domingo, 28 de fevereiro de 2016

O PT, na oposição

O Programa Econômico Paralelo apresentado pelo PT não é esdrúxulo apenas pelo que contém, mas também pelo que não contém.

A primeira proposta é a “forte redução dos juros básicos”. É a derrubada na marra, como se a política monetária só fosse relevante pelos seus efeitos sobre as despesas da dívida e como se a inflação não existisse. É o que deu errado em 2011 pelo que a economia vem pagando até hoje. Em nenhum momento o PT se pergunta o que fazer com o regime de metas e o que fazer para combater a inflação, que vai esmerilhando o salário do trabalhador à proporção de mais de 10% ao ano.

Quando reivindica o uso de reservas externas para dar cobertura a investimentos de infraestrutura, o PT desconsidera duas coisas: que a transformação das reservas em reais (para pagamento das despesas com projetos no Brasil) produz uma correspondente emissão de moeda cuja esterilização exigiria aumento da dívida interna. E ignora que o atual estoque de reservas opera como âncora das contas externas. Seu uso para outros fins fragiliza a economia, num momento de forte crise interna.

A maioria das 16 propostas tem por objetivo aumentar a arrecadação. Mas produz mais espuma que substância, como a taxação pelo IPVA de aviões e barcos, cobrança de imposto progressivo sobre a posse de glebas improdutivas, e adoção de tributação sobre grandes fortunas.

Mas, ao reivindicar reajuste de 20% sobre as despesas com Bolsa Família e a expansão de outros gastos sociais, o resultado imediato é aprofundamento do rombo fiscal e não o contrário.

Embora reclame que a política econômica do governo Dilma despreza a obtenção de resultados imediatos e que, por isso, é preciso cuidar de apressar soluções, a maioria das propostas do PT exige para sua aprovação longas e complicadas tramitações no Congresso. Nada aí tem a ver com combate aos incêndios de agora.

Esse programa alternativo não diz nenhuma palavra sobre os grandes problemas da economia. Não mostra, por exemplo, como evitar que a dívida pública dispare para 80% ou 90% do PIB. Como ignora a prostração da indústria, provocada pelos equívocos do próprio governo PT, não aponta nenhuma medida destinada a seu resgate. Em nenhum momento indica como recuperar a Petrobrás e a maioria das estatais que foram dilapidadas pela corrupção e por políticas desastradas dos dois governos do PT. Também não traz soluções para o rombo da Previdência Social que, em 2015, chegou a R$ 158 bilhões e deverá crescer inexoravelmente nos próximos anos.

Enfim, se esse programa é tão bom, por que não foi adotado nos últimos 14 anos de governo PT?

No entanto, o fato mais relevante é a crescente hostilidade do PT ao governo. Embora seja o mais importante partido da base, vem tomando posições radicalmente contrárias à política econômica adotada, como se pretendesse livrar-se de um peso morto.

É uma atitude que sangra ainda mais o governo Dilma, como se a atual postura do partido seja forçá-la não propriamente a mudar a política, mas a desistir de governar – se é que a atual inapetência do governo Dilma signifique governar.

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