Pois bem, um grande jornal de São Paulo resolveu publicar uma página inteira sobre “Que horas ela volta?”. Não quero ser agressivo com ninguém, nem contribuir para o ambiente medonho que vivemos. Só direi o seguinte: antigamente, os grandes jornais tinham críticos de cinema que sabiam do que estavam falando, tinham conhecimento, sensibilidade. Hoje... Nem sei o que dizer. Um dos articulistas do grande jornal de São Paulo entendeu o filme como um panfleto da era Lula e escreveu que alguns dos personagens principais “não passam de peças de propaganda governista”...
Espantoso. A violenta disputa política em curso no país está contaminando tudo, absolutamente tudo. É o que acontece, de forma nítida, com o noticiário econômico. Não há dúvida de que a situação é muito precária e vai continuar precária por algum tempo. Mas há aspectos positivos que recebem pouca ou nenhuma atenção.
Um exemplo: o forte ajustamento das contas externas em 2015. Durante muitos anos, o Brasil acumulou grave problema de sobrevalorização da moeda nacional. A moeda forte prejudicou muito a indústria do país e foi gerando um desequilíbrio crescente e perigoso nas contas externas do país.
Agora, a depreciação do real, combinada com a retração da demanda interna, está produzindo uma correção rápida do desequilíbrio externo, diminuindo nossa vulnerabilidade. E a depreciação cambial vai ajudar a tirar a economia da recessão, estimulando exportações e setores que competem com importações.
É verdade que parte dessa melhora das contas se deve à recessão, sendo portanto “cíclica” e não “estrutural”. É verdade, também, que a depreciação foi muito intensa num período curto, gerando problemas para os que têm dívida em moeda estrangeira. Mas o Banco Central tem reservas internacionais muito elevadas e outros instrumentos para deter com sucesso movimentos exagerados — sobretudo se tiver a ajuda de uma estabilização da situação política e de progressos em matéria de ajustamento das contas públicas.
Sobre as contas públicas, aliás, o que se afirma e escreve envolve frequentemente exageros monumentais. “Caos”, “descalabro”, “tragédia fiscal” são algumas das expressões repetidas incessantemente em artigos, reportagens e entrevistas. O Brasil tem, sim, um problema fiscal, agravado pela crise política. Mas há quem compare o Brasil à Grécia! Quem o faz não tem a mais remota ideia do que foi a calamitosa irresponsabilidade dos governos gregos no período que antecedeu à crise internacional de 2008.
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