino-americano acaba de perder o referendo que convocou porque seu chefe não se resignava a ceder o lugar a outro. Após 10 anos de Governo e eleições triunfais, Evo Morales caiu na armadilha e sofreu sua primeira derrota. Seu partido continua sendo o mais forte, mas agora seu candidato para a próxima eleição presidencial não será uma escolha, e sim um substituto, uma opção de segunda, suspeita de agir como fantoche e passível de perder por causa disso. O mesmo aconteceu com Cristina Kirchner na Argentina, sem ir mais longe.

Independentemente dos resultados, o curioso é que tentem repetidamente. Que senhoras e senhores que enchem a boca com povos e militâncias e movimentos sejam incapazes de confiar nos seus povos, nas suas militâncias, nos seus movimentos: que passem anos no poder sem conseguir — sem querer — formar alguém que possa substituí-los, anulando quem puder substituí-los, como se a condição de existência das suas políticas fossem as suas pessoas. Como se não pudessem aceitar a primeira regra da democracia verdadeira: que não há reis, e sim representantes. Que ninguém é indispensável, que o coletivo importa muito mais que o indivíduo.

Falam de esquerda; frente às diversas tentativas — incipientes, difíceis — de modificar as formas de fazer política, sua vontade de controle e seu personalismo os situam na direita mais conservadora. Dão argumentos aos seus inimigos, os contrapõem às suas sociedades, os derrotam, e nem assim eles se resignam a confiar nos seus: é mais forte que eles, homens fortes — mesmo que sejam mulheres. Falam de esquerda; se for para procurar parentescos com eles, talvez seja mais fácil encontrá-los num partido espanhol que está prestes a perder o Governo porque seu chefe não quer deixar o cargo para seus companheiros: o mais rançoso da política mais rançosa.

Os imbecis de Umberto Eco

Em memória de Umberto Eco, vamos lembrar aqui uma reflexão recente do mestre da semiótica, que em seus estudos, como o marcante “Apocalípticos e Integrados”, deu um verniz de nobreza às manifestações da cultura de massas, como as histórias em quadrinhos ou o cinema.

Numa cerimônia realizada em 2015 na Universidade de Turim, onde ensinava, Eco foi impiedoso com as consequências do uso indiscriminado das mídias sociais para discussões supostamente edificantes:

“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”.

Esta semana tivemos o exemplo mais sólido do que pode acontecer quando a miséria intelectual do debate político brasileiro se mistura ao direito de fala concedido aos milhões de imbecis. Só podia dar no que deu: um espetáculo de degradação e desinformação de fazer corar, como se dizia antigamente, um frade de pedra.

Vamos passar por cima e desconsiderar, para efeitos de discussão do uso desqualificado das redes sociais, dos mexericos da Candinha que envolveram a vida privada de políticos de relevo, com discussão sórdida de detalhes que só interessam aos envolvidos e que não trouxeram a mínima evidência do uso de dinheiro público.

Baixarias à parte, houve um outro tema que não envolvia alcova, mas que demonstra, de maneira chocante, a superficialidade e a desinformação que pautam grande parte da opinião pública assim dita “engajada” numa guerra de palavras de ordem e slogans sem pé nem cabeça em torno de um assunto de grande interesse para o País: a exploração dos campos de petróleo das províncias do pré-sal, que os dois últimos presidentes chamaram de “bilhete premiado”.

Até as rochas submersas sabem que os governos petistas se agarraram a essa descoberta como se ela fosse a lâmpada de Aladim da redenção nacional. Fizeram de tudo com o pré-sal: tiraram fotos com as mãos sujas de óleo (ah, se fosse só de óleo…), gastaram por conta, resolveram os problema de educação até o fim dos tempos, e só não dançaram fantasiados de barril de petróleo na Praça dos Três Poderes porque Shigeaki Ueki, o “japonesinho do Geisel”, já tinha prometido fazer isso antes.

No meio dessa euforia, o governo criou um marco regulatório substituindo o sistema de concessão pelo de partilha, e sacou da algibeira uma decisão insensata, que foi a de OBRIGAR a Petrobras a comandar a operação de todos os campos, com uma participação mínima de 30%.

A Petrobras, que atualmente deve 5 vezes mais do que vale, não tem, neste momento, condições de cumprir a OBRIGAÇÃO. Portanto, sem dinheiro para cumprir o que manda a lei, a Petrobras não pode licitar campos porque não tem dinheiro para investir neles. Obviamente, a exploração dos campos, prejudicada além de tudo pela queda brutal dos preços do óleo cru, diminuiu de ritmo.

O projeto de lei de José Serra, aprovado no Senado, OBRIGA a Petrobras a ceder os campos? Não, ele só a DESOBRIGA de participar e comandar a operação de todos e com um mínimo OBRIGATÓRIO de 30%. Se União acha que a empresa tem condições de entrar com 30%, tudo bem. A decisão é da União. A lei aprovada pelo Senado não prejudica em nada a Petrobras. Pelo contrário: lhe dá mais alternativas para uma escolha racional, que mais interesse à empresa naquele momento.

As redes sociais, povoadas de imbecis ideológicos, desenterrou dos seus baús de memórias afetivas slogans velhos e bichados como “entreguistas" e condenou a união de bárbaros pela “entrega" do pré-sal aos “agentes do imperialismo”.

Pode haver coisa mais enferrujada do que essa? Os “patriotas" do arco da velha preferem ficar sem petróleo nenhum do que abrir mão de seus mitos ideológicos.

Não existe maneira mais fácil de identificar os imbecis de Umberto Eco.

Filmes de terror

É preciso estômago para enfrentar um programa eleitoral na tevê. Os políticos costumam se expressar mal. Os partidos têm pouca credibilidade. Os discursos não interessam a quase ninguém. Com a popularização da internet, a propaganda obrigatória ficou ainda mais obsoleta. Em pouco tempo será peça de museu, como as urnas de lona e as cédulas de papel. Enquanto isso não acontece, o telespectador é submetido ao espetáculo dos marqueteiros. Nesta semana, em dose dupla. Na terça, foi ao ar o programa do PT. Hoje será a vez do PMDB. Os dois partidos tiveram direito a dez minutos em horário nobre, entre a novela e o telejornal.

Os petistas investiram no discurso motivacional. “Quem já viu o Brasil superar momentos muito piores sabe olhar o presente com coragem”, diz uma locutora no estúdio. “Você tem que ser otimista, tem que ter esperança”, emenda uma atriz no papel de vendedora de cachorro-quente. “A gente não pode entregar os pontos”, complementa uma falsa vendedora de biscoitos.


Pela narrativa do PT, a crise se limita a um problema de baixa autoestima. Se o povo cantar o hino e recuperar o otimismo, o país voltará a crescer. Adeus, recessão.

Na propaganda do PMDB, que já está na rede, o clima é de filme de terror. “Enquanto a economia desanda, continuamos desiludidos”, diz uma atriz vestida de preto. “O desemprego cresce sem parar, e vem de mãos dadas com a carestia. A combinação não poderia ser pior”, continua.

Poderia sim. Na sequência, entram em cena os políticos do partido, num desfile macabro de investigados na Lava Jato e deputados de cabelo pintado de acaju.

Os dois programas são exagerados, um para cada lado. O do PT vende um mundo cor-de-rosa. O do PMDB fala de um país que não tem mais solução. Nem parece que os partidos são sócios do mesmo governo, disputaram a eleição juntos e ainda dividem verbas e ministérios.