Como um cometa da política, atravessou o cenário brasileiro e desapareceu no horizonte das medidas judiciais. Um dia as provocações contra os poderes institucionais deixaram de assumir o caráter irresponsável para se transformar em pesadelo. Conheceu os limites. Disse que não mais cumpriria decisões judiciais. Mas terminou sentado no banco dos réus. Naquele instante, o Brasil deixou de pertencer ao reino do realismo fantástico da América Latina para emergir como sociedade razoavelmente organizada sob o controle das leis. Bolsonaro é um veterano frequentador de tribunais. Para ele, é apenas mais um degrau no caminho do esquecimento. A Ação Penal 2.668 abre uma nova página na história do país. Tempo novo, desconhecido e ainda por ser explorado. As reações serão fortes, a começar pela obtusidade do atual governo norte-americano.
Ele está inelegível, preso em casa e com tornozeleira eletrônica à espera da condenação. Haverá esforço contrário, de forças políticas que se sentem prejudicadas pelo simples fato de que, no Brasil, existem leis que devem ser aplicadas a qualquer cidadão. Há uma antiga tentativa de votar algum tipo de anistia para os que participaram do movimento de 8 de janeiro de 2023. Quem esteve por perto viu que não foi um passeio no parque, nem uma brincadeira de bêbados no domingo. Foi algo profissional, como o arrombamento do teto do Congresso, que dá acesso ao Salão Verde e foi alcançado graças a uma escada de cordas. Coisa de profissional. Antes ocorreu o episódio da bomba no Aeroporto de Brasília. Os fatos foram largamente expostos. Fugir deles é covardia. Eles são de uma clareza capaz de afetar até olhos menos sensíveis.
O fato é que a República brasileira é, desde seu primeiro dia, uma cascata de crises institucionais, que sempre opuseram civis a militares. Há uma sucessão incrível de golpes, tentativas de golpes e contragolpes ao longo dos anos republicanos no Brasil. O sistema presidencialista é uma fábrica de crises. A Ação Penal 2.668 abre a perspectiva única de que haja uma inflexão na história política do Brasil e o país se encontre com suas realidades. A presença de generais de alta patente no banco dos réus é mais relevante que o eventual destino de Jair Bolsonaro. O país, afinal, coloca-se diante de seu verdadeiro problema institucional. Militares e civis precisam aprender a conviver no mesmo ambiente político.
O inimigo brasileiro é externo. Não está dentro do país, embora sempre existam traidores de todos os matizes. A moderna questão nacional é o tráfico internacional de drogas, armas e de dinheiros suspeitos que frequentam altas rodas da sociedade. O acordo entre União Europeia e Mercosul, que está na véspera da aprovação, terá força para modificar e modernizar a economia dos países do continente. Nele há uma cláusula democrática. O Brasil precisa se livrar do passado autoritário e se preparar para o novo tempo, que exige do governante decisões rápidas e precisas. A missão da geração que realizou a Constituinte de 1988 se concluiu no julgamento da Ação Penal 2.668. A partir de agora, há um mundo inexplorado à frente dos políticos brasileiros. Compete a eles aproveitar ou não essa oportunidade única.

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