"Aqueles que vencem, não importa como vençam, nunca carregam vergonha”
Maquiavel (Citado pelo jornalista e escritor Roberto Saviano, na introdução do livro “Gomorra”, sobre fatos e métodos de atuação das máfias que agem em Nápoles e em toda região da Campânia, na Itália pós Operação Mãos Limpas.)
Amaldiçoado seja quem pensar mal dessas coisas (honni-soit qui mal y pense). Digo isso, a exemplo dos franceses, a propósito da frase do pensador italiano e sua contextualização, anotadas no alto deste artigo. Isso se impõe nesta semana da cabeça cortada, com desonra, do ministro da Saúde, Arthur Chioro; das quedas não menos constrangedoras do enjeitado ministro da Educação Renato Janine; e do Chefe da Casa Civil, Aloízio Mercadante. Este, recebeu de volta, como consolo (ou punição de antigo exame de segunda época?) da madrinha no poder, a pasta da Educação na Pátria Educadora.
"Caiu para cima" (no caso de Mercadante, que perde o lugar para o "galego" Jaques Wagner, como Lula sempre desejou), como se dizia com finíssimo humor (e inegável ponta de maldade) na redação da sede da VEJA, em São Paulo - quando eu respondia pela sucursal da revista semanal na Bahia e Sergipe. Era assim nos desfechos de jogos de poder e interesses semelhantes aos da "reforma" do periclitante segundo mandato do governo petista de Dilma (ou seria do terceiro mandato do ex?), neste estranho e imprevisível outubro de 2015. Século XXI, podem crer!
Sem falar dos penduricalhos da incrível e manicomial barganha que se anuncia aos solavancos de um governo e de uma mandatária que despencam a olhos vistos e os números da mais recente pesquisa Ibobe/CNI comprovam. E, no meio do desespero diante de um provável afogamento, se apegam a qualquer boia, mesmo as mais furadas.
A humilhação de Chioro (também de Janine e Mercadante) é emblemática. Não se esgota na simples constatação de mais um ato de descortesia e descontrole emocional da presidente Dilma Rousseff, outra vez à beira de um ataque de nervos. Na verdade, apenas repetem-se os ritos de um conhecido estilo petista de mando e de uma contumaz na especialidade de destratar figuras públicas sob o seu comando político, administrativo ou principalmente pessoal.
Que o diga, por exemplo, o ex-governador da Bahia, Waldir Pires, atropelado e derrubado do Ministério da Defesa, do Governo Lula, praticamente aos gritos e desacatos. A turma da Casa Civil, que Dilma comandava então, de dedo em riste acusatório no rosto de um dos mais honrados e expressivos nomes da política e da administração pública na Bahia e no Brasil, dos últimos 60 anos.
Como pano de fundo e cortina de fumaça, da forjada "crise dos aeroportos". Capa de disfarce para as tenebrosas transações que se seguiriam, destampadas para a sociedade no processo do Mensalão e, atualmente, nas investigações, processos e prisões de corruptos e corruptores de todo tipo, metidos no escândalo de escala mundial da Operação Lava Jato.
Por telefone, sem um "muito obrigado” sequer, a mandatária despachou Arthur Chioro, do ministério de maior orçamento federal, gestor do maior sistema público de saúde do mundo. O estratégico Ministério da Saúde tornou-se assim, "a grande novidade da barganha política do Governo na crise atual", assinalou o jornal espanhol El Pais (Edição do Brasil), em contundente e esclarecedora reportagem sobre os dias que correm em Brasília.
A pasta, que nos últimos anos tem sido gerida pelo PT, por ser considerada estratégica para as políticas sociais, foi parar nas mãos do deputado Marcelo Castro, aliado PMDB, do time de Eduardo Cunha, maior inimigo de Dilma no Congresso. em troca de um improvável apoio político que permita alguma governabilidade, registra a reportagem. O resto é o que que se sabe, ou o que ainda está a caminho nos próximos capítulos desta tragicomédia brasileira.
Antes do ponto final, lembro do professor Cristóvão Buarque, ministro da Educação no primeiro governo Lula, há 11 anos. Então, nome de proa da elite intelectual fundadora do PT. "Do peito do homem”, se dizia na época. Membro da comitiva presidencial à Índia, em 2004, Buarque se antecipou em dois dias na viagem, para lançar um livro em Portugal. Em Lisboa, o atual senador pelo PDT e um dos nomes mais cintilantes do Congresso, recebeu um telefonema de Lula, comunicando que estava dispensado da pasta. Precisava da Educação, para concluir uma negociação política e matar a fome insaciável de cargos do PMDB, que ameaçava inviabiliz ar a sua gestão.
”Eu lamento muito que ela (Dilma) tenha feito isso, mas fico muito contente de ter companhia agora”, comentou o senador. De Buarque a Chioro, portanto, nada de novo sob o céu (ou inferno) dos governos do PT. Só um jeito próprio , arrogante e mal educado de moer ministros. “Vida que segue”, concluiria João Saldanha. Repito o mestre de jornalismo, política e vida, saudoso colega no Jornal do Brasil.
Quanta falta ele faz!
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