Simbolicamente, a presidente também reduziu o seu salário e o dos integrantes do primeiro escalão em 10%. Em vez de R$ 30 mil, receberá R$ 27 mil. É uma decisão que não leva a lugar nenhum nem serve para aliviar o desgaste que a mandatária do país vem sofrendo diariamente, ainda mais quando, um dia antes do anúncio da reforma mais que atrasada, a gasolina, assim como o dólar, bate a casa de R$ 4 em algumas regiões do país.
Em outro momento, reduzir o próprio salário até seria um movimento interessante para o marketing pessoal da presidente, porém, com tantas catástrofes na economia e na política do país, a iniciativa terá impacto zero.
O governo que aí está soma 31 pastas ministeriais. É o menor número desde o governo Lula, mas ainda é maior que no último ano de Fernando Henrique Cardoso, que conduziu o governo com cinco ministérios a menos. A reforma, portanto, tem somente o verniz da austeridade, funcionando apenas para abrir mais espaço para o PMDB.
Os “mui amigos” têm agora sete ministérios, sendo que um deles será ocupado por um conhecido cupincha do presidente da Câmara.
Resta saber se o aceno do Planalto será suficiente para acalmar aquele que é tido como o inimigo mais beligerante da presidente e de seus aliados. Pelas declarações de ontem, parece que não.
A reação de Cunha é algo imprevisível. Depois de negar veementemente a existência de contas no exterior em seu nome, Cunha passa pelo constrangimento de ser desmascarado por procuradores suíços, que confirmaram não só uma, mas quatro contas bancárias sob controle dele e de sua esposa.
Portanto, apesar de todo o esforço para evitar um processo de impeachment, Dilma vê sua situação se degradar ainda mais. Não há reforma ministerial que sirva de vacina para o cachorro louco que Eduardo Cunha se revelará.
É bom lembrar que está nas mãos dele a abertura de um processo de cassação da presidente. Até aqui ele se valeu dessa chantagem para acuar o governo e se fortalecer, porém, na iminência de também perder o mandato, a blindagem de Dilma pode não lhe servir mais.
O risco de Eduardo Cunha levar todo mundo para o mesmo buraco está maior. Diante dessa realidade, a reforma ministerial foi mais um tiro no vácuo dado por uma presidente que não consegue achar um caminho viável para ela e para o país.
Heron Guimarães
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