O ex-presidente Lula durante encontro nesta quarta-feira com jornalistas e blogueiros.Heinrich Aikawa/Instituto Lula
Sua astúcia política lhe diz que o Brasil não vai bem. Em seu foro interno, está convencido de que isso está ocorrendo porque não lhe deram ouvidos. Sua receita econômica é simples: menos ajuste e mais crédito, mais crescimento, mais consumo, mais emprego, mais diálogo político. Seria tão simples assim?
O medo é de que os pobres que haviam começado a desfrutar do fruto proibido da abundância possam ser expulsos do paraíso devido à crise.
Está convencido de que voltaria a ganhar se fosse candidato, porque seria apoiado pelos pobres e pelos ricos ao mesmo tempo. Pelos pobres, porque continua vivo o axioma de que ninguém pode entendê-los como ele, que os ajudou a sair da pobreza. Pelos ricos, porque confiam em sua intuição política, e porque nunca foram tão ricos como quando ele estava no poder. Quando os bancos ganharam tanto?
Afirmou que atualmente é o palestrante mais bem pago pelas empresas, porque foi quem tirou "mais pobres da miséria". E as empresas precisam de consumidores.
Lula está chateado. Quer anunciar sua candidatura, que também resgataria o PT da crise, mas sabe que não pode nem deve, até ter a certeza de que sairá incólume das possíveis acusações contra ele na operação Lava Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro, de quem Lula depende, já que não goza mais de foro privilegiado.
Há quem tenha interpretado as declarações do ex-presidente aos repórteres como mais um blefe "à la Lula". É mais do que isso. Suas palavras indicam que quis se antecipar e fazer uma aposta. Quis jogar todas as cartas juntas.
Lula tem pressa e não se conforma com a espera de que algum de seus velhos amigos presos possa, com alguma declaração indiscreta, com alguma pequena ou grande acusação, bloquear seu caminho de volta à presidência.
A paciência não é o forte de Lula. Sua tática é o ataque, se adiantar para desmentir alguma coisa da qual ainda não tenha sido acusado.
E assim tem feito. Confessou sua inocência em público, se antecipando a possíveis acusações.
Mesmo enfraquecido politicamente, Lula ainda tem força eleitoral.
"Tenho endereço fixo, todo mundo sabe onde eu moro. Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta que eu. Nem dentro da Polícia Federal; nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem da Igreja Evangélica. Pode ter alguém igual, mas mais do que eu, duvido."
Não foi apenas um desabafo. Suas palavras, ditas diante da imprensa, soam como uma aposta, um desafio, o ponto final. Significam: "Parem de importunar com ameaças de acusações contra minha conduta, porque sou inocente de todos os lados".
Lula, com seu desafio, mandou um recado a todos os níveis da polícia e da justiça: é inútil que investiguem, porque não encontrarão nada contra ele.
Sua aposta é arriscada, mas está lançada.
Não é possível saber quanto tempo Lula ainda vai esperar para que a polícia, promotores, juízes e delatores declarem que ele está definitivamente fora das investigações.
Sua urgência para se livrar de qualquer acusação possível ou indiciamento é que a incerteza pode manchar seu nome dentro e fora do país, e diminuir sua influência político-eleitoral.
Tem urgência de que seu nome saia limpo da Lava Jato para poder anunciar seu retorno aos ringues.
Lula ainda se sente o rei da intrincada selva política brasileira. E continua sendo um presidente à sombra
Há até quem imagine que, se a polícia e os juízes não derem uma resposta rápida às suas exigências de sair ileso de possíveis acusações, Lula se antecipe anunciando sua candidatura como último desafio.
Seria como dizer: "Sou candidato porque estou certo de que não há nada oculto contra mim".
Aqueles que acreditam que o Lula briguento, apesar de todos os desafios contra sua inocência, chegaria pelo menos ferido, devido às condenações de tantos líderes de seu partido, podem estar errados.
Mesmo enfraquecido politicamente, Lula ainda tem força eleitoral. Pode ser dito do leão: que quando caminha pela selva ferido, os outros animais se afastam.
Ainda existe o medo de Lula.
Seu desafio pode ser arriscado, mas não seria ele caso se intimidasse, esperando sentado algum raio inesperado.
Lula ainda se sente o rei da intrincada selva política brasileira. E continua sendo um presidente à sombra, como sabe muito bem sua pupila, Dilma Rousseff.
O Brasil logo vai saber se Lula tem ou não razão. A crise aperta, e os brasileiros estão com pressa. Tanto ou mais do que ele.
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